A Nau Portugal era para ser um símbolo da portugalidade com tudo o que isso, à época, significava. Mas acabou por ser um fracasso. Saiba porquê!
A Exposição do Mundo Português de 1940 visava mostrar o melhor de Portugal e da sua história, numa clara medida propagandista que pretendia elevar o regime vigente: o Estado Novo.
A nau Portugal foi uma das grandes atrações da Exposição do Mundo Português. Ela simbolizava a epopeia marítima nacional. Correspondia à reconstituição de um galeão português da carreira da Índia do século XVII.
Com esta embarcação, pretendia recordarem-se os Descobrimentos e a glória de outros tempos, ao mesmo tempo que se mostrava que, tal como no passado, Portugal podia ainda ser uma grande potência no mundo.
No entanto, as desventuras que esta nau enfrentou fizeram com que ela não tivesse o sucesso inicialmente previsto, nem sobrevivesse à Exposição, conforme era expectável. Saiba porquê.
O acidente da Nau Portugal e a Exposição do Mundo Português
A Exposição do Mundo Português
A Exposição do Mundo Português ocorreu na capital, nos anos 40 do século passado. Foi uma das maiores exposições alguma vez feita em Portugal.
A inauguração aconteceu no dia 23 de julho de 1940 em pleno Estado Novo, e foi um meio de Salazar e do seu regime promoverem a história portuguesa, ao mesmo tempo que a usavam como propaganda do próprio Estado Novo.
Aproximadamente 3 milhões de pessoas, sobretudo portugueses, compareceram neste certame, assim como alguns refugiados de guerra. A exposição estava dividida pelos principais momentos históricos da nação, sem esquecer os espaços dedicados às colónias e à etnografia.
Além disso, o certame contava com um setor dedicado a mostrar os feitos do regime, de que são exemplo o bairro comercial e industrial e o pavilhão das telecomunicações e do caminho-de-ferro.
Passados 5 meses, no mês de dezembro, a exposição encerrou, sendo demolidas todos os edifícios erguidos para o certame, tendo sido conservados o Museu de Arte Popular e a Praça do Império.
O Padrão dos Descobrimentos
O Padrão dos Descobrimentos foi feito no contexto desta exposição, em homenagem à figura do Infante D. Henrique. Contudo, como tantas outras construções, também esta se tratava de uma construção efémera e, por isso, em 1958, foi desmontado.
No entanto, na década de 60, ele acabou por ser reconstruído, desta vez em pedra e betão, para lembrar os 500 anos da morte do Infante. É este o Padrão que, ainda hoje, podemos visitar em Lisboa, na zona de Belém.
As fontes de inspiração
Para isso, foram tidas por base as crónicas de Garcia de Resende, o «Livro das Armadas», os
estudos de Lopes de Mendonça e de Quirino da Fonseca, a «História da Colonização Portuguesa» de Malheiro Dias e Roque Gameiro.
Serviram ainda de inspiração as obras “La Roérie” de Carl Laughton e de Laird Clowers, conservador do Museu de Londres, e as informações colhidas nos museus navais de Paris e de Greenwich.
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O projeto
O projeto da nau foi da responsabilidade do comandante Quirino da Fonseca e do professor Martins Barata e foi dirigido e coordenado por Leitão de Barros. A sua construção coube ao mestre Manuel Maria Bolais Mónica, natural de Aveiro.
Esta réplica histórica seria a maior embarcação de madeira até então construída em estaleiros navais portugueses.
A nau tinha umas espantosas 1300 toneladas e uns incríveis 50 metros de
comprimento. As suas linhas eram elegantes e o destaque ia para os trabalhos em talha e ouro.
Exibia ainda o escudo real nacional do final do século XVII, escultura decorativa e imponentes lanternas em ferro com 4,5m cada.
Na proa, havia um castelo com 12 m de altura, revestido a ouro e com uma coroa real no topo, ladeada por dois anjos e figuras de vitórias que empunhavam fachos. Detinha ainda 48 peças em bronze vivo,
No interior, o luxo era equivalente, com damascos, tapeçarias, arcas, cofres, bronzes, vitrais, talha e ferraria.
Manuel Maria Bolais Mónica
O trabalho deste construtor naval desenvolveu-se entre 1916 e 1940. O seu posto de trabalho era a Gafanha da Nazaré, de onde saíram cerca de 47 navios, lugres, traineiras ou batelões, contribuindo para o desenvolvimento da frota bacalhoeira de Aveiro.
A entrada da nau na ria
Em julho, deslocaram-se à Gafanha da Nazaré várias individualidades, a saber: autoridades de Lisboa, do Porto, de Coimbra, representantes da Comissão dos Centenários, governador civil de Aveiro e representantes das instituições locais.
O objetivo era assistir ao lançamento à ria da nau, a qual deveria ser ainda abençoada pelo arcebispo de Aveiro.
No entanto, o momento áureo não decorreu como esperado e, assim que a nau adornou para estibordo, ela voltou-se, deitando à água quem seguia a bordo e teve de ser socorrido por outras embarcações que estavam nas imediações. A responsabilidade terá sido do vento que desviou a nau e fez com que quilha batesse no fundo da ria e fizesse a embarcação tombar.
Documentário «A Nau Portugal» (1940)
Um dos realizadores da época, António Lopes Ribeiro, dedicou uma curta-metragem a esta nau, nomeadamente aos trabalhos de recuperação da embarcação, os quais envolveram o uso de dragas, mergulhadores e guindastes.
Depois, é ainda mostrada a chegada da embarcação ao Tejo, mais exatamente ao espaço situado entre a Torre de Belém e o Padrão dos Descobrimentos.
Veja o documentário e o acidente:
Vídeo de: J.P. H.
A reparação e a inauguração
Após o incidente, começaram os trabalhos de reparação da nau, os quais demoraram mais tempo do que era previsto. Assim, a nau só atracou em Belém no mês de setembro.
Na inauguração, estiveram presentes marinheiros do “Sagres”, vestidos ao gosto seiscentista, e que faziam exercícios nas vergas do galeão.
Outro acidente
Acabada a Exposição do Mundo Português, o objetivo era que a nau ficasse exposta no Porto ou recebesse motores para que fosse capaz de navegar e pudesse ser usada em cruzeiros de propaganda ou ainda servisse para acolher um museu naval português.
Porém, um outro acidente traçaria o destino desta embarcação. Em 1941, um forte temporal partiu os seus cabos e fez com que a encalhasse na entrada da doca. Assim, a embarcação acabou vendida à Companhia Comercial de Navegação, que a utilizou como casco para transporte e depósito de mercadorias. Já as suas talhas douradas foram expostas e vendidas.
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Agora eu entendo o porque no Brasil a exemplo de Portugal durante um certo período relegam a cultura e ao sacro dever de preservar sua história ao esquecimento! Hoje é exatamente isso que ocorre aqui no Brasil nos dias atuais.
12/11/2021.
preservar nossa história ao esquecimento, e a minha missao. Ja que mesmo nos tugas ou portugueses, nao conhecem , e ainda muito pior, estao se nas tintas, nem querem saber dela. Ja que os problemos do dia-a-dia sao esmagadores em muitos casos.