Ao longo da história, foram muitos os escritores que escreveram sob a assinatura de um nome que não era o seu. Conheça pseudónimos de escritores portugueses famosos.
Quais os motivos que podem levar um autor a omitir a sua verdadeira identidade? A escolha de um pseudónimo terá sempre razões que revelam muito sobre a personalidade do autor.
Um autor pode ter uma vida profissional noutra área (medicina, arquitetura ou qualquer outra) e enveredar pelo universo das letras, recorrendo a um pseudónimo que lhe garanta total liberdade e o indispensável anonimato. Ou um escritor pode também pretender homenagear alguém (um familiar, um amigo, um escritor…) ou algo (e simplesmente usar o nome da sua terra natal).
Descortinar as razões que fundamentam esta opção nem sempre é fácil. Contudo, é sempre possível especular sobre as inúmeras possibilidades que podem ser colocadas, sabendo que a margem para errar não é reduzida.
Língua Portuguesa: pseudónimos de escritores portugueses famosos
Definição de pseudónimo: Termo que vem do grego pseudónymos. Significa nome sob o qual alguns escritores optam por publicar as suas obras, omitindo a sua verdadeira identidade. Um escritor que subscreve as suas obras com um nome que não é o seu.
O Barbadinho da Congregação de Itália (1713-1792)
Luís António Verney, é o verdadeiro autor da obra O Verdadeiro Método de Estudar, uma obra de rutura num contexto inóspito para quem pretende alterar uma visão ortodoxa. Esta obra foi publicada sob a autoria do anónimo religioso Barbadinho da Congregação de Itália. Nascido em 1713, em Lisboa, este homem que viveu uma vida plena, foi teólogo, padre, filósofo, professor e escritor. Faleceu no ano de 1792, na cidade de Roma, em Itália.
Elmano Sadino (1765-1805)
Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage ou, simplesmente, Bocage foi figura de grande relevo da poesia nacional. O seu nascimento, em Setúbal, ocorreu no ano 1765, tendo falecido no início do século seguinte, mais especificamente em 1805.
Teve uma vida repleta de peripécias interessantes. No ano de 1790, aderiu à Nova Arcádia ou Academia das Belas Letras, espaço onde adotou o pseudónimo Elmano Sadino. Contudo, não foi necessário passar muito tempo até que a sua ímpar personalidade e o seu nome verdadeiro emergissem, pois escreveu críticas ferozes contra os seus companheiros.
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Júlio Dinis (1839-1871)
Joaquim Guilherme Gomes Coelho foi um médico que colocou todo o seu talento para as letras em obras que tinham como autor Júlio Dinis. A cidade Invicta foi o local de nascimento deste escritor, decorria o ano de 1839. Foi também no Porto que faleceu, no ano de 1871. Entre as suas obras estão títulos tão emblemáticos como As Pupilas do Senhor Reitor, Uma Família Inglesa, A Morgadinha dos Canaviais.
João Falco (1892-1958)
João Falco é, na verdade, uma mulher de enorme talento. Irene Lisboa que tem como sua magnus opus, Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma, foi também Manuel Soares e Maria Moira, outros pseudónimos usados pela escritora que nasceu em 1892.
Foi professora e pedagoga, tendo a sua passagem pela Suíça, França e Bélgica contribuído substancialmente para a sua visão sobre assuntos pedagógicos. Publicou diferentes obras sobre esta temática. Faleceu no ano de 1958, com 65 anos. Sob o pseudónimo de João Falco publicou, por exemplo, Começa uma Vida.
António Gedeão (1906-1997)
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu no ano de 1906, tendo falecido em 1997. Foi um professor de Físico-Química dedicado e um poeta português. Pedra Filosofal e Lágrima de Preta são dois dos seus poemas mais famosos. O seu corpo está no interior do Jazigo dos Escritores Portugueses, no Cemitério dos Prazeres (no Talhão dos Artistas), na cidade de Lisboa. Neste jazigo, estão outros escritores importantes como José Cardoso Pires ou Fernando Namora.
Miguel Torga (1907-1995)
Adolfo Correia da Rocha é o nome deste escritor que ficará para sempre eternizado na história da Literatura Portuguesa como Miguel Torga, pseudónimo com o qual publicou a sua obra.
Nascido em São Martinho de Anta, em 1907, tornou-se numa das figuras mais emblemáticas da Literatura em Portugal, no século XX. Faleceu em 1995 e, entre a sua vasta produção, é possível encontrar obras como: Bichos, Contos da Montanha, Fábula de Fábulas, Cântico do Homem.
Uma produção vasta e eclética, onde explorou contos, romances, ensaios, peças de teatro. Foi no ano de 1989 que recebeu o Prémio Camões.
Eugénio de Andrade (1923-2004)
O nome verdadeiro de Eugénio de Andrade era José Fontinhas. José foi um poeta português que fez uma obra de um mérito inatacável, sendo reconhecido pelo seu pseudónimo Eugénio de Andrade.
Este escritor, nascido no ano de 1923, foi autor de obras relevantes como Narciso, As mãos e os frutos, As palavras interditas. Faleceu com 82 anos. No Fundão, onde nasceu, existe uma biblioteca com o seu nome. Em 2001, quatro anos antes de falecer, recebeu o Prémio Camões.
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Outros exemplos
– Teixeira de Pascoaes (1877-1952, cujo nome real é Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos);
– José Régio (1901-1969 que era, na verdade, José Maria dos Reis Pereira);
– Luandino Vieira (nascido em 1935, cujo nome é, na realidade, José Vieira Mateus da Graça);
– Almeida Garrett (1799-1855, nasceu com o nome de João Baptista da Silva Leitão. Em Coimbra, onde estudou Direito, adotou o nome que o fez famoso. No início da sua produção literária, usou o pseudónimo de Josino Duriense);
Arcádia(s)
Em pleno século XVIII, os poetas da Arcádia Lusitana (fundada em setembro de 1756) deviam escrever fazendo uso de pseudónimos. A revista foi fundada por três juristas: Elmano Sincero (Manuel Nicolau Esteves Negrão), Elpino Nonacriense (Cruz e Silva) e Tirse Menteo (Teotónio Gomes de Carvalho).
Mais tarde, juntaram-se a eles Coridon Erimanteo (Correia Garção), Alcino Micénio (Reis Quita) e Lícidas Cíntio (Manuel de Figueiredo).
Após a sua extinção em 1766, ela renasce como a Nova Arcádia. Entre os nomes que surgem nesta mais recente produção estão: o do já mencionado Elmano Sadino (Bocage), Elmiro Tagideu (José Agostinho de Macedo) e, entre outros, Filinto Elísio (Francisco Manuel do Nascimento).
Miguel Torga, nasceu em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real. Ou estou enganado?.
Muito obrigado pela chamada de atenção. Bom fim de semana.
Eu sempre ouvi o nome de Bocage ser “Manuel Maria Barbosa du Bocage”. Será que a minha memória é falsa ou o nome dele neste artigo foi mal escrito?