As touradas serão tradição ou tortura? Perceba melhor os dois lados da moeda no que toca ao espetáculo da tauromaquia. A tauromaquia, ou corrida de touros, é um espetáculo considerado tradição por alguns e crime por outros. A ‘arte’ consiste em lidar com touros bravos a pé ou a cavalo e terá nascido perto do século XII, na Península Ibérica.
Este tipo de espetáculo é muito popular em algumas partes do mundo. Mais especificamente em países como Espanha, Portugal, Peru, Colômbia ou México. Contudo, continua a ser uma das formas de ‘arte’ mais contestadas, principalmente por aqueles que acreditam e defendem os direitos dos animais.
Será tradição? Ou será apenas tortura ao vivo?
Perceba melhor os dois lados da moeda no que toca ao espetáculo da tauromaquia.
Origem

Os primeiros registos desta prática mostram que esta apareceu na Península Ibérica. É também encontrada em algumas zonas do Sul de França e em vários países da América Latina como no México, Peru e Colômbia.
Tauromaquia

O nome tauromaquia não se deve apenas à corrida de touros em si, mas a todo o desenvolvimento do espetáculo. Desde a criação dos touros, aos trajes e a todas as outras manifestações artísticas publicitárias.
Tipos de Touradas

Existem alguns tipos diferentes de Touradas. Corridas de Touros à Portuguesa, Corrida de Matadores (onde apenas atuam matadores de touros) e Corrida de Touros Mista, onde atuam Matadores, cavaleiros e forcados.
Novilhadas

Este tipo de corrida é onde atuam jovens que querem ser cavaleiros ou matadores, no entanto ainda não têm esse estatuto que é o escalão máximo das categorias profissionais.
Corridas de Touro

Nas Corridas de Touro à Portuguesa, onde o animal não é morto na arena, o touro é levado depois da corrida para ser visto por um veterinário e lhe serem retiradas as bandarilhas. Depois disto, os touros são quase todos abatidos num período máximo de cinco horas depois do fim da corrida. Em casos extraordinários, onde o touro mostra um bom comportamento, ele regressa ao campo para ser aplaudido e vive depois os seus dias em liberdade.
Património

As touradas são consideradas Património Imaterial e Cultural de países como a França e a Espanha. Em Portugal, 32 municípios declararam a tauromaquia como Património Imaterial Cultural também.
Visão

Os aficionados por esta atividade acreditam que a tourada demonstra os valores humanos da coragem e superação perante o caos e a violência do touro.
Estados Unidos

A tourada ‘tradicional’ só é permitida nos Estados Unidos no Estado do Texas. Contudo, existem no Vale Central da Califórnia comunidades mexicanas e portuguesas que praticam a tourada com um sistema de velcro para não magoar os animais.
Canadá

Em Dundalk, em Ontário, existe uma Praça de Touros, fruto de uma paixão de dois emigrantes portugueses, que faz vários espetáculos regulares, a única diferença é que não há sangue. O touro é protegido pelo mesmo colete de velcro para não ser magoado.
No Brasil

Em 1943, as touradas e a lutas de galo foram proibidas pelo então presidente Getúlio Vargas. Proibição que se mantém até aos dias de hoje.
Influência na dança e na música

O flamenco e o pasodoble são extremamente influenciados pelo espetáculo tauromáquico e já fazem parte da ‘banda sonora’ dos eventos.
O touro

Estes animais não são, por natureza, violentos. Aqueles que defendem os direitos dos animais falam de instâncias em que os touros são extremamente mal tratados dias antes de entrarem para as arenas.
Touros

Segundo os defensores dos direitos dos animais, aquilo que se vê nas arenas não é um touro saudável, mas sim um animal que tem papéis de jornal molhados nas orelhas, vaselina esfregada nos olhos e algodão no nariz para lhe cortar parte da respiração. Isto são tudo coisas que farão um touro ficar confuso e hostil.
Cavalos

Quem é contra as touradas e defensor dos direitos dos animais acredita que o Cavalo é também outro animal que sofre muito com estas corridas.
As cordas vocais destes cavalos são cortadas para que não consigam exprimir dor no momento em que o touro os consegue atingir, para além disso estes animais ficam com tremores extremos quando a corrida acaba devido ao medo e adrenalina que experienciam.
Turismo

O turismo ainda é um dos argumentos mais lançados na mesa por aqueles que querem defender a tourada. Eles acreditam que quem visita países como a Espanha, vai querer certamente ver um espetáculo do género e por isso esta arte ainda sobrevive muito à custa do turismo.
Perigo

