O dia em que os judeus foram expulsos de Portugal

Fez 521 anos que D. Manuel I assinou o édito de expulsão dos judeus, uma condição imposta por Espanha para que casasse com D. Isabel. Milhares tiveram de escolher entre a expulsão ou a conversão.
Em 1492 um decreto dos reis católicos, D. Isabel e D. Fernando, rompeu com uma longa tradição de tolerância religiosa em Castela, Leão e Portugal. O édito foi publicado a 31 de Março: os judeus de Castela e de Aragão eram obrigados a converterem-se ao cristianismo, sob pena de serem expulsos de Espanha num prazo máximo de quatro meses.

Desde a Idade Média que a população judaica era olhada com alguma desconfiança, tanto em Espanha como em Portugal. E isso tinha uma causa: os judeus trabalhavam para o rei na cobrança das rendas e na organização da contabilidade pública. Os ocasionais ataques a judiarias tinham quase sempre esta motivação. Mas mantinha-se a tolerância quanto à religião.
No final do prazo dado pelos reis católicos, em Julho de 1492, milhares de judeus atravessaram a fronteira, tendo D. João II permitido a entrada dos refugiados e nomeado locais onde poderiam ser integrados: Olivença, Arronches, Figueira de Castelo Rodrigo, Bragança e Melgaço.
Na raia, os judeus espanhóis pagavam uma espécie de portagem e, em troca, recebiam um salvo-conduto. Àqueles que exerciam uma profissão, os funcionários régios faziam um desconto, uma vez que eram tidos como mão-de-obra útil à economia nacional: ferreiros, carpinteiros, oleiros, tecelões.

A documentação coeva não permite definir, com rigor, o total de judeus desterrados. O arqueólogo e etnógrafo Adriano Vasco Rodrigues escreveu que seriam perto de 100 mil; a historiadora Maria José Ferro Tavares, autora de uma vasta bibliografia sobre os judeus em Portugal, preferiu não indicar qualquer número; o historiador Lúcio de Azevedo estimou 120 mil; Damião de Góis escreveu sobre 20 mil famílias; e o Abade de Baçal quantificou 40 mil pessoas.
A maioria destes cidadãos dirigiu-se para as grandes cidades: Lisboa, Porto e Évora. Contudo, uma parcela considerável da população fixou-se na raia, na zona de Ribacôa. Por isso mesmo, existiram comunidades hebraicas em Pinhel, Vila Nova de Foz Côa, Meda, Marialva, Numão, Trancoso, Guarda e Sabugal, explicou Adriano Vasco Rodrigues.
A decisão de viver em povoações fronteiriças justificava-se pela esperança, acalentada por muitos refugiados, de que o decreto de expulsão fosse revogado, possibilitando assim o regresso a Espanha.

A autorização de entrada atribuída por D. João II tinha, no entanto, um prazo de validade: o salvo-conduto extinguia-se ao fim de oito meses. Os judeus poderiam viajar para outras paragens, mas o rei só lhes permitiu embarcar em navios com destino a Tânger e a Arzila. Alguns fizeram-no, mas acabaram por regressar a Portugal depois de terem sido maltratados e roubados pelos mouros.
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