Já se encontrou na necessidade de explicar uma situação e faltarem-lhe as palavras corretas? Descubra cinco palavras que fazem falta à língua portuguesa.

Ando a ler o livro Lingo, de Gaston Dorren. É um livro ideal para quem gosta de línguas — e também para quem gosta de viajar e quer ver a Europa com outros olhos.
No final de cada capítulo, o autor escolhe uma ou duas palavras que faltam na língua inglesa. Vai buscá-las à língua descrita nesse capítulo.
Não são palavras intraduzíveis — porque palavras impossível de traduzir, quanto a mim, não existem. (Não me venham com o exemplo batido da «saudade»!) Todas estas palavras podem ser traduzidas — só que temos de usar mais palavras.
Mas, sim, há línguas que conseguem explicar um determinado conceito só com uma palavra e outras que gastam linhas e linhas para dizer a mesma coisa. Porquê? Boa pergunta.
Pois, hoje, quero mostrar-vos algumas dessas palavras, recolhidas por Gaston Dorren no livro de que vos falei.
Aqui ficam cinco palavras que fazem falta ao português:

Uma palavra alemã que é o antónimo de «inveja». A sensação agradável que sentimos quando acontece alguma coisa de bom a outra pessoa. (Em português, talvez a melhor tradução seja «ficar feliz por».)

Uma palavra em frísio (uma língua falada no norte da Holanda) que significa «acabar melhor do que o esperado».

Uma palavra bielorrussa que significa «trabalho voluntário em prol do bairro».

Uma palavra sérvia e croata que significa «o prazer que sentimos quando realizamos actividades simples, como, por exemplo, estar com os amigos».

Uma palavra em scots, uma língua escocesa, que significa um sítio construído para um casal se sentar sozinho, em saborosa intimidade — por exemplo, num jardim ou ao pé da praia. Pode ainda ser uma sala com um sofá e uma boa paisagem ou um canto um pouco escondido, numa festa.
Autor: Marco Neves
Autor dos livros Doze Segredos da Língua Portuguesa, A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa e A Baleia Que Engoliu Um Espanhol.
Saiba mais nesta página.
A palavra Talaka não poderia ser traduzida com a palavra brasileira “mutirão” oriunda do Tupi?
Segundo o Priberam, significa “Iniciativa colectiva para auxiliar alguém, para ajuda mútua ou para um serviço comunitário”.
“mutirão”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/mutir%C3%A3o [consultado em 08-11-2019].”
Uau! Adorei saber. Bem que gostaria que essas palavras tivessem o correspondente em português. Realmente fazem falta. Eu tenho em casa um “sitooterie” e seria muito bom ter um nomezinho para meu cantinho.
Serão mesmo precisas muitas palavras para traduzir algumas das cinco curiosas palavras?
1) A «sensação agradável que sentimos quando acontece alguma coisa de bom a outra pessoa», demostrando gosto em vez de inveja, pode ser exprimida pelos verbos “folgar”, “aprazer” e “comprazer” nas formas: “Folgo”; “Apraz-me”; “Compraz-me”. É pena que as duas últimas palavras soem já como arcaismos. Os substantivos “regozijo” e “congratulação” – bem como as conjugações pronomiais reflexas de “regojizar” e “congratular” – ainda se usam, ainda que normalmente num ambiente formal ou solene. Na linguagem corrente tendemos a hostilizar estas palavras; por isso é que acabamos a usar expressões como “ainda bem que” e “que bom que”.
2) Não havendo uma palavra para significar «acabar melhor do que o esperado», há duas que juntas querem dizer o mesmo: “acabar bem”.
3) Não sei se a palavra bielorrussa é um neologismo ou está enraizada por lá. Mas, bem vistas as coisas, o «trabalho voluntário em prol do bairro» practicamente não existe por cá, logo, é natural que não tenhamos uma palavra para isso.
4) A graça da palavra servo-croata é que não particulariza a actividade comezinha e prazenteira – que, se percebi bem, tanto pode ser colher flores como jogar às cartas. Desconheço uma palavra portuguesa que se refira exclusivamente ao gozo ou deleite dos pequenos prazeres da vida; só se for alguma perdida no dicionário.
5) Acho pitoresco que na Escócia tenham (ou tivessem) assentos feitos para um casal se sentir bem, a sós, num jardim ou ao pé da praia. Mas se o moderno significado da palavra em questão evolui para qualquer lugar que proporciona esse recato, tal como um canto de uma casa meio escondido da vista de todos, à falta de um termo tão imaginativo como o escocês, nós dizemos “recanto”.