Os perigos desta atividade são bastante evidentes e já aconteceram inúmeros casos de toureiros que foram completamente arremessados pelo touro tendo sofrido lesões bastante graves ou até a morte. A estes arremessos perigosos dá-se o nome de Cogidas.
Número

Em 2013, só em Espanha, registaram-se 47 lesões num total de 661 corridas de Touros, sendo que 31 delas foram provocadas pelos cornos do animal.
Popularidade

Em países como a Espanha a tourada continua a ser extremamente popular. Um estudo levado a cabo pela Eurosondagem mostrava que apenas 11% da população se opõe a este tipo de eventos sendo que os movimentos contra continuam a crescer em grande parte por causa da população mais jovem.
Grande nome

Um dos grandes nomes da tauromaquia mundial é Curro Romero. Os aficionados desta arte descrevem os movimentos de Curro como os de alguém que está a dançar com o touro. Ele tem uma estátua sua erguida em Sevilha, Espanha.
A maior do mundo

A maior praça de touros do mundo é a ‘Plaza de Toros México’ e está localizada na Cidade do México e a maior da Europa é a ‘Plaza de Toros de las Ventas’ (na imagem) em Madrid.
Proibição em Portugal

As touradas chegaram a ser proibidas em Portugal no ano de 1836 a mando de Dona Maria II. Contudo, tal proibição durou apenas nove meses, pois a população revolta da população foi grande.
Proibições

Em Espanha o espetáculo tauromáquico é proibido nas Ilhas Canárias, depois da aprovação de uma Lei de Proteção de Animais em 1991.
Ilhas Baleares

Nestas ilhas espanholas é proibido desde 2017 matar um touro na arena ou de lhes inferir qualquer dano físico ou psicológico. Sendo que só podem ser usados três touros na arena e cada um só poderá ficar 10 minutos na mesma.
Crianças

