Depois de dias marcados por um frio cortante, céu limpo e uma aparente estabilidade atmosférica, Portugal continental prepara-se para virar a página. A quietude destes últimos dias — tão enganadora quanto bonita — está prestes a terminar. Uma sucessão de frentes atlânticas aproxima-se a passos largos, prometendo devolver ao país a típica instabilidade oceânica que tantas vezes molda o nosso inverno.
Os próximos dias serão decisivos. O que hoje parece um cenário pacífico, com madrugadas geladas e ausência de precipitação, rapidamente dará lugar a um ambiente húmido, cinzento e ventoso. A meteorologia volta a marcar a atualidade nacional, sublinhando a fragilidade do equilíbrio atmosférico e a rapidez com que o tempo em Portugal pode mudar.
Primeiras frentes atlânticas põem fim ao domínio do ar polar
A massa de ar polar que tem congelado cidades como Bragança, Guarda ou Mogadouro, com temperaturas frequentemente negativas, está prestes a perder força. Ventos de Oeste e Sudoeste — mais húmidos, mais amenos, mais característicos da circulação atlântica — começam agora a tomar o controlo do território.
De acordo com as previsões avançadas pelo Meteored, ainda durante o sábado será visível uma alteração nítida na circulação atmosférica. As primeiras frentes farão sentir-se inicialmente no Norte, com chuva fraca e períodos de maior nebulosidade, estendendo-se posteriormente a outras regiões.
É o anúncio claro da transição: o céu azul dará lugar ao cinzento, e o ar seco a um fluxo constante de humidade.
Domingo traz nuvens, chuva mais frequente e instabilidade crescente
O domingo será o verdadeiro ponto de viragem. A precipitação deverá intensificar-se e alargar-se a grande parte do território, sobretudo nas regiões do litoral Norte e Centro. Uma depressão localizada junto às Ilhas Britânicas empurrará uma frente ativa que poderá originar chuva persistente no Minho, Douro Litoral e Alto Tâmega.
À noite, a aproximação de uma segunda frente irá reforçar ainda mais a instabilidade. A chuva deverá ganhar intensidade, abrangendo novas áreas do Norte e Centro, enquanto o vento, inicialmente fraco a moderado, começará a rodar para Sudoeste — um sinal inequívoco do agravamento previsto para o início da semana.
Segunda-feira pode ser o dia mais severo: chuva intensa e vento forte
A segunda-feira poderá ser o ponto alto — ou o ponto crítico — desta mudança de padrão. A proximidade de uma depressão muito cavada a norte da Península Ibérica, combinada com o transporte de ar quente e húmido de origem subtropical, criará as condições ideais para episódios de chuva intensa e vento forte em várias regiões do país.
Os modelos sugerem precipitação contínua, por vezes abundante, especialmente no Norte e Centro, onde as massas de ar em confronto favorecerão fenómenos mais expressivos. As rajadas de vento poderão atingir os 75 km/h nas zonas montanhosas, elevando a sensação de instabilidade e agravando o impacto meteorológico. A incerteza permanece quanto ao momento exato em que o pior ocorrerá, mas os especialistas são unânimes: a segunda-feira será, muito provavelmente, o dia mais desafiante desta sequência de frentes.
Chuva acumulada poderá ultrapassar os 50 mm no Norte e Centro
Até ao final de segunda-feira, várias zonas do Norte e Centro poderão ultrapassar os 50 mm de precipitação acumulada — um valor expressivo, sobretudo após um período prolongado de seca atmosférica. A chuva tenderá a ser mais intensa a oeste da Barreira de Condensação, reforçada pelo efeito orográfico, e poderá surgir acompanhada de trovoada em alguns locais.
À medida que a frente avança para sul, a sua força será parcialmente travada pelo sistema montanhoso Montejunto-Estrela, chegando já debilitada às regiões a sul do Tejo.
Todo o país sentirá a mudança: o regresso do inverno atlântico
Apesar de Norte e Centro serem as regiões mais expostas, o resto do território nacional não ficará imune, explica o Postal. A chuva deverá marcar presença em praticamente todo o país, com especial incidência no litoral Centro e no interior Norte. Regiões próximas da Serra da Estrela poderão também registar acumulados significativos, embora menos intensos do que os verificados mais a norte.
Portugal regressa, assim, ao seu inverno típico: húmido, instável, imprevisível. Um contraste marcante face à calma dos últimos dias, que recorda a todos a força do Atlântico e a constante dança de massas de ar que molda o clima português.
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