Ninfomaníaca, traidora e emancipada, D. Carlota Joaquina rompeu com todos os cânones e regras da época.
D. Carlota Joaquina era infanta de Espanha, mas foi também princesa e rainha de Portugal, Brasil e Algarves, além de imperatriz honorária do Brasil. Para a história, ficou como uma personalidade pouco apreciada, que não tomou as melhores decisões e que, por isso, ficou sempre associada ao que acontecia de menos bom. Mas será que foi mesmo assim?
Feia, ninfomaníaca, adúltera, traidora, ignorante, fanática… será esta uma descrição justa da rainha D. Carlota Joaquina? Vamos tentar perceber.
D. Carlota Joaquina, uma mulher muito à frente do seu tempo
Carlota Joaquina contraiu matrimónio com D. João que, mais tarde, viria a tornar-se no rei D. João VI. Na altura do casamento, D. Carlota tinha apenas 10 anos de idade, enquanto D. João já tinha 18. Assim, grande parte da vida da princesa foi vivida longe da família, numa corte que desconhecia.
Cedo começaram rumores das suas traições, talvez por influência do seu historial familiar, já que também a sua mãe, era acusada de trair o marido, Carlos IV de Espanha, e até conseguir tornar o seu amante primeiro-ministro (Manuel Godoy).
Os pecados de D. Carlota Joaquina
No entanto, a fama menos positiva de D. Carlota pode ter muito a ver com o facto de ela ter sido uma mulher muito à frente do seu tempo. Por exemplo, ela queria ter participação política, ou seja, assumir a regência do reino, a par do marido, naquilo que ficou conhecido como a “Conspiração dos Fidalgos” e que ocorreu entre 1805-1806.
Além disso, D. Carlota já tinha tentado chegar ao poder, alegando a incapacidade do pai e do irmão, Carlos IV e Fernando VII, respetivamente, para assumir a chefia das colónias espanholas do Rio da Prata.
Por ocasião das lutas entre liberais e absolutistas, acabou por assumir a fação absolutista e contra-revolucionária, defendida pelo seu filho D. Miguel, acabando por perder e estar assim, novamente, no lado errado da história.
Vida íntima
Como seres humanos que eram, rei e rainha também tinham uma vida íntima e que podia estar mais ou menos exposta aos olhares dos outros. Porém, à época, era mais frequente os assuntos de cariz sexual estarem exclusivamente relacionados com homens.
Porém, também nisto D. Carlota foi uma rainha à frente do seu tempo, na medida em que expunha e deixava bem claros os seus desejos e instintos mais carnais. O seu apetite sexual deveria ser do conhecimento geral e o historiador português descreve-a mesmo como uma: “megera horrenda e desdentada, criatura devassa e abominável em cujas veias corria toda a podridão do sangue Bourbon, viciado por três séculos de casamentos contra a natureza”.
A sua própria filha, D. Maria Teresa, confidenciava que era melhor não atrapalhar o percurso da mãe, pois ela não olhava a meios para atingir os seus fins.
O casamento de fachada
D. Carlota esteve casada com D. João durante 36 anos, mas a vida em comum durou pouco tempo, já que a participação da rainha na conspiração de 1805-1806 fez com que o monarca perdesse toda a confiança em D. Carlota, razão pela qual passaram a viver separados.
O ódio entre ambos não era escondido, ao ponto de que os coches de ambos nem se cruzavam e, se tal, por um acaso, acontecesse, D. João gritava bem alto para o seu cocheiro: “Volta para trás! Vem aí a p***!”
A questão da paternidade
D. Carlota teve 9 filhos do casal. Contudo, crê-se que a grande maioria deles não fosse de D. João. Julga-se que D. João seria, de facto, o pai de D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal. Todavia, em relação aos restantes, as semelhanças com homens da corte eram diversas, como com o almoxarife do paço e com diversos oficiais da guarda.
Alguns dos amantes mais famosos apontados a D. Carlota foram Junot, o 6° marquês de Marialva, o almirante inglês Sidney Smith, Manuel Francisco Rodrigo Sabatini, oficial da guarda, e até o cocheiro da Quinta do Ramalhão, em Sintra.
D. João fazia questão de ficar a par de todas as infidelidades da mulher e um dia terá comentado, a propósito dessas traições, que “Na vida de Carlota, a moralidade morreu…”
Pois, na verdade, D. Carlota Joaquina limitou-se a viver uma vida livre e descomprometida, como até então apenas era costume serem os homens a fazer.
Por isso, reafirmamos que D. Carlota foi, sim, uma mulher à frente do seu tempo, com um espírito livre, aprisionado numa sociedade de aparências e na qual as mulheres estavam longe de terem direitos sequer equiparáveis aos dos homens.
Curiosidade
Terá sido D. Carlota Joaquina a criar, imagine-se lá, a caipirinha! A rainha terá ordenado para que se misturassem frutas com cachaça, de modo a produzir compotas. Porém, enquanto se refrescava, ia bebendo o preparado com gelo.
A partir desse momento, nos registos de compras do palácio, referem-se grandes encomendas de aguardente de cana. D. Carlota Joaquina terá gostado bastante do sabor da bebida e, por isso, desde aí que não mais faltou caipirinha no palácio, nem no copo da rainha que, segundo se diz, beberia uma média de 20 litros de caipirinha por dia!
Uma quantidade claramente exagerada (e praticamente impossível) e que pode ajudar a explicar alguns comportamentos mais desinibidos e ousados que são até hoje associados à conduta desta rainha.
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Adorei o artigo! Obrigada pela história q faltava na história desta rainh!