O calão, a gíria e os palavrões fazem parte de qualquer língua. Descubra como surgiram e qual o significado e origem de alguns palavrões da língua portuguesa.
O calão, a gíria e os palavrões fazem parte de qualquer língua e saber mais sobre um idioma implica conhecer, também, este seu lado. Assim como as restantes palavras e expressões que compõem uma língua, também os palavrões são uma fonte de informação e de conhecimento acerca do idioma e da própria história das sociedades.
A generalidade dos palavrões tem uma origem que remonta à Antiguidade e que tem por base, muitas vezes, a derivação das palavras que, fruto da evolução, vão-se modificando e mudando os seus significados e sentidos.
Não querendo incentivar o uso das palavras menos bonitas e mais insultuosas da língua portuguesa, acreditamos que conhecer a sua raiz é uma forma de ficarmos a conhecer melhor a nossa língua, com tudo o que isso significa.
Língua Portuguesa: significado e origem de alguns palavrões
Puta
No dicionário Vocabulario Portugues e Latino, de Rafael Bluteau, editado em 1712, refere que este era “um vocábulo honestíssimo”, que significava simplesmente “moça puríssima e limpa”. Porém, o termo terá passado a ser um sinónimo de prostituta, de maneira a “encobrir a fealdade do vocábulo meretriz ou de outro igualmente feio”.
Assim, a definição atual de puta deve-se a um processo de corrupção da língua. Na sua origem, a palavra puta derivava da palavra putos, um adjetivo latino para puro ou brilhante.
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Outros autores também adiantam que este palavrão pode derivar do verbo putere que, em latim, significa estar deteriorado ou cheirar mal.
Recuando à Roma Antiga, sabemos que os romanos chamavam lobas às prostitutas. Essa expressão está na origem de lupanar, bordel ou casa de prostituição. Por este motivo, alguns defendem que as figuras dos gémeos Rómulo e Remo não teriam sido criados por uma loba (animal), mas sim por uma loba (prostituta).
Porra
Na Origem da Lingua Portugueza (século XVII), do historiador Duarre Nunes de Leão, é referido que esta palavra pode ter origem árabe. Embora, outros acreditem que a sua raiz pode ser espanhola.
Já de acordo Rafael Bluteau, durante o reinado de D. Afonso V (1432-1418), veio para Portugal uma família de nobres castelhanos de apelido Porra, cujo brasão exibia cinco maças (armas) com cabos verdes sobre um campo dourado.
No Vocabulario Portuguez e Latino, Bluteau adianta que a palavra porra é um diminuitivo de uma outra palavra, cachaporra. Esta refere-se a uma espécie de pão que é mais grosso numa ponta do que na outra.
Segundo o Dicionário de Calão de Eduardo Nobre, o termo porra remete para o órgão sexual masculino, para pau ou para bastão.
Caralho
A palavra caralho é usada para se referir ao órgão sexual masculino. Este termo também está na origem de vocábulos como carago ou caraças, palavrões mais aceites socialmente, mas com o mesmo significado.
O termo caralho pode ter tido a sua génese na palavra espanhola carajo. Este vocábulo descreve um pau ou a vigia, o lugar mais elevado de uma embarcação. Contudo, a origem desta palavra pode ser anterior ao próprio período de romanização.
Merda
O vocábulo merda é bastante antigo. Já no latim clássico, a palavra merda era sinónimo de esterco ou de excremento. Segundo alguns estudiosos, este termo é uma derivação do vocábulo Erda, uma localidade romana conhecida por ser muito suja.
Foda-se
O termo foda-se também não é recente. O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado indica que o verbo foder (que está na origem da expressão foda-se) provém do latim futere, que significa ter relações sexuais com uma mulher. A palavra foda-se terá começado a aparecer em textos a partir do século XII.
A partir da expressão foda-se apareceram outras formas como dasse, fosga-se, fosca-se ou fónix, as quais têm exatamente o mesmo significado e intenção, mas que são socialmente mais bem aceites.