Já ouviu falar em linguagem neutra? Escrever sem género é possível, sendo apenas necessário conhecer alguns recursos e estratégias. Pronto/a para aprender?
Num período em que as questões de género estão na ordem do dia e cada vez mais se fala em igualdade, falar sobre linguagem neutra faz todo o sentido. Este tipo de linguagem consiste no uso de terminologias e formas gramaticais “assexuadas”, ou seja, neutras, sem diferenciarem mulheres e homens.
Aprenda como fazê-lo através de estratégias que garantem uma comunicação não discriminatória, através de normas de substituição de formas linguísticas e de termos, que proporcionem uma linguagem mais inclusiva, visível e simétrica.
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Dúvidas de Português: como escrever sem género
A especificação do sexo
Esta técnica de escrita consiste em indicar com clareza ambos os sexos de igual forma, sem permitir que um género se sobreponha ao outro. Há duas maneiras de o fazer. Seja através da utilização de formas duplas ou do emprego de barras.
- Formas duplas
Nestes casos, a solução é em vez de utilizar uma só forma – normalmente dominada pelo masculino -, deve escolher-se a dupla forma – uma masculina e outra feminina. Ou seja, em termos práticos, em vez de dizer – “Os filhos são o melhor do mundo.” – dizer – “As filhas e/ou os filhos são o melhor do mundo.”.
Também há normas a seguir quanto aos adjetivos – que devem ser repetidos para evitar erros de concordância – e quanto à ordem pela qual os substantivos devem ser elencados, a qual não deve ser sempre masculino seguido do feminino. Assim, em vez de dizer – “Os trabalhadores são cumpridores.” – dizer – “As trabalhadoras são cumpridoras e os trabalhadores são cumpridores.”
- Barras
Para simplificar o processo anterior, sobretudo em instituições e serviços, as barras podem ser a solução, já que elas conseguem demarcar as duas formas do artigo. Por exemplo, “O/A Contribuinte” ou “A/O Aluna/o”.
Os parênteses apenas devem ser usados em caso de um plural facultativo de determinantes ou nomes. Por exemplo: “A/O(s) Utente(s)”
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Neutralização ou abstração da referência sexual
Este é outro recurso da linguagem neutra que consiste na neutralização ou minimização das referências ao sexo das pessoas mencionadas, através do uso de formas neutras e inclusivas.
- Substituição por géneros verdadeiros
Para conseguir a eliminação da referência ao sexo, pode recorrer-se a paráfrases que usam nomes sobrecomuns; nomes coletivos ou termos abstratos; substantivos comuns aos dois géneros, não precedidos de artigo. Por exemplo, em vez de “Os professores” dizer “O pessoal docente”.
- Alusão ao cargo, à profissão ou ao título
Usar nomes coletivos ou que representam instituições/organizações é outra possibilidade de neutralizar a referência sexual. Por exemplo, em vez de “O Diretor” dizer “A Direção”.
- Eliminar o artigo
Nos casos em que o substantivo é comum aos dois géneros, omitir o artigo é um meio de conseguir englobar tanto homens, como mulheres. Por exemplo, em vez de “O Requerente” dizer, simplesmente, “Requerente”.
- Substituição de nomes por pronome invariáveis
Este recurso propõe que as formas marcadas pelo género sejam substituídas por pronomes invariáveis. Por exemplo, em vez de “O solicitador” usar “Quem solicita”.
- Determinantes sem marca de género
Para reduzir a predominância do género masculino, pode usar-se, junto dos substantivos, pronomes sem marca de género. Por exemplo, em vez de “Todos os estudantes” dizer “Cada estudante”.
Fonte: Manual de Linguagem Neutra (Município de Valongo)