Atualmente, ainda é legal que crianças assistam ou participem em espetáculos de tauromaquia em Espanha, França, Equador, México, Venezuela, Colômbia e no Peru. Em Portugal, um decreto-lei, aprovado a 14 de outubro de 2021, alterou a classificação etária para assistir a espetáculos tauromáquicos de 12 para 16 anos.
Os 16 anos são também a idade mínima para “o acesso e exercício das atividades de artista tauromáquico e de auxiliar de espetáculo tauromáquico”. O comité das Nações Unidas para os Direitos das Crianças tinha recomendado a Portugal a alteração da idade mínima para assistir a touradas para os 18 anos.
Este artigo está muito bem feito, porque explica a verdade do que sofrem os touros e os cavalos, e as barbaridades que lhes fazem.
EU SOU CONTRA AS TOURADAS, PORQUE SÃO UM ESPECTÁCULO SELVAGEM EM QUE SE FAZ SOFRER OS ANIMAIS, E SE FAZ CORRER SANGUE!
Não interessa falar em tradição, porque vivemos tempos de alta tecnologia, e quem busca referir as tradições, está a invocar falsidades. Por exº: Também durante muitos anos, ia-se à mercearia, e podia-se deixar ir a despesa para o livro, para vir a pagar depois mais tarde, e agora ou paga-se na caixa à saída ou não se levam as compras. NÃO ÀS TOURADAS, QUE PASSEM A SER PROIBIDAS! Quem vive dos touros, que vá trabalhar para os campos ou para a estiva!
Se há uma minoria que quer continuar a praticar esta selvajaria, com o argumento de tradição, porque não, voltarem á tradição e cultura romana, e irem para a arena gladiar com os leões, por exp.
Gostaria de saber, quando é se acabarem as touradas, onde vamos encontrar a beleza e magestade de um touro… Pois, se acabarem as touradas, as ganadarias encerrarão e os belos touros selvagens passarão a ser mais um animal em vias de extinção.
Quem não gosta de tourada, não vai à praça de touros, muda de canal quando for transmitida pela televisão e deixa quem aprecia a arte tranquilo. É sinceramente demagógico pensar que quem gosta de tauromaquia tem qualquer tipo de prazer em ver ou fazer sofrer animais e lamentável que não se pense que o fim das touradas seja infeliz e inevitavelmente o fim dos touros!
Se de facto gosta das touradas porque não enfrenta um touro se gosta de ver sangue vá para a guerra sacrificar um animal por puro divertimento é crime e não considero que seja um espectáculo cultural, e não diga que se as touradas acabarem o touros estarão em extinção a sua mente tacanha é que já está a prever isso, porque a criação do touro irá continuar, não chame as touradas uma arte, está a denegrir o que é verdadeira arte.
César Gomes: Há muitas actividades que eu considero sem sentido, sobretudo quando é infligido sofrimento de qualquer natureza a alguém. Mas se todos os envolvidos as praticarem de livre vontade – por sua decisão devidamente esclarecida e sem nenhuma forma de pressão – não me passa pela cabeça que a sociedade deve intervir. Mas quando numa actividade que envolve violência, morte ou qualquer outra forma de ataque à integridade física e psicológica de um ser vivo, para gáudio de uma ou várias pessoas, e em que a parte atacada se encontra numa situação de desigualdade de poder de decisão e sem hipóteses de não estar ou de fugir a essa situação, a coisa muda de figura. A sociedade tem a obrigação de proteger quem não for capaz de o fazer por si só. Não pode simplesmente voltar as costas e dizer ‘quem gostar que o faça ou que vá assistir’. Tal como não pode voltar as costas aos maus tratos a crianças, a mulheres indefesas, a incapacitados, também não pode voltar as costas aos animais e, em primeiro lugar, àqueles que dependem do homem e por ele são criados! Entre os touros deixarem de existir (existem alternativas, é só pesquisar na net) e continuarem a ser criados para serem torturados e mortos para prazer de uma multidão que ainda não percebeu que ente nós e eles há um laço de irmandade vital inegável, eu escolheria que deixassem de existir. Essa carapuça a mim não me serve. Que a enfie quem cria os touros e diz que gosta muito deles. Estranho amor, não?
É claro que devemos cuidar de quem não pode. Aliás, devemos cuidar de tudo e de todos. Devemos cuidar também de quem é aficionado… Atenção ao que se lê na Internet, as alternativas só são alternativas a médio ou longo prazo quando são verdadeiramente sustentáveis.
Quanto a esse tipo de radicalismo “eu escolheria que deixassem de existir”, só me vem a cabeça um comentário:
– Estranho amor, não?
Só uma pergunta: de que cuidado ou protecção necessitam os aficcionados? Morrem ou ficam muito feridos se deixarem de haver touradas? É o mesmo que dizer que os pedófilos também precisam de apoio e protecção contra quem defende as crianças dos seus abusos e maus tratos! Por outro lado: não me é estranho um amor que pensa primeiro no outro antes de pensar em si mesmo. O contrário é que me é muito estranho!
