Os Terceiros Franciscanos decidiram construir um cemitério nos baixos da Casa do Despacho, para dar sepultura aos irmãos falecidos: as Catacumbas do Porto.
Casa do Despacho da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco foi construída antes da sua igreja, com a qual faz ângulo reto.
No local da Casa, existiu, antes, uma pequena casa térrea, que servia de albergue para irmãos pobres – o hospital de Santa Isabel, que foi a primeira casa de assistência para recolhimento de mulheres criada no Porto.
Este albergue foi destruído por um incêndio, em 1746, tendo a Mesa da Ordem, face às ruínas do pequeno hospital, decidido «fazer uma obra útil e necessária para esta nossa Ordem, a saber: um cemitério e por cima deste cemitério uma casa para Despacho e Secretaria».
A planta do edifício da Casa do Despacho foi feita por Nicolau Nasoni (então no período áureo dos seus trabalhos no Porto) e as obras foram imediatamente iniciadas, sob a direção do mestre pedreiro António da Silva Carvalho e do mestre carpinteiro José Ferreira Pinto.
A frontaria da Casa ficou pronta ainda em 1746, iniciando-se no ano seguinte a construção do interior, ficando a Casa concluída em 1749. A Casa do Despacho é composta por dois pisos (andar térreo e andar nobre), tendo, de cada lado do portal de entrada duas janelas gradeadas.
No andar nobre, por cima da porta, tem as armas da Ordem, ladeadas por janelas de sacada com varandas de ferro. Uma das peças mais notáveis desta Casa é a Sala das Sessões, decorada com pinturas, e cujo teto, apainelado, de talha barroca dourada, foi feito pelo entalhador José Martins Tinoco, em 1748.
O mestre entalhador José Teixeira Guimarães fez, nesse ano e no seguinte, as sanefas, também de talha dourada, a moldura de talha do belo quadro da Virgem com o Menino a dormir (atribuído ao pintor Francesco Francia, da escola toscana) e o retábulo do crucifixo desta sala, que tudo indica tenha sido desenhado também por Nasoni. É nesta sala que se guarda a tela original de Vieira Portuense, representando a morte de Santa Margarida de Cortona.
De algum valor são ainda o amplo bufete do século XVII, 14 cadeiras de braços, de pernas com joelheiras e pés de garra, executadas em 1748, e outras quatro, igualmente de braços, de 1724, além de várias peças de mobiliário e valiosas alfaias religiosas, com destaque para uma custódia de prata dourada, tipo sol radiante, de estilo D. João V, com 18 kg de peso, e um resplendor, com rosas e uma estrela de 16 pontas, ornadas com pedras preciosas. Na Casa do Despacho está presentemente instalado o Museu da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco.
Fachada da Casa do Despacho
Na fachada da Casa do Despacho dos Terceiros Franciscanos nota-se bem a mão de Nasoni na luxuriante decoração do portal, das janelas (com grades de ferro, típicas da primeira metade do século XVIII) e do brasão da Ordem, um conjunto excelentemente aproveitado, dada a escassez do espaço onde foi construída a Casa.
Cemitério Catacumbal
Depois do referido incêndio de 1746, os Terceiros Franciscanos decidiram construir um cemitério nos baixos da Casa do Despacho, para dar sepultura aos irmãos falecidos.
Nesses tempos, ainda não havia cemitérios públicos na cidade (o primeiro a ser construído foi o da Lapa, em 1833, seguindo-se os do Prado do Repouso, em 1839, e de Agramonte, em 1855), sendo costume enterrar os fiéis nas igrejas ou nos respetivos adros.
O cemitério construído pelos Terceiros era subterrâneo, catacumbal, à imitação, segundo parece, das célebres catacumbas romanas, o que denota mais uma influência italiana nestas construções dos Terceiros Franciscanos.
O cemitério tinha cinco altares, assentando o teto abobadado em arcos revestidos por vistosa talha, atribuída a José Teixeira Guimarães, um dos artistas que trabalharam na Sala das Sessões da Casa do Despacho.
O cemitério catacumbal primitivo era de reduzidas dimensões; por isso, em 1795, quando a atual igreja dos Terceiros já estava em construção, a Mesa da Ordem decidiu construir um outro cemitério sob o pavimento da igreja. Esta cripta foi construída entre 1798 e 1803 pelo mestre José Correia, sob as indicações dos arquitetos Pinto de Miranda e o italiano Vicenzo Mazzoneschi e abrange um amplo espaço com abóbadas assentes em arcos.
Mas, entretanto, em Maio de 1802, a Ordem, necessitando de mais espaço para enterrar os irmãos, resolveu também fazer outro vazamento sob o pavimento da capela de Santo António, para dar início à terceira fase de construção do cemitério, pretendendo assim ligar o novo ao antigo (o que se situava por baixo da Casa do Despacho).
Na sequência da Lei de Saúde de Costa Cabral, de 26 de Novembro de 1845, que proibiu os enterramentos nas igrejas (e que esteve na origem da Revolta da Maria da Fonte, com grandes adesões populares no norte e nomeadamente no Porto), a Ordem deixou de enterrar os corpos dos irmãos no cemitério catacumbal, passando a utilizar, a partir de 1870, o seu talhão privativo no cemitério de Agramonte, que tinha sido benzido e aberto ao público em 30 de Agosto de 1855.
«Aqui jaz…»
Durante muitos anos, os irmãos da Venerável Ordem Terceira foram enterrados no cemitério Catacumbal construído sob o pavimento da Casa do Despacho e da sua nova igreja. Em algumas das tumbas que cobrem as paredes repousam os restos mortais de vários membros da mesma família.
Ossário comum
O estatuto de 1751 determinava os locais de sepultura dos irmãos terceiros, tendo ficado assente que as sepulturas eram comuns a todos os irmãos, à exceção das 12 primeiras, privativas dos mesários. Quando era necessário recuperar algumas sepulturas, os restos mortais eram amontoados no ossário comum.
Cofres-urnas
A Em 1746, a Mesa da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco decidiu «fazer uma obra útil e necessária, a saber um cemitério», para dar repouso aos irmãos falecidos.
Há restos mortais por todo o lado, em sepulturas abertas no chão, sobrepostos pelas paredes e em pequenos cofres-urnas. É este o cemitério subterrâneo dos terceiros franciscanos, único no Porto e talvez no país inteiro.