Portugal prepara-se para enfrentar uma das semanas mais instáveis e intensas deste outono. A partir de segunda-feira, 10 de novembro, uma vasta depressão atlântica — com dimensões próximas dos 2.000 quilómetros de diâmetro — deverá atingir o território continental, trazendo chuva intensa, ventos fortes e trovoadas, especialmente nas regiões Norte e Centro.
Segundo as previsões meteorológicas do portal Tempo.pt e do modelo europeu ECMWF, entre os dias 10 e 16 de novembro o país será dominado por uma circulação atlântica muito ativa, responsável por sucessivas frentes frias que atravessarão o território de forma quase contínua. A instabilidade será generalizada e poderá provocar acumulados de precipitação muito acima do normal para esta época do ano, com anomalias positivas entre +30 e +60 milímetros de norte a sul.
Em contrapartida, o arquipélago dos Açores deverá escapar à instabilidade, beneficiando da influência de um anticiclone que limitará a formação de nuvens e a ocorrência de precipitação.
O poder do jato polar e o “coração” da tempestade
O fenómeno que está na origem desta sequência de frentes é o jato polar — uma poderosa corrente de ventos, localizada entre os 9 e os 16 quilómetros de altitude, que separa as massas de ar frio polar das massas de ar quente subtropical.
Nos próximos dias, esta corrente deverá descer de latitude, aproximando-se da Península Ibérica e criando as condições ideais para o cavamento de depressões de grande escala no Atlântico oriental. Uma dessas depressões poderá atingir uma extensão impressionante de 2.000 quilómetros de diâmetro, com centros posicionados a oeste ou noroeste de Portugal.
À superfície, este cenário traduz-se em frentes frias e oclusões sucessivas, responsáveis por chuva contínua, trovoadas dispersas e vento forte, sobretudo nas terras altas e nas zonas costeiras ocidentais.
As regiões mais afetadas
O quadrante Noroeste do território continental será o mais fustigado. As regiões do Minho, Douro Litoral e Trás-os-Montes Ocidental poderão registar acumulados superiores a 150 milímetros ao longo da semana, com picos próximos dos 190 milímetros entre quarta e quinta-feira (12 e 13 de novembro).
Em Viseu, Coimbra e Leiria, as previsões apontam para totais entre 60 e 75 milímetros, enquanto no Sul — nomeadamente no Alentejo e Algarve — a instabilidade chegará de forma mais atenuada, mas ainda capaz de provocar períodos de chuva forte e trovoadas localizadas.
O pico de atividade atmosférica deverá ocorrer a meio da semana, com sucessivas linhas de instabilidade e curtos intervalos de acalmia entre frentes.
Vento, mar e temperaturas
As rajadas de vento serão moderadas a fortes, podendo ultrapassar os 80 km/h nas terras altas e durante as passagens frontais. A agitação marítima aumentará significativamente no litoral ocidental, com ondas que poderão ultrapassar os 5 metros, representando risco acrescido para a navegação e para as zonas costeiras mais expostas.
As temperaturas manter-se-ão relativamente amenas para a época:
- Máximas: entre 13 °C no Norte e 21 °C no Sul;
- Mínimas: entre 7 °C e 14 °C no interior, podendo atingir 21 °C em Lisboa na madrugada de quarta-feira.
A cota de neve manter-se-á elevada, limitando o fenómeno às zonas mais altas da Serra da Estrela.
Riscos e recomendações
Com solos já saturados e a previsão de precipitação contínua, o risco de inundações rápidas em meio urbano e de escorrência em pequenas bacias hidrográficas será elevado, sobretudo nas regiões do Noroeste.
As autoridades recomendam:
- Evitar deslocações desnecessárias durante os períodos de maior instabilidade;
- Reduzir a velocidade e aumentar a distância de segurança ao conduzir sob chuva intensa;
- Evitar zonas ribeirinhas, molhes e arribas costeiras, devido ao risco de ondas fortes e rebentação violenta;
- Verificar sistemas de drenagem e escoamento em propriedades privadas e edifícios.
Um outono em plena força
De acordo com o Executive Digest, tudo indica que Portugal atravessará uma semana de autêntico outono, com chuva persistente, vento, trovoadas e mar agitado.
Embora traga riscos e perturbações, esta sequência de frentes poderá ajudar a aliviar a seca que ainda afeta algumas regiões do país.
O jato polar e a depressão atlântica unem-se, assim, num cenário que promete marcar o mês de novembro com um retrato fiel do poder e da imprevisibilidade do clima atlântico.




