Reza a lenda que no Rossio se encontra a estátua, não de D. Pedro IV, mas sim do imperador Maximiliano do México. Será verdade?
A história está recheada de factos, mas também de lendas que vão alimentando a pequena história e as curiosidades que por vezes vamos lendo ou nos vão contando.
Em alguns casos, basta apenas uma opinião, um comentário ou uma imprecisão, para dar origem a um mito que se pode perpetuar e até ser assumido por muitos como uma verdade absoluta.
É este o caso da história da estátua de D. Pedro IV na Praça D. Pedro IV, em Lisboa, a qual muitos continuam a julgar ser uma representação do imperador Maximiliano do México. Como nasceu esta versão da história e porque é que ela não tem qualquer fundamento é o que lhe vamos explicar neste artigo.
D. Pedro IV ou Maximiliano? Quem está na estátua do Rossio?
O contexto histórico
D. João VI era filho da Rainha D. Maria I e do Rei D. Pedro III. Ele nasceu no dia 13 de maio de 1767, no Palácio Nacional de Queluz, em Lisboa. Reinou o país entre 1816 e 1826, ano em que morreu, a 10 de março, em Lisboa. Ficou para a História com o cognome de “O Clemente”,
Casou com D. Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbon e Bourbon com quem teve um filho, D. Pedro IV. D, Pedro nasceu a 12 de outubro de 1798, em Queluz, tendo iniciado o seu reinado em 1826. Ele ficou para a história com o cognome de “O Rei Soldado” e esteve envolvido em várias polémicas.
Foi rei em Portugal (D. Pedro IV) e imperador no Brasil (D. Pedro I). Porém, os gregos chegaram a oferecer-lhe o trono se ele lutasse contra o Império Otomano. E até os espanhóis lhe propuseram a coroa, se ele estivesse disposto a liderar uma espécie de monarquia ibérica.
Casou com D. Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo e, depois, com D. Amélia de Beauharmais. Morreu no dia 24 de setembro de 1834, no Palácio Nacional de Queluz, em Lisboa.
A revolução liberal
D. Pedro IV, além de ter proclamado a independência do Brasil através do célebre grito do Ipiranga, também apoiou a monarquia constitucional, enfrentando o seu irmão absolutista, D. Miguel.
Em Lisboa, o palco da revolução liberal foi a Praça D. Pedro IV, motivo pelo qual se julgou ser o sítio ideal para erguer uma estátua ao rei liberal.
A estátua de D. Pedro IV no Rossio, em Lisboa
Porém, a construção da estátua foi um processo tudo menos pacífico ou fácil. Foram feitos 3 concursos públicos e 2 demolições.
O terceiro concurso internacional ocorreu em 1864. Houve 87 projetos candidatos, tendo vencido o do escultor Louis Valentin Elias Robert e do arquiteto Gabriel Davioud. Já em segundo lugar ficou o de António Tomás da Fonseca.
O projeto vencedor consistia numa coluna colossal, cuja base ostentava princípios como: Moderação, Prudência, Justiça e Fortaleza. Também incluía as armas das 16 cidades do reino e, no topo, exibia coroa de louros, manto real e a Grã-Cruz da Torre e Espada.
D. Pedro segurava na mão a Carta Constitucional, enquanto fitava o bisavô absolutista, D. José I, montado a cavalo e representado no Terreiro do Paço.
O mito
Contudo, durante muito tempo, foi alimentada a versão de que a estátua de D. Pedro no Rossio seria, na sua génese, uma representação de Maximiliano do México, personagem que acabou fuzilada.
O mito defendia que tinha sido feito uma espécie de reaproveitamento de uma estátua que seria de Maximiliano, mas que, entretanto, já não fazia sentido ser feita e erguida.
Outras versões falam numa troca de estátua e que, por essa ordem de ideias, a estátua de D. Pedro estaria no México, enquanto a de Maximiliano se erguia no Rossio.
No entanto, não há fundamento nesta história, já que todos os projetos e insígnias da obra confirmam que desde o esboço esta estátua foi pensada para ser a representação fiel de D. Pedro.
A estátua de D. Pedro IV na Praça da Liberdade, no Porto
A ligação de D. Pedro à cidade do Porto é muito forte. Além das lutas liberais que aqui travou e venceu, a cidade apoia a sua filha, D. Maria II, quando esta assume no trono. Além disso, é na Invicta que repousa o coração do monarca, mais exatamente na Igreja de Nossa Senhora da Lapa.
Portanto, não é de admirar que o Porto também tenha uma estátua do monarca. A estátua equestre é imponente e um dos marcos mais simbólicos de toda a cidade.
A ligação com o Brasil
Também neste país é possível encontrar estátuas de D. Pedro, não tivesse sido o imperador a decretar a independência do Brasil. Porém, antes disso, ele assumiu a liderança do país, tornando-o num império e impedindo que o território se fragmentasse em repúblicas, como estava a acontecer noutros países da América Latina.
Assim, seguindo os conselhos da imperatriz Leopoldina e de José Bonifácio, D. Pedro concentrou-se exclusivamente no governo do Brasil, de modo a garantir a sua integridade.
D. Pedro IV, o pai
Enquanto pai, D. Pedro foi uma figura muito presente e generosa. Abdicou da coroa portuguesa para a filha e da brasileira para o filho que, com apenas 5 anos, ficou sozinho na regência do Brasil, acompanhado pelo conselheiro real, José Bonifácio.
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Trata-se de uma anedota que já não tem graça há muitos anos. O escritor e historiador Rocha Martins fez-se acomoanhar (há para úns 80 anos) de pessoal munido de telescópios para poder examinar em pormenor a estátua do Rossio. Não havia dúvida: era um Bragança, era D. Pedro IV. Mas há muito menos tempo, quando João Soares foi presidente da Câmara de Lisboa, foi efectuada uma operação de limpeza no Rossio, que incluiu, obviamente, a estátua. Há fotografias em que pode ver-se minuciosamente o rosto, as barbas, a farda – e até as cinco quinas nos botóes… Ou é D. Pedro IV ou um irmão gémeo (que não consta ter existido…). Insisto: a historieta da confusão com Maximiliano foi anedota que já teve a sua graça.