Originário de Cantanhede no ano de 1974, e resultado da bem humorada imaginação de um dos seus habitantes, Luís Nuno Sérgio, o Licor de Merda é, graças ao seu escatológico nome, conhecido nacional e internacionalmente.
Nos bares e tabernas, quando o veem em lista, a clientela pensa tratar-se de gozo ou provocação. Não é. Guardem um dia das vossas vidas para provarem o icónico Licor de Merda. Não se preocupem, não tem merda.
Licor de Merda: história e receita
Ingredientes do Licor de Merda
A base dele é o leite, ou o leite já transformado em licor, embora haja uma exótica fusão de outro tipo de alquimias, maioritariamente de frutos, dando-lhe uma coloração amarelada mas visivelmente aguada já que o líquido não tem aquela mania de se agarrar ao vidro do copo como acontece com outro tipo de bebidas mais espessas (veja-se, por exemplo, o Licor da Estrela, uma espécie de Baileys português).
Nesse aspeto, estará mais próximo de um Licor Beirão ou de uma qualquer marca de Amêndoa Amarga. O seu rótulo, no entanto, não abre muito o livro sobre a mistura que aqui vai. Pelo contrário, lá podemos ler uma nova provocação: “É extraído a partir de diversas merdas de confiança…”. De qualquer forma, às escuras, parece ter notas de frutos do sul, sobretudo de banana e baunilha.
Um aproximado caseiro pode ser feito aquecendo leite e colocando açúcar e frutos exóticos a gosto ao mesmo tempo – deixando a fusão ganhar forma durante uns dias, enquanto fermenta com a ajuda de leveduras. No final poderá ser adicionada aguardente para aumentar o teor alcoólico e aproximar a bebida de outros quejandos licorosos.
Origem do nome Licor de Merda
No entanto, como é de calcular, o que mais se pergunta sobre ele nada tem a ver com a receita, mas sim com o porquê do nome. Parece haver duas explicações para ele.
Luís Nuno Sérgio, o seu criador, disse ter um garrafão de 20 litros para onde costumava mandar resíduos de outros licores que ia fazendo, e a essa compilação de restos dava o nome de licor de merda, que, obviamente, tinha um sabor variável consoante as sobras que lá estagiavam.
Este será o embrião de tudo. Depois houve uma segunda aplicação do nome quando se resolveu cristalizar a receita e avançar oficialmente com o produto.
Esta aplicação seria política, que, segundo se diz, é um repto a esta classe e à desordem partidária, quando Esquerda e Direita não se entendiam numa altura de pós-revolução (o que não deixa de ter uma certa atualidade), e o país andava a poucos metros de uma guerra civil.
O comerciante não vai de modas e dirige-se diretamente ao então Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves, como também pode ser lido no rótulo: “um produto de alta qualidade, cuja fórmula pertenceu no final do século XX ao Frade maluquinho Basku Gonsalbes”.
A marca foi ainda alvo de uma pequena rábula feita por dois conhecidos apresentadores televisivos espanhóis, que, ao saberem que Cantanhede tinha feito um licor com tal nome, resolveram telefonar para a pequena cidade Beirã a pedir mais informações sobre a dita merda licorosa.
Receita do Licor de Merda:
Ingredientes
– 1 litro de leite
– 500 gr. de açúcar
– 150 gr. de cacau em grão
– 1 vagem de baunilha aberta ao meio
– 1 pau de canela
– 2 rodelas de laranja
– 2 rodelas de limão
– 1 litro de aguardente
Preparação
Colocar todos os ingredientes num recipiente que permita vedar bem.
Mexer e tapar.
Manter o recipiente fechado durante 20 dias, mexendo diariamente com uma colher de pau.
Findos os 20 dias, filtrar 2 vezes através de papel de filtro para café, colocado num coador.
Com 2 papéis de filtro diferentes, haja higiene a fazer o Licor de Merda!
Verta para garrafas, coloque um rótulo a dizer ‘Licor de Merda’, para afugentar os que têm nojo do nome, e sirva!
Fonte: Portugal num Mapa