Portugal prepara-se para enfrentar mais um episódio de mau tempo severo, com chuva persistente, ventos fortes e mar agitado. Depois de semanas marcadas por contrastes meteorológicos — entre o calor fora de época e a chegada repentina do frio —, o país entra agora num período de instabilidade acentuada, que colocará sobretudo o Norte e o Centro sob vigilância apertada.
Os meteorologistas não têm dúvidas: trata-se de um dos episódios de outono mais intensos até agora, com impactos visíveis tanto em terra como no mar. A atmosfera prepara-se para mudar de humor, e a natureza volta a recordar a sua força incontrolável.
Instabilidade a aumentar sobre a Península Ibérica
De acordo com a Meteored, uma perturbação atmosférica em deslocação a norte da Península Ibérica está a gerar uma rápida deterioração das condições meteorológicas em Portugal. A corrente de jato — uma faixa de ventos muito fortes em altitude que influencia o comportamento das frentes — encontra-se particularmente ativa sobre o Atlântico Norte, transportando grandes quantidades de ar húmido e frio diretamente para o território nacional.
Esta configuração vai potenciar o surgimento de chuva intensa, vento forte e ondulação elevada, especialmente a partir da noite de quarta-feira. A situação deverá prolongar-se durante todo o dia de quinta-feira, atingindo o pico entre as 18h e as 10h da manhã seguinte.
Segundo os especialistas, esta frente fria é o resultado de uma colisão entre massas de ar subtropicais e atlânticas, que criam um contraste de temperaturas favorável à formação de sistemas convectivos, responsáveis pelas chuvas persistentes e ventos destrutivos.
Ventos intensos e avisos do IPMA
Os distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real e Bragança serão os mais afetados, com rajadas a atingir os 90 km/h nas zonas montanhosas. Ao longo do litoral, as rajadas deverão oscilar entre 40 e 65 km/h, o suficiente para causar quedas de árvores, deslocação de objetos e danos em infraestruturas frágeis.
Mais a sul, em regiões como Viseu, Aveiro e Guarda, o vento poderá também soprar com força semelhante, aumentando o risco de cortes de energia e interrupções no trânsito. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) deverá emitir avisos amarelos e laranjas em várias zonas do país, com especial atenção para o litoral norte e interior centro.
A circulação rodoviária nas autoestradas e estradas de montanha poderá ser afetada, e os condutores são aconselhados a reduzir a velocidade, manter distâncias de segurança e evitar deslocações desnecessárias durante as horas críticas.
Mar revolto e ondas gigantes
O mar, mais uma vez, será um dos grandes protagonistas deste episódio. A costa a norte do Cabo Carvoeiro enfrentará ondas entre 4 e 7 metros, com períodos de ondulação superiores a 12 segundos — um sinal claro de forte agitação marítima.
Nas regiões de Viana do Castelo, Esposende e Póvoa de Varzim, o mar poderá galgar as zonas costeiras, obrigando à interdição de acessos e à suspensão de atividades marítimas. Já em Aveiro, Leiria e Figueira da Foz, esperam-se ondas médias de 5 metros, que poderão gerar condições perigosas em molhes, portos e passadiços.
A Proteção Civil apela à população para não se aproximar da orla costeira, e desaconselha qualquer tipo de pesca, prática de surf ou passeios junto ao mar. Em situações de mar tão alteroso, basta uma onda mais forte para provocar acidentes fatais.
Chuva intensa e risco de inundações
A chuva será contínua e persistente, com especial incidência nas zonas montanhosas e vales fluviais. O Parque Nacional da Peneda-Gerês poderá acumular até 100 milímetros de precipitação até quinta-feira, enquanto a Serra da Estrela poderá ultrapassar os 75 milímetros, valores que equivalem a quase metade da precipitação média mensal de outubro em apenas dois dias.
Este volume de chuva, aliado aos solos já saturados, poderá provocar cheias rápidas, deslizamentos de terras e transbordo de ribeiros e cursos de água. As zonas urbanas de Braga, Porto, Aveiro e Coimbra estão entre as mais vulneráveis.
A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) alerta que o risco de inundações urbanas súbitas é elevado, sobretudo em ruas com má drenagem ou junto a margens de rios. Recomenda-se a remoção de folhas das sarjetas, a proteção de entradas de garagens e a verificação de telhados e caleiras.
Uma nova frente aproxima-se no fim de semana
O cenário não termina com o fim deste episódio. Segundo o meteorologista Alfredo Graça, uma nova frente fria, associada a um rio atmosférico de origem subtropical, deverá atingir Portugal entre sexta-feira e sábado. Este fenómeno — que transporta grandes quantidades de vapor de água em altitude — poderá reforçar a precipitação e prolongar a instabilidade até ao início da próxima semana.
O especialista sublinha que “este tipo de sistemas é comum no outono, mas a sua frequência tem aumentado, possivelmente devido às alterações climáticas”, lembrando que os rios atmosféricos são responsáveis por alguns dos episódios de chuva mais intensa registados na Europa nos últimos anos.
Um outono de extremos
Este novo temporal confirma o que muitos climatologistas têm vindo a alertar: o outono português está a tornar-se mais imprevisível e extremo. Em poucas semanas, o país passou de ondas de calor fora de época para frentes frias e tempestades atlânticas, com impactos crescentes na agricultura, na energia e na vida quotidiana das populações.
Os especialistas apontam que este padrão poderá repetir-se nos próximos meses, com oscilações bruscas de temperatura, períodos curtos de acalmia e sucessivos episódios de chuva intensa.
Entre ventos furiosos, chuva torrencial e ondas gigantes, o país volta a enfrentar a força do Atlântico — e a realidade de que a natureza, quando decide mostrar a sua força, não dá tréguas.
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