Língua Portuguesa: a origem da nossa língua
Sempre fomos uma língua que sofreu influências de outras culturas. As línguas mais puras são as menos importantes. Língua Portuguesa: a origem da nossa língua.

O leitor Paulo Vieira enviou-me esta mensagem:
Ouvi-o na Prova Oral afirmar que a nossa língua vem do galego e estava agora a ler uma notícia do Público sobre os Lusíadas, a que fez referência no artigo da língua bastarda, e nessa notícia é dito que a obra tem uma forte influência do castelhano, língua que aparentemente era muito usada na corte.
Fiquei interessado e gostava de esclarecer quais as origens da nossa língua. Recomenda algum livro sobre o tema?
No final deste artigo, deixo algumas sugestões de leitura.

Mas antes, porque esta compulsão para escrever parece não ter cura, vou tentar explicar aquilo que sei (ou penso saber). Mas tenho de avisar: não sou linguista histórico. Sou um tradutor e professor que estuda linguística por motivos práticos e junta a isso uma paixão pela disciplina.

Pois bem: a verdade é que gosto muito da história da língua — e julgo ser este um tema que nos interessa a todos. Com base no que fui aprendendo ao longo dos anos, mas também com base na leitura dos livros e artigos que refiro no final, aqui fica o meu resumo (os erros, claro, serão meus e não dos livros e artigos — ressalve-se!).
O português vem do galego?

Enfim: todos nós que dizemos falar português e todos os que dizem falar galego falamos qualquer coisa que teve origem nos falares da Galécia, ali no noroeste da Península.
Durante séculos, o latim trazido pelos soldados e colonos romanos e adquirido por toda a população foi sofrendo transformações — não as podemos ver em tempo real, porque ninguém as registava ou escrevia, mas, muitos séculos depois, quando finalmente a língua começou a ser escrita, havia nesse território uma língua já formada, com verbos próprios, com formas próprias, com características que a identificam e a distinguem das outras línguas em redor.

O que chamavam as pessoas a essa língua que já era, em muitos aspectos, a nossa? Não lhe chamavam nem galego nem português: chamavam-lhe linguagem, com toda a probabilidade. Era a língua do povo.

Nós, agora, olhando para trás, podemos chamar-lhe «português», o que não deixa de ser anacrónico, ou «galego», o que não deixa de assustar algumas almas mais sensíveis, ou «galego-português», para agradar a gregos e a troianos (como se esses fossem para aqui chamados). Na escrita, durante todos esses séculos do primeiro milénio, o latim continuou rei e senhor.
Quando Portugal se tornou independente, começámos a usar a língua que existia no território, que era ainda apenas o Norte. Não a escolhemos de imediato, pois nos primeiros tempos o latim ainda foi a língua oficial. Mas, devagar, a língua que era de facto falada começou a infiltrar-se nos textos escritos, às vezes de forma imperceptível, outras vezes de forma mais clara.

O país expandiu-se para sul e, com ele, veio a língua, claro. O português nasceu nesse canto noroeste e expandiu-se até ao Algarve (e, mais tarde, até além-mar). Por alturas de D. Dinis era já a língua oficial.

Depois, no final do século XIV, temos revoluções, a batalha de Aljubarrota… — a nobreza nortenha perde influência, a burguesia lisboeta alça-se à posição de classe dominante (e tudo o mais que faz parte da História).
(cont.)
Não sei se se referiu à introdução de vocabulário de origem africana, asiática e americana, a partir dos Descobrimentos e das novas realidades encontradas.
E a influência da cultura árabe?
Somos a quinta língua mais falada no nundo mas podia até ser mais falada e uma língua mais internacional se tivesse havido uma política mais defensiva do português. Por outro lado há a uma grande “culpa” por parte dos próprios portugueses que se encontram no estrangeiro na falta de defesa da nossa herança linguística…
Trabalho no estrangeiro, e com pessoas de muitíssimas nacionalidades e regra geral o português de segunda geração num país estrangeiro, percebe um pouco o português e fala muito pouco e mal à língua dos pais. Não se verifica o mesmo com segundas gerações de outros países em que maior parte dos filhos falam correctamente a língua do país onde nasceram e a língua dos seus pais.
Devo dizer que as comunidades onde isso é mais notório são os originários do Magrebe e do leste da Europa.
De certeza que as crianças deles não são mais capazes do que as nossas e se elas conseguem aprender correctamente as duas línguas, as nossas são capazes do mesmo. Então o que é que falha? Falha o investimento dos pais na defesa da herança da língua, o que sinceramente é uma perda enorme.
Muito bom o artigo, principalmente por não ter ranço de preconceito.
Mas acredito que uma parte importante da história foi esquecida, que foram os suevos. E a partir daqui quero deixar claro que é uma opinião minha. Não tenho elementos científicos para sustentá-la nem formação para isso, mas tenho indícios disso. Quais? Enquanto a região colonizada pelos visigodos fala castelhano, e aqui vem o cerne da minha conclusão, que nada mais é do que a tentativa deles tentarem assimilar o latim, culminando no falar que chamamos de castelhano, o mesmo aconteceu nessa região que passou a falar galego. E pode ver que a região histórica do galego corresponde a de colonização suevos.
Absolutamente RIDÍCULO! Antes de mais, a Galécia Magna é uma anedota. Nunca ninguém usou esse termo nem sequer a Galécia corresponde à atual Galiza. A Galécia era uma província romana, criada por romanos, admnistrada por Romanos, não há nada de galego lá. Aliás, nem sequer havia Galiza nessa altura. Segundo, a Galécia é uma extração da Lusitânia que, como esclarece Estrabão, ia no período pré-romano do sul do Tejo até às montanhas cantábricas. Mais, mesmo na primeira divisão da colonização romana – Augustus 25-20 BC – o território dos calaicos e astures ficou integrado na Lusitânia. Por isso, não há de facto melhor designação para a comunidade de falantes desse romance do ocidente peninsular que LUSOFONIA. E importa notar que os primeiros vestígios desse romance ocidental que se torna língua independente do latim no Reino de Portugal são encontrados no CONDADO PORTUCALENSE. Pois é, se quiserem ser levados a sério, a dare algum nome a esse Português antigo ou trovadoresco, só têm uma hipótese – romance portucalense.