Valorize a nossa língua através da escrita! Fique a conhecer os melhores poemas dos países da CPLP.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa congrega 270 milhões de pessoas que falam português. Muitos foram os poetas dos países membros desta comunidade que criaram belíssimos poemas. Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os países que integram esta comunidade que é unida pela língua portuguesa.
Assim, a língua portuguesa está espalhada pelos cinco continentes, na América, na Europa, na África e, como um dos países (Timor-Leste) está numa posição transcontinental, entre a Ásia e a Oceania, o português é falado em todo o mundo. Conheça, agora, alguns dos melhores poemas provenientes dos países que integram a CPLP.
Língua Portuguesa: os melhores poemas dos países da CPLP
Angola
SONS
A guitarra
é som antepassado
Partiram-se as cordas
esticadas pela vida.
Chorei fado.
Que importa hoje
se o recuso:
o ngoma* é o som adivinhado.
José Luandino Vieira
* Ngoma é um tambor tradicional dos países africanos. A sua construção é feita com uma pele de animal esticada sobre um cilindro de madeira.
Brasil
As sem razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
Cabo Verde
CONSTRUÇÃO NA VERTICAL
Com pauzinhos de fósforo
podes construir um poema.
Mas atenção: o uso da cola
estragaria o teu poema.
Não tremas: o teu coração,
ainda mais que a tua mão,
pode trair-te. Cuidado!
Um poema assim é árduo.
Sem cola e na vertical,
pode levar uma eternidade.
Quando estiver concluído,
não assines, o poema não é teu.
Arménio Vieira
Guiné-Bissau
Olhai: o Mar tem influência singular
Sobre mim. Os animais aquáticos são tantos
Valia a pena persegui-los no mar alto;
Valia a pena vê-los saltar através das ondas.
O Mar, esse mundo que os homens não habitam,
É imenso, tão belo e tão perfeito!
O Mar tem influência singular
Sobre mim. Eu bem queria ir ver as ondas;
Valia a pena olhá-las a correr
Loucamente; valia a pena
Ver qual delas primeiro entrava na baía.
Ah!, o Mar vasto, no entanto, aqui nos fala
Sim, fala-nos interiormente,
E nos compreendemos a sua língua:
E uma língua que se entende.
(Ah!, que impressão nos faz o Mar!)
António Baticã Ferreira
Guiné Equatorial
Cântico
Yo no quiero ser poeta
para cantar a África.
Yo no quiero ser poeta
para glosar lo negro.
Yo no quiero ser poeta así.
El poeta no es cantor de bellezas.
El poeta no luce la brillante piel negra.
El poeta, este poeta no tiene voz
para andares ondulantes de hermosas damas
de pelos rizados y caderas redondas.
El poeta llora su tierra
inmensa y pequeña
dura y frágil
luminosa y oscura
rica y pobre.
Este poeta tiene su mano atada
a las cadenas que atan a su gente.
Este poeta no siente nostalgia
de glorias pasadas.
Yo no canto al sexo exultante
que huele a jardín de rosas.
Yo no adoro labios gruesos
que saben a mango fresco.
Yo pienso en la mujer encorvada
bajo su cesto cargado de leña
con un niño chupando la teta vacía.
Yo describo la triste historia
de un mundo poblado de blancos
negros
rojos
y amarillos
que saltan de charca en charca
sin hablarse ni mirarse.
El poeta llora a los muertos
que matan manos negras
en nombre de la Negritud.
Yo canto con mi Pueblo
una vida pasada bajo el cacaotero
para que ellos merienden cho-co-la-te.
Si su pueblo está triste,
el poeta está triste.
Yo no soy poeta por voluntad divina.
El poeta es poeta por voluntad humana.
Yo no quiero la poesia
que sólo deleita los oídos de los poetas.
Yo no quiero la poesia
que se lee en noches de vino tinto
y mujeres embelesadas.
Poesía, sí.
Poetas, sí.
Pero que sepan lo que es el hombre
y por qué sufre el hombre
y por qué gime el hombre.
Donato Ndongo-Bidyogo
Moçambique
Saudade
Que saudade
tenho de nascer.
Nostalgia
de esperar por um nome
como quem volta
à casa que nunca ninguém habitou.
Não precisas da vida, poeta.
Assim falava a avó.
Deus vive por nós, sentenciava.
E regressava às orações.
A casa voltava
ao ventre do silêncio
e dava vontade de nascer.
Que saudade
tenho de Deus.
Mia Couto
Portugal
Mar Salgado
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
São Tomé e Príncipe
Lá no água grande
Lá no “Água Grande” a caminho da roça
negritas batem que batem co’a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes…
Velam no capim um negrito pequenino.
E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso…
Jazem quedos no regresso para a roça.
Alda Espirito Santo
Timor-Leste
PÁTRIA
Pátria é, pois, o sol que deu o ser
Drama, poema, tempo e o espaço,
Das gerações, que passam, forte laço
E as verdades que estamos a viver.
Pátria… é sepultura… é sofrer
De quem marca, co’a vida, um novo passo
Ao povo – uma Pátria – é, num traço
simples… Independência até morrer!
Do trabalho o berço, paz tormento,
Pátria é a vida, orgulho, a aliança
Da alegria, do amor do sentimento.
Pátria… é tradições, passado e herança!
O som da bala é… Pátria, de momento!
Pátria… é do futuro a esperança!
Xanana Gusmão