Existem diversas curiosidades sobre o primeiro rei do reino, o fundador de Portugal. Conheça os últimos momentos da vida de D. Afonso Henriques.
Portugal é um país com uma longa história. Ao longo de quase 900 anos de existência, muitos foram as pessoas que se destacaram. Homens e mulheres de áreas distintas mostraram o seu valor e elevaram bem alto o nome de Portugal.
O nome de D. Afonso Henriques é um dos mais emblemáticos da história do nosso país. Existem diversas curiosidades sobre D. Afonso Henriques, o primeiro rei do reino, o fundador de Portugal. No presente artigo do NCultura, iremos centrar a nossa atenção nos seus últimos momentos de vida.
Os últimos momentos da vida de D. Afonso Henriques
O nascimento
D. Afonso Henriques nasceu no dia 25 de junho de 1111. Aquele que se tornou no fundador do reino de Portugal nasceu em Guimarães, cidade que mais tarde se tornou no “berço da nação”. Os pais daquele que ficaria conhecido como o fundador de Portugal foram D. Henrique de Borgonha e D. Teresa de Leão.
O pai
O conde Henrique de Borgonha era aparentado com a família real francesa dos Capetos, uma família abastada. Esta família veio de França para a Península Ibérica anos antes e tinha o objetivo de participar na cruzada contra os mouros. Por isso, eles colocaram-se ao serviço do rei de Leão e Castela, Afonso VI.
A ligação foi benéfica para todos. D. Afonso VI era irmão de uma tia (por afinidade) do jovem Henrique. O Rei Afonso VI sentiu uma grande proximidade com D. Henrique, por isso ofereceu-lhe o governo de um pedaço do seu reino, o Condado Portucalense (também conhecido como Portucale, simplesmente).
Esta região correspondia ao Minho, ao Douro Litoral e ainda integrava parte do que hoje conhecemos como Trás-os-Montes. D. Henrique teve ainda o prémio de poder casar com D. Teresa, filha do rei Afonso VI de Leão.
Contexto
O Conde D. Henrique era detentor do governo do Condado Portucalense que integrava o Reino de Leão. Após lutar contra os mouros na Península, Henrique de Borgonha ainda embarcou para a Terra Santa, para combater numa cruzada no Oriente.
Após regressar dessa jornada, já se encontrava enfraquecido. O Conde D. Henrique morreu pouco tempo depois do regresso. D. Teresa teve que assumir o governo de Portucale quando tinha o pequeno Afonso Henriques nos braços.
Por isso, D. Teresa entregou o menino Afonso à família do barão Egas Moniz. Este homem ficou responsável pela educação do petiz, deixando D. Teresa com mais tempo para os seus afazeres.
Na época, era comum os fidalgos delegarem a responsabilidade da educação ao aio. O termo fidalgos tem como significado “filhos de algo”, ou seja, filhos de alguém (entenda-se, alguém importante!…).
Ligações estratégicas
D. Teresa de Portucale uniu-se aos barões da Galiza num momento em que precisava de apoio no combate contra as ambições dos castelhanos, que queriam tomar toda a Península Ibérica.
Há quem defenda que D. Teresa terá tido um romance sentimental com Fernão Peres de Trava, um dos barões da Galiza. Embora possa não ter havido uma ligação amorosa, certo é que havia uma aliança política (pelo menos).
Fernão Peres de Trava chegou a governar os Condados de Portucale e de Coimbra. D. Teresa e Fernão Peres tinham o apoio de D. Diego Gelmírez, que era arcebispo de Santiago de Compostela.
No entanto, os barões de Entre-Douro-e-Minho não gostaram da ligação criada entre D. Teresa e Fernão Peres de Trava. Entre esses barões encontrava-se Egas Moniz, o homem que se encontrava a educar o jovem Afonso Henriques.
A batalha
Após o falecimento do seu pai, o governo do condado foi destinado a D. Teresa de Leão, a sua mãe. No entanto, ao longo dos anos, ela continuaria a prestar vassalagem ao Rei de Leão.
A postura da mãe não agradava ao jovem Afonso. Ele tinha outros planos. D. Afonso pretendia transformar o Condado Portucalense num reino independente. D. Afonso arma-se cavaleiro.
No ano de 1128, ele vence a batalha de São Mamede. Desta forma, D. Afonso supera a sua mãe e todos os que a acompanhavam e a apoiavam. Entre eles, encontrava-se o nobre galego Fernão Peres de Trava.
O Condado de D. Afonso
D. Afonso Henriques assume a governação do Condado Portucalense, após ter afastado D. Teresa (a sua mãe) do poder. No entanto, o jovem D. Afonso Henriques pretendeu conquistar mais território para o Condado Portucalense, por isso concentrou todos os seus esforços na conquista de territórios localizados a sul.
O jovem D. Afonso Henriques procurou assegurar, assim, o reconhecimento do Condado Portucalense enquanto Reino independente.
Relação com o primo
Essa determinação de D. Afonso levou ao surgimento de diversos litígios bélicos com Afonso VII de Castela e Leão, que era seu primo. Em 1137, mais de 10 anos depois da batalha de São Mamede, D. Afonso Henriques e o seu primo Afonso VII de Castela e Leão colocaram um fim (temporariamente) às hostilidades através do Tratado de Tui.
Proclamação do reino
D. Afonso Henriques foi aclamado pela primeira vez Rei de Portugal no dia 26 de julho de 1139. Esse momento surgiu no dia seguinte à batalha de Ourique contra os mouros. Foi num contexto em que D. Afonso Henriques já apresentava um território mais vasto.
Há quem defenda que essa data poderia ser considerada como o momento do nascimento do nosso País: havia um rei e um reino.
Oficialização
Só no dia 10 de abril de 1140 é que surgiu o primeiro documento onde D. Afonso Henriques surgiu com o título de rei. O primeiro documento que tem essa preciosidade é a carta de couto de Santa Maria de Vilarinho, a passagem é a seguinte:
“Ego egregius rex Alphonsus dei vero providentia totius provincie Portugalensium princeps gloriosissimi Yspanie imperatoris nepos consulis domni Henrici et Tarasie regine filius”.
O Torneio de Arcos de Valdevez
Após conquistar a vitória de Ourique, D. Afonso Henriques rasgou o Tratado de Tui. O tratado tinha sido celebrado com Afonso VII de Leão e Castela. Ele optou por invadir a Galiza. O seu primo Afonso VII reagiu ao desafio e entrou em terras portuguesas, em direção a Arcos de Valdevez.
Em 1141, ambos se encontraram no Vale do Rio Vez, devidamente amparados pelos seus exércitos. No entanto, decidem resolver a contenda por via de um torneio, em vez de encetarem um combate tradicional.
Esse momento ficaria para a história como o Torneio de Arcos de Valdevez (embora também seja designado como Recontro de Valdevez), sendo o desfecho do mesmo favorável a D. Afonso Henriques. Existe um monumento que recorda esse momento.
Informação útil:
Localização: Avenida Recontro do Valdevez, Campo do Trasladário, 4970 Arcos de Valdevez.
Latitude: 41.84544893 / Longitude: -8.41716349.
Tratado de Zamora
Afonso VII reconhece oficialmente que D. Afonso Henriques é Rei com o Tratado de Zamora, documento de dia 5 de outubro de 1143. D. Afonso VII foi Rei da Galiza desde 1111 e Rei de Leão desde 1126. Posteriormente, tornou-se Rei de Toledo e Castela, algo que aconteceu em 1127.
Ora, apesar desse Tratado (realizado em 1143), D. Afonso VII foi coroado imperador de toda a Hispânia no ano 1135. Por isso, tinha todos os reis peninsulares a prestar-lhe vassalagem.
No entanto, D. Afonso Henriques nunca reconheceu Afonso VII como imperador. O rei de Leão e Castela nunca renunciou à sua supremacia e à primazia eclesiástica de Toledo sobre os restantes reinos peninsulares, onde se encontra o reino de D. Afonso Henriques.
O protesto que endereça ao papa Eugénio III aquando da realização do Concílio de Reims (em 1148) comprova a visão de Afonso VII.
Consagração
D. Afonso Henriques ficou para a história como o fundador do reino, mas será que o cognome de «Fundador» se justifica? É incontestável que D. Afonso Henriques tenha sido o obreiro da fundação de Portugal.
D. Afonso transformou um condado num reino independente. Ele teve o mérito de conjugar uma capacidade de liderança militar incomum com uma inteligência e perspicácia política rara. A forma como recorria à guerra ou à diplomacia nos momentos mais oportunos permitiu que liderasse um projeto ambicioso.
Ele conseguiu assegurar a defesa do reino, além de ter conseguido somar várias vitórias. Conseguiu tomar cidades e territórios aos muçulmanos e promover o povoamento sem colocar o reino em risco.
D. Afonso Henriques conseguiu obter o apoio da nobreza e, mais tarde, também conseguiu obter o apoio da Igreja. Assim, o fundador do reino conseguiu dominar os meandros da política internacional da época. Desta forma, D. Afonso Henriques conseguiu superar diversas etapas até conseguir a emancipação de Portugal, tornando-o num reino independente de Castela.
O momento que mais esperou aconteceu cerca de 5 anos antes da sua morte. A consagração da sua carreira política surgiu quando o papa reconheceu D. Afonso Henriques como rei de Portugal.
O reconhecimento papal
O momento mais importante só surgiu em 1179. O Papa Alexandre III reconheceu a independência de Portugal, em definitivo, através da bula Manifestis Probatum. Esse momento confirmou o reino de Portugal ao rei D. Afonso Henriques e também aos seus herdeiros.
No entanto, D. Afonso Henriques e toda a sua descendência ficou obrigada a prestar vassalagem ao Papa, além de ter de pagar uma contribuição monetária anual. Apesar da independência de Portugal ter ficado assegurada, a Igreja tentou sempre imiscuir-se nos assuntos internos do País. Por isso, a independência nunca foi plena.
O documento
Na bula Manifestis Probatum, surgia a confirmação de D. Afonso Henriques como rei de Portugal e reafirmava a proteção da Santa Sé. No documento, estavam escritas as seguintes palavras: “Concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos Sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos”.
Neste momento em que D. Afonso Henriques finalmente assegurava a oficialização da independência de Portugal para a Santa Fé, o rei português já contava com quase 70 anos de idade! O Papa Alexandre III reconheceu a dignidade do título de rei a D. Afonso Henriques e a independência de Portugal.
A dinastia
D. Afonso Henriques reinou entre 1143 e 1185. O primeiro rei de Portugal ficou conhecido pelo cognome de “O Conquistador”. Após a sua morte, o seu filho, D. Sancho I, sucedeu-lhe. Foi o início da dinastia Afonsina.
O sucessor de D. Afonso Henriques ficou conhecido pelo cognome de “O Povoador”. O segundo rei de Portugal reinou entre 1185 e 1211. D. Sancho I era filho de D. Afonso Henriques e de D. Mafalda de Sabóia.
O filho de D. Sancho I e de D. Dulce de Aragão foi o terceiro rei de Portugal. D. Afonso II era neto de D. Afonso Henriques. O seu reinado durou entre 1211 e 1223. D. Afonso II ficou conhecido pelo cognome de “O Gordo”. Foi assim o início da Dinastia Afonsina.
A morte de D. Afonso Henriques
O primeiro rei de Portugal morreu em Coimbra. O último suspiro de D. Afonso Henriques aconteceu no dia 6 de dezembro de 1185. As crónicas da época confirmam que o rei D. Afonso Henriques morreu no dia 6 de dezembro de 1185. Apesar de já contar com 74 anos, uma idade considerada muito avançada para a época, a verdade é que se desconhecem as causas exatas da morte do rei.
Nesse momento, o fundador do reino de Portugal já se encontrava afastado dos assuntos da governação. O seu corpo sofreu durante anos os efeitos dos ferimentos que tinha sofrido em 1169, quando foi realizado o cerco de Badajoz. D. Afonso Henriques tinha 60 anos quando sofreu uma grave lesão numa perna. A recuperação nunca chegou a acontecer na totalidade.
Pouco tempo depois, D. Afonso Henriques retirou-se e entregou a coroa ao filho, D. Sancho, que assumiu a regência de Portugal. Pela mesma altura, a infanta D. Teresa parece ter assumido parte da regência. Esse momento aconteceu antes do casamento realizado com o conde da Flandres.
A partir desse momento, D. Sancho teve a liderança política e militar do reino português. Era D. Sancho que comandava a defesa de Santarém quando decorria uma ofensiva muçulmana, em 1184.
Onde está o corpo?
É na Igreja de Santa Cruz que o corpo de D. Afonso Henriques se encontra sepultado, na cidade de Coimbra. Foi o rei D. Manuel I que mandou erguer o túmulo. D. Afonso Henriques sempre suscitou grande curiosidade. Esse interesse levou à abertura do túmulo no século XVIII, por instrução de D. João V. O túmulo do fundador de Portugal foi aberto novamente em 1832, desta vez por instrução de D. Miguel.
Ainda existe um enorme interesse no túmulo. Muitos historiadores poderiam encontrar várias informações valiosas sobre o rei se estudassem os restos mortais do Fundador. A análise aos restos mortais de D. Afonso Henriques poderia ajudar a desvendar alguns dos mistérios que envolvem a figura do primeiro rei português, nomeadamente a sua estatura, as causas da morte, entre outros dados relevantes.
Estudo cancelado
Uma equipa de cientistas e de historiadores chegou a propor a abertura do túmulo para a realização de diversos testes e análises, como ao ADN, por exemplo. O momento até chegou a ter data marcada (6 de julho, 17 horas). No entanto, apesar do evento ter sido anunciado pela imprensa, nunca chegou a acontecer.
No último momento, as autoridades decidiram cancelar a abertura do túmulo, alegando que havia o risco de danificar os restos mortais de D. Afonso Henriques, de forma irreversível, um argumento que foi aceite pela comunidade científica.
Excelentes textos .
Não se conhece ao certo o local de nascimento de Afonso Henriques, mas os estudos mais recentes apontam Viseu como a cidade mais provável.