Digo mais: A pergunta “Tradição ou Tortura?” está obviamente mal feita. É uma falácia, pois pretende tratar aquilo que tem um carácter acidental (a tradição), como se tivesse um carácter essencial (neste caso, o essencial é que se trata de um ser vivo a ser torturado). Logo, a tauromaquia é ambas as coisas, cada uma com um carácter bem diferente: é uma tradição que passa por criar um ser vivo para depois o torturar em praça pública e em seguida o matar ali, na praça, ou às escondidas; assim, como tradição e tal como muitas outras, o seu carácter é acidental (aconteceu mas podia não ter acontecido) pode – e deve – deixar de ser praticada; é que à luz do conhecimento actual, a natureza essencial do touro é que é um ser vivo senciente – sente e prevê o que vai sentir – tornando a sua tortura, em termos civilizacionais, inaceitável. Por tudo isto, penso que responder que é uma coisa ou outra, só confunde, criando ruído onde se devia ouvir com clareza para, de consciência esclarecida, tomar posição (em Portugal os maus tratos aos animais já são considerados crime): posso ser torturador/criminoso, cúmplice de tortura/de crime, Pilatos ou uma pessoa decente.
Olhe que comparar aficionados a pedófilos… Precisam do respeito. O mesmo respeito que lhe dou por defender os animais e de se insurgir contra a tortura, no qual estamos completamente de acordo. Num entanto difere a noção de tortura. O animal é lidado e depois abatido? Sim. Sabe quantos touros existem no mundo (salvo raríssimas excepções todos em países onde há tourada)? Sabe quantos são lidados por ano? Se a população de toros é saudável (quer no sentido dos números, quer da qualidade dos animais) não tenha dúvidas que se deve a tourada.
Por outro lado, a questão vai muito além do touro. Se a população de cavalos (não de corrida ou hipismo) se encontra saudável, principalmente algumas raças, na qual se inclui o Lusitano, deve-se também a tourada.
Não sei se a senhora Teresa alguma vez teve a hipótese (e verdadeiro privilégio) de estar ao pé de um touro, de lidar com o animal… Se não teve, recomendo que visite uma ganadaria, acredite que lhe abrirão as portas e a receberão muito bem (são pessoas decentes), e aproveite para passar um bocado com animais magníficos, touros e cavalos, e com gente que como verá na altura realmente ama, respeita e cuida dos animais. Experimente, vai certamente ficar surpreendida pela positiva.
Meu caro César Gomes: eu nem disse que os aficcionados das touradas eram pedófilos, nem disse que eram como os pedófilos. O que eu afirmei, isso sim, é que, em ambos os casos, estão em causa de um lado, alguém que ‘abusa’ e do outro, alguém que é ‘abusado’, sendo este último alguém que não consegue, pelos seus próprios meios, sair da situação de ‘abuso’. É impossível proteger ambos os ‘lados’ ao mesmo tempo: se protejo o ‘abusador’, sou cúmplice dele; se protejo o ‘abusado’ sou, de facto, seu defensor.
A ‘lide’: trata-se de infligir, no touro, várias farpas, num jogo de toca e foge que não faz parte da natureza por norma dócil do touro. Claro que ele reage: por medo, por dor, por território… As ‘razões’ que a natureza lhe deu estão longe de ser as do divertimento. Até esse momento, viveu livre. E são exactamente as pessoas que tratam dele que o traem! Quem se diverte é quem assiste a este ‘espectáculo’ degradante por todas as razões.
Sei do que falo: já alimentei bezerros a biberon e a relação de afecto deles com as pessoas, é a que é própria – por natureza – dos mamíferos superiores domesticados. Claro que quando sob algum tipo de ameaça se podem tornar perigosos – também ao cão mais manso tal pode acontecer. Pensar que depois são metidos numa praça e são ‘lidados’ em evidente actividade contra-natura… faz-me sentir muito mal.
Já estive em Barrancos para me ‘educar’, para poder saber do que falo: devia ser a única pessoa presente capaz de olhar nos olhos do touro e pedir-lhe desculpa pelas farpas, pela espada que só ao fim da 4ª estocada entrou até ao fundo e fez o touro dobrar as pernas, pela faca várias vezes espetada ao cima da cabeça do desgraçado, sem acertar… enquanto ele bramava tão alto que se fez um silêncio de morte por segundos, e por segundos pensei que aquela gente ia perceber o que estava a fazer… Mas não! Os gritos de Mata – Mata – Mata de um coral imenso de que faziam parte crianças muito pequeninas – elas também expostas a esta tragédia e aprender a ‘tradição’ que lhe rouba qualquer possibilidade de vir a sentir compaixão pelos bichos todos… Só me vim embora quando o touro morreu de facto – já fora da praça improvisada, pois enquanto o arrastavam com cordas debaixo de uns aplausos que me provocaram vómito, ainda estrebuchava! Há vídeos na net que mostram situações idênticas – não só ‘azar’ meu daquele ano! Cçaro que já não fiquei para os dias seguintes. O ar cheirava a alguma coisa de insuportável! Como é que aquela gente afável, trabalhadora, séria, que nos recebe de braços abertos, se transforma naquela multidão tão feia…? Como? Faz-me lembrar o meu irmão: antes e depois de se drogar…; mas o meu irmão morreu do seu vício – pagou o preço mais alto por ele; aquela gente não: quem paga o seu próprio vício de dor e sangue, é o próprio touro. Sei portanto do que falo. Tudo o resto me parece de importância tão secundária… ainda assim creio que se conseguiriam arranjar soluções, já que nem toda a gente cria animais e os trata bem só por causa… do negócio, não é?
Nem só por causa de negócio, que o diga a minha cadelita, a minha gata e duas rolas diamante… O mesmo já não posso dizer das minhas galinhas, não faço negócio com elas mas que me sabem muito bem, lá isso sabem! Mas são bem tratadas. Tenho cabras, ovelhas que não necessito de alimentar a biberão porque as respectivas mães se ocupam das crias. Adoro-as, trato-as muito bem e com muito carinho, mas não invalida que hoje vá comer uma deliciosa perna de borrego e que um cabritinho vá ser o centro da mesa no dia de natal… Vou comê-lo com muito apetite e sem qualquer tipo de remorsos. Num entanto desejo muito bom apetite aos vegetarianos.
Quero eu com isto dizer que o respeito pelos outros, que tem outras vivências, outra forma de ver o mundo é de interagir com ele é fundamental. O facto de se olhar para as pessoas que tem uma cultura, forma de estar e de encarar a vida diferente da nossa e julgar (sempre da pior forma porque eu é que estou certo e é que tenho razão) é a razão que o mundo anda como anda. As pessoas caem no excesso de julgamento e disputam realidades que muitas vezes lhe são alheias sem qualquer tipo de objetividade. Como fui criado no meio da terra, rodeado por animais e vivo rodeado de animais, talvez tenha uma relação de proximidade e carinho muito maior que quem assim não foi criado e (verdade absoluta) nunca fiz mal ou maltratei de qualquer forma um animal… Não invalida que os mate e os coma, digo mais uma vez, sem remorsos ou peso de consciência.
Ver tudo preto no branco e ver como mau e mal o que não estamos de acordo é uma forma muito simplista de interagir com o mundo! Compreendo que cause desconforto a algumas pessoas a ideia da tourada, mas isso não torna lícito pedir para acabarem com a tauromáquica.
A intolerância é a mãe de todos os conflitos!
Meu caro César Gomes: esta troca já vai longa, mas ainda bem que é possível conversar. Se ler com atenção o que eu escrevi, em caso algum o julguei a si pessoalmente. Em caso algum afirmei que as pessoas que gostam de touradas são, elas mesmas, ‘intoleráveis’ ou menos dignas de serem ouvidas. Creio que o pior que podemos fazer é caricaturarmos os outros e tomarmos por verdade coisas que não passam de estereótipos. Tentei apenas responder às questões que me levantou. Uma, que tomava como verdade que a posição que tomo face às touradas deriva de falta de contacto com os animais, inclusive com os bovinos – a circunstância de ter alimentado bezerros a biberon, prendeu-se com um negócio de produção de uma carne de alta qualidade, que obriga a uma alimentação muito precisa dos bezerros com leites tratados para esse efeito; exige também que o seu abate seja feito sem o mínimo de sofrimento ou de stress dos animais. A minha natureza não me permitiu continuar a fazê-lo, mas entendo que por razões de alimentação dos seres humanos e desde que cumpridas as normas e os cuidados a ter com o bem estar dos bichos, devo compreender essa actividade. No entanto, uso a minha liberdade para pelo menos tentar diminuir ao máximo o consumo de carne de bovino, caprino, porcino (tudo o que forem mamíferos) por razões de consciência e crença pessoal. Isto está muito muito longe do uso de bovinos para uma actividade absolutamente contrária à sua natureza, de carácter violento, mortal e em sofrimento. A excepção à lei que proíbe todas as formas de maus tratos aos animais, é uma aberração da própria lei. Também neste caso, entendo que o que é intolerável não são os aficcionados (tal como não são os adictos de qualquer vício); o que é intolerável são os actos infligidos a um ser vivo senciente (tal como o são as drogas) e o negócio que em torno deles se faz. Como são intoleráveis os maus tratos praticados no seio da família.
Por fim, procurei responder à sua questão acerca do desaparecimento dos touros caso as touradas desapareçam: o que entendi deste argumento, é que eles só são criados e bem criados se fizerem parte de uma cadeia de negócio. Logo, quando falei de negócio foi em relação a esse argumento e não a outro (como o da criação de animais para alimentação própria ou como actividade económica no âmbito da pecuária, que, como me parece que sabe, exige que se sigam processos onde o cuidado com o bem estar animal e a redução ao mínimo possível do seu sofrimento se verifiquem. Há casos em que estes padrões não são cumpridos? Pois há: e quando isso acontece como é? Não se faz nada? Fica-se indiferente? É lá com eles?
Na China enfiam cães dentro de gaiolas para os matar e comer, em condições de completa bestialidade. O que faz o resto do mundo? Cala-se? Na Palestina morrem todos os dias homens, mulheres e crianças pelas armas de um Israel ganancioso e desumano. E nós? Ficamos calados? Eu não costumo ficar. E não passa um dia sem pedir desculpa a todas as vítimas desta nossa humanidade ainda tão pouco desenvolvida. Agradeço-lhe sinceramente ter-me ouvido.
Resposta: TORTURA! Touradas ou outras “diversões” associadas a sacrifício de animais ainda se constitui em indício da barbárie humana. Espero que as próximas gerações sintam repúdio à essa prática e tratem esses indivíduos como seres que merecem respeito. Desejo que um dia não precisemos mais alimentarmo-nos deles, à revelia da cadeia alimentar vigente, onde um cede sua vida para que o outro sobreviva…
Foi uma pena ninguém ter assinalado as touradas-à-corda, na ilha Terceira, nos Açores, as quais constituem uma prática e uma tradição popular e antropologicamente positiva, sem qualquer forma de tortura sobre o touro, e de onde este e o homem saem dignificados. Realizam-se à volta de 200 touradas-à-corda por ano na Terceira!
TRADIÇÃO
Tauromaquia é uma tradição milenar, histórica e folclórica natural da Península Ibérica e diversos outros países.
Um exemplo de cultura e manifestação cultural