Por que razão se diz que D. Afonso Henriques bateu na mãe? Seguramente já o ouviu, certo? Perceba as razões do mito. D. Afonso Henriques, o rei que bateu na mãe?
A monarquia tem um encanto especial. Portugal teve mais de três dezenas de reis ao longo de quase 900 anos da História, tendo existido um total de quatro dinastias a decidirem os destinos do reino. Era um mundo de reis e rainhas, de príncipes e de princesas, mas sem magia, sem fadas, sem dragões.
Nesse tempo, mesmo com os reis e as rainhas a serem idolatrados como deuses, eles revelavam ser pessoas comuns, de carne e osso, com virtudes e defeitos como qualquer um de nós. Os reis, se amavam e não eram correspondidos, sofriam. Se fossem feridos por espadas, sangravam e morriam. Eram atingidos por problemas comuns na época como a peste. Eram traídos, seja pela pessoa amada, por amigos ou por parceiros estratégicos… Não faltam episódios particulares que comprovam como os reis e as rainhas também cometiam erros e eram pessoas tão humanas, quanto nós.
Para o enaltecer, o NCultura tem vindo a publicar vários artigos com episódios curiosos e intrigantes sobre reis e rainhas. No presente artigo, iremos centrar-nos em D. Afonso Henriques.
D. Afonso Henriques, o rei que bateu na mãe?
O primeiro rei
A 1ª Dinastia, que é conhecida tanto como Dinastia Afonsina, como por Dinastia Borgonha, começou com D. Afonso Henriques. Aquele que se tornou no primeiro rei de Portugal nasceu no dia 25 de junho de 1111, em Guimarães, a cidade que se tornou no “berço da nação”.
D. Afonso Henriques era filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa e tornou-se n’ “O Conquistador”, o primeiro rei de Portugal, que reinou entre 1143 e 1185.
Da sua relação com D. Mafalda de Sabóia, nasceu D. Sancho I, que ficou conhecido como “O Povoador” e reinou entre 1185 e 1211. D. Afonso II, neto de D. Afonso Henriques, foi o “O Gordo”. O filho de D. Sancho I e de D. Dulce de Aragão reinou entre 1211 e 1223, dando sequência à Dinastia Afonsina.
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Será D. Afonso Henriques o rei que bateu na mãe?
Muitas vezes, ouvem-se histórias na escola, mas mesmo que algo seja várias vezes repetido, isso não torna o que é dito verdadeiro. Muitos de nós ouvimos dizer que D. Afonso Henriques bateu na mãe. Não é algo bonito de se dizer do fundador do país, pois não?
O primeiro rei de Portugal «criou» Portugal, mas não bateu na mãe. Isso era algