O terramoto de 1755, que devastou Lisboa, continua a ser lembrado como um dos maiores desastres naturais da história europeia. Mais do que um abalo sísmico, foi um acontecimento que mudou a cidade para sempre: arrasou igrejas, palácios e bairros inteiros, provocou um maremoto e incendiou o coração da capital. A tragédia ecoou por toda a Europa e inspirou debates filosóficos, políticos e científicos que moldaram a forma como ainda hoje pensamos a relação entre o ser humano e a natureza.
O que muitos ignoram é que esta ameaça nunca desapareceu. O território português permanece numa zona de intensa atividade geológica, e o risco de novos sismos de grande magnitude é real. Os abalos sentidos no Alentejo nos últimos anos, ainda que de menor escala, são um lembrete claro: a terra pode voltar a tremer a qualquer momento, e a preparação é a única defesa.
Porque ocorrem sismos em Portugal?
Portugal encontra-se numa posição geográfica única, situada na fronteira entre três grandes placas tectónicas: a Africana, a Euroasiática e, nos Açores, a Norte-Americana. Esta localização coloca o país num ponto de fricção permanente, onde as forças subterrâneas acumulam energia até ao momento em que esta é libertada sob a forma de um terramoto.
- No território continental, a pressão da placa Africana sobre a microplaca Ibérica dá origem a falhas ativas que atravessam o subsolo, como a falha de Lisboa–Benavente.
- Nos Açores, a complexidade é ainda maior. É uma região tripla, onde três placas se encontram e se afastam, provocando não só sismos frequentes como também atividade vulcânica intensa.
Esta realidade faz com que Portugal seja, por natureza, um dos países europeus mais expostos a fenómenos sísmicos.
A diferença entre magnitude e intensidade
Muitas vezes, explica a VortexMag, a população confunde estes dois conceitos:
- Magnitude – é a medida objetiva da energia libertada no hipocentro do sismo, avaliada em escalas como a de Richter.
- Intensidade – corresponde ao impacto do abalo na superfície, medido pela Escala de Mercalli, que avalia danos, vibrações e perceção humana.
Por exemplo, um sismo de magnitude 7 pode ser sentido de forma muito diferente em países distintos: no Japão, com edifícios resistentes, pode ter intensidade 4, enquanto numa região com construções frágeis pode atingir intensidade 8 ou superior.
As 14 zonas mais vulneráveis a sismos em Portugal
Com base em estudos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e no mapa sísmico nacional, estas são as áreas com risco mais elevado:
- Lisboa (risco 10) – Capital exposta a falhas geológicas ativas e com histórico de destruição.
- Península de Setúbal (risco 10) – Zona marcada pela falha Lisboa–Benavente, uma das mais críticas do país.
- Algarve (risco 10) – Região exposta a sismos com epicentro submarino no Atlântico.
- a 9. Açores (risco 10) – Faial, Pico, São Jorge, Graciosa, São Miguel e Terceira estão sobre zonas de junção de placas tectónicas, com registo frequente de abalos e erupções vulcânicas.
- Ribatejo (risco 9) – Área vulnerável devido à proximidade de falhas no vale do Tejo.
- Costa Alentejana (risco 9) – Exposta a falhas submarinas que se prolongam até terra firme.
- Corvo, Flores e Santa Maria (risco 9) – Apesar de risco ligeiramente inferior, continuam sujeitas a abalos de grande intensidade.
O que a história nos ensina
Além do terramoto de 1755, outros episódios recordam a vulnerabilidade do território:
- Sismo de 1969 – Com epicentro no Atlântico, afetou Lisboa, o Algarve e provocou pânico generalizado.
- Sismos nos Açores – Abalos como o de 1980, que atingiu a Terceira, causaram destruição significativa e vítimas mortais.
- Pequenos abalos no Alentejo e Ribatejo – Embora de menor magnitude, são sinais de que o subsolo português continua ativo.
Cada um destes episódios reforça a ideia de que o risco não deve ser esquecido.
Preparar é proteger: como reduzir o impacto dos sismos
Embora não seja possível impedir um terramoto, é possível reduzir drasticamente os seus efeitos. Entre as medidas mais importantes estão:
- Construções resistentes: aplicar normas modernas de engenharia que tornam os edifícios mais seguros.
- Planos de emergência: escolas, empresas e famílias devem ter estratégias definidas para saber como agir.
- Educação sísmica: ensinar desde cedo como reagir em caso de abalo é essencial para salvar vidas.
- Sistemas de alerta: investir em tecnologia de monitorização e aviso rápido pode garantir segundos preciosos.
- Simulações e treino: preparar populações para lidar com cenários reais reduz o pânico e aumenta a eficácia da resposta.
Portugal vive em risco, mas pode viver preparado
A história e a ciência são claras: os sismos fazem parte da realidade geológica de Portugal. Lisboa, Setúbal, Algarve e Açores estão entre as regiões mais vulneráveis, mas o risco é transversal a todo o território.
O país precisa de investir em resiliência, reforçar infraestruturas, formar cidadãos e, acima de tudo, nunca esquecer que a terra pode voltar a tremer. O terramoto de 1755 ensinou que a imprevisibilidade é uma certeza — e que a prevenção é a única arma verdadeiramente eficaz.
Guia prático: o que fazer antes, durante e depois de um sismo
Embora os sismos sejam inevitáveis, a forma como se reage pode determinar a diferença entre segurança e risco. Eis um conjunto de recomendações essenciais, baseado em boas práticas de proteção civil:
Antes de um sismo: preparar é fundamental
- Reforçar a habitação: garantir que a construção cumpre normas de resistência sísmica.
- Fixar móveis e objetos pesados: estantes, quadros e candeeiros devem estar seguros para evitar quedas.
- Ter um kit de emergência: incluir água, alimentos não perecíveis, lanterna, rádio a pilhas, pilhas suplentes, medicamentos e documentos importantes.
- Definir pontos de encontro: combinar previamente com a família um local seguro em caso de separação.
- Saber desligar serviços essenciais: aprender a cortar gás, eletricidade e água.
Durante um sismo: agir com calma e rapidez
- Proteger-se de quedas: procurar abrigo debaixo de uma mesa resistente ou junto a uma parede interior.
- Manter distância de janelas e vidros: risco elevado de estilhaços.
- Não usar elevadores: podem falhar ou ficar bloqueados.
- Se estiver no exterior: afastar-se de edifícios, árvores e cabos elétricos, procurando um espaço aberto.
- Se estiver a conduzir: parar o veículo em segurança, sem bloquear vias, e permanecer dentro do carro até o abalo terminar.
Depois de um sismo: segurança e prevenção de riscos secundários
- Verificar ferimentos: prestar primeiros socorros sempre que possível.
- Atenção a réplicas: os abalos secundários podem ser tão perigosos como o principal.
- Não usar fósforos ou isqueiros: risco de fugas de gás invisíveis.
- Ouvir as autoridades: seguir informações da Proteção Civil e não acreditar em rumores.
- Evitar telefonar: usar mensagens para não congestionar as linhas de emergência.
- Apoiar os mais vulneráveis: idosos, crianças e pessoas com mobilidade reduzida devem ser prioridade.
Preparação salva vidas
Cada segundo conta quando a terra treme. A diferença entre o pânico e a proteção está na preparação. Um plano simples em cada casa, escola ou empresa pode reduzir riscos e salvar vidas. A história de Portugal já mostrou como os sismos podem mudar destinos inteiros, mas também ensina que resiliência e prevenção são as maiores defesas de uma nação exposta a este fenómeno.