Sabe distinguir cada um dos recursos de estilo que existem? Entre os recursos de estilo, está o epifonema. Sabe o que é?
A Língua Portuguesa é um património partilhado por diferentes países. Muitos foram os autores que se serviram dela para criar obras que ficaram ao serviço do património nacional. Todos eles recorreram a recursos expressivos para enriquecer as suas obras.
Os recursos estilísticos (entre eles, destacam-se as figuras de estilo) são usados para dar forma artística à linguagem, tornando a mensagem mais bela, mais expressiva, mais pessoal. Entre os recursos de estilo, está o epifonema.
Gramática: epifonema, sabe o que é?
Há diversos recursos de estilo que são frequentemente usados. Entre os mais comuns, está a enumeração (por exemplo: “Era inteligente, corajosa, boa companheira, generosa e tinha espírito de iniciativa.” Luísa Costa Gomes, A Pirata, 2.ª ed., Dom Quixote, 2006), que é uma apresentação sucessiva de elementos que mantêm uma relação de sentido entre si, contribuindo para o intensificar uma ideia.
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Sendo diferente da comparação (por exemplo: Em si tudo me atrai como um tesoiro: […] Cesário Verde, «Deslumbramentos») que é uma associação entre dois elementos que, normalmente, não estão associados, usando-se uma palavra de ligação (nomeadamente, «como»).
O pleonasmo (por exemplo: “Vi claramente visto […]” Luís de Camões, Os Lusíadas) que é uma repetição de uma determinada ideia numa frase; é uma redundância e um recurso frequentemente usado.
Outro dos mais famosos é a hipérbole (“a mochila a pesar toneladas de tanto livro e tanto dossier.” Alice Vieira, Trisavó de Pistola à Cinta, Caminho, 2001) que é um recurso que faz o emprego de termos exagerados, com a finalidade de destacar determinada realidade.
Entre os diversos recursos que existem, está também o epifonema.
A alegoria (por exemplo: “Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal.” Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes) é uma proposição com duplo sentido, sendo um literal e outro simbólico. Permite estabelecer dois planos, o plano da realidade e o plano do pensamento. Pode apresentar-se como uma espécie de metáfora ou imagem que associa um termo metafórico a uma realidade abstrata.
Reflexão
Como tivemos oportunidade de constatar no pequeno conjunto de recursos expressivos apresentados, eles são importantes, pois dão aos autores dos textos ferramentas que concedem ao discurso mais expressividade, mais emotividade, mais dimensões.
Os recursos estilísticos são diversos e a grande maioria é desconhecido das pessoas. Eles tanto permitem que haja uma expressão no sentido figurado, como no conotativo; tanto permitem uma liberdade para dizer o que se pretende explicitamente; como permitem não dizê-lo, mas deixá-lo apenas subentendido.
Epifonema
Significado:
Este termo de origem grega (epiphonema, com o significado de “juízo final”) designa a exclamação final, em tom sentencioso, com que um escritor ou um orador termina o seu texto ou discurso. Este recurso, usado na retórica, é essa exclamação sentenciosa e enfática com que se conclui uma determinada narrativa, um determinado discurso.
O conteúdo do epifonema é, frequentemente, centrado em juízos de valor didático que alguém pretende impor sobre o seu próprio discurso, preparando assim o ouvinte ou o leitor para essa conclusão.
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Eça de Queirós é um dos nomes mais emblemáticos da Literatura Portuguesa, autor de “Os Maias”, entre outras obras de renome. Ele escreveu um artigo sobre “O francesismo” que foi polémico e célebre, servindo a conclusão deste artigo como um bom exemplo de um epifonema (Nota: Eça criticou particularmente a poesia de todos aqueles escritores portugueses que seguiam a doutrina dos nefelibatas e dos decadentistas franceses).
“É necessário dizer-se, todavia, que aqui há talento! Há mesmo muito talento, uma habilidade de ofício maravilhosa, uma presteza de mão que surpreende, uma técnica de rima, uma abundância de cor, uma arte no detalhe que maravilha. Somente, nestes milhares de versos admiráveis — não há um verso poético: estes poetas não têm poesia; e, entre tantos talentos, não há uma só alma!”
(in Notas Contemporâneas, Círculo de leitores, Lisboa, 1981, pp.166-167).
Agora que sabe o que é um epifonema, certamente percebe a importância dos recursos expressivos. Se pretende saber mais sobre eles, siga os artigos que já foram publicados no NCultura.