Os pregões da nossa infância permanecem no nosso imaginário. Estão ligados a produtos e a serviços de outros tempos: pregões saloios e pregões populares para recordar. A língua portuguesa tem uma riqueza ímpar. Por muito que seja explorada, há sempre muito mais para explorar. Tem poesia, mas por muitos poemas que se leiam, há sempre muitos mais para ler. Tem muitos livros, mas por muitos livros que se consiga ler, há sempre muitos livros para descobrir, alguns deles até foram publicados recentemente…, mas é impossível ler todos.
Há uma vasta riqueza para explorar: há contos infantis, há livros históricos, há ainda muitos outros conteúdos que o povo gosta de explorar e que devem muito à língua portuguesa, como anedotas, adivinhas, provérbios, cantilenas, trava-línguas, lengalengas e até pregões. Sabe o que é um pregão?
Língua Portuguesa: pregões saloios e pregões populares para recordar
O que é um pregão?
Pregão é um termo que vem do latim praecōne-, «pregoeiro». Este nome masculino significa ato ou efeito de apregoar. É o anúncio público feito em voz alta; proclamação. É sinónimo de divulgação, sendo ainda cada uma das proclamações de matrimónio futuro (sendo mais usado no plural).
Divulgação pública do que pode ser negociado. No Brasil, é modalidade de licitação para aquisição de bens e de serviços na administração pública (por exemplo: pregão eletrónico; pregão presencial).
Os pregões eram como ações de marketing de outros tempos, permitindo anunciar produtos ou serviços que estavam à venda. Assim, os pregoeiros vendiam castanhas, peixe ou outro produto, mas também podiam vender um determinado serviço, como arranjar guarda-chuvas partidos.
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Outros tempos
O amolador, por exemplo, com o seu carro em ripas de madeira, anunciava a sua presença com o pregão “Amola tisoiras ó nabalhas!”. Surgia com uma grande roda e tinha um pedal que servia para mover a pedra, normalmente já bastante gasta, fruto do tempo de trabalho.
Outro pregão possível: “Cá está o amolador, p’ra compor guarda-chuvas. Deito gatos em louça fina, olha o amolador á porta.”
Os pregões saloios
Mér-c´Àlecriim!; Mérc-c´ò mólho d´alecriim!
Mé-c´á réstia d´ààlhos nóóvos!
Ólh´à cou-ve lombar-da!;
Mérc´à mão de náá-bos!;
Méérc´ò mólho de náábos!;
Ólh´ò timááti, quem quér timááti?
O móó-di cinou-las…;
Ólh´àbóbra, quem quér abóóbra?
Côrteirão de pimentos…
Ólh´àlfácia, quem quér àlfáácia…? (1940);
Cá estão nábos, cenouras, tomátes ou pepinosi tud´ô mais que a hórta dá!
Azêite dôô-c´i bom vináágre. Azêite dôôce i vináágre!
A trinta réis ô salamiin! Quem quer azêitõonas nóóóvas?
Déz tostões – salamiim! Quem quer azêitõonas nóóóvas?!
Fáva tôrradiinha!; Fáva riiica! – Fááá-va rii-ca!
Éh! Galiiinhas!; Mérca frâangos!; Galiiiiiiiii-nhas! Quem nas quér i com ôvo?!
Mérc´à dúzia de óóvos!
Méér-c´ò casál de perús!… – Perú salôôiô! É sa-lôôiô!!!
Méérca ô quêi-jo sa-lôôio!; Quem n´ô quér salôôio – ?!
Queijô sa-lôô-io! – Ái! Ô quêi-jô salôôio…!!!
Óh quêêijô salôôi-ô! Óh quêêijô frêês-co!
A tôstãão, cada matacãão! (Rebuçados caseiros).
Óh tremôô-ço saalôôio! – Tremôôç´salôôi-ô! – Tremôô-çôs salôôi-ôs! (Tremoços).
Os que vendiam castanhas diziam…
“Castanhas quentes e boas, quentinhas…
Os que vendiam peixe diziam…
“olha sardinha boa bela e fresquinha”;
Quem quér a-mêêi-joas, pr´à àrrõz?!
I-érre, I-éérre, me-xi-lhão! Ih! Êrre-érre, mexilhão! P´r´à patroa i p´r´ò patrão!…
Éérri éérre, mexilhão! Cá está ô mexilhãão, óh mexilhãão!
Os que vendiam fruta diziam…
Riic´àmóra da hóórta – Amóóra-friia! (amoras=
Quem quér fiigos, quem quér álmôcáár? Quem quér fiigos de capa rôôta?!; Óh figui-nhu de capa rôôta!… Quem quér fiigos –, quem quér álmôçáár…! (figos).
Mééc´à la-rããnja da Chii-na!; Quem quér do rããmo?! Quem quér larããnjas nóóvas?!; É do rããmo!… Quem quér laranja bõõa?! (laranjas).
Óólha ô marméé-lo – assadiinho nô fôrno!; Quem quér – ôs ricos marmelos – assadiinhos no fôrno?!!!.
Melancia e melão: Mérc-c´ ò par de melancii-as!; Mérc-c´ ò par de melõões!; É da Váárzia… Melanci´à – fááca!
Uvas: A quin-ze réis – Quem acá-b´àzúú-vas?!; Quem quér úvas de vi-nha! Quem quér bôô-as úúvas!.
Morangos: Mérc-c´ò cabáz de môran-gos!; Ólh´òs môrãangos! São de Siintra!.
Pêras: A vintém o quarteirão! – Quem acáb´às pê-ras?!.
Os que vendiam pão ou broa diziam:
Pãizinhos quentiinhos – com linguiiça!
Nem p´lô Natal… há brõa igual! Ó meniinas, vinde comprár as brõas do Manél, que curam a tosse – e sábem a mél!
Os ardinas que vendiam jornais dos vendedores da lotaria diziam:
“- olha a sorte grande segunda-feira anda à roda sai ao vigarista.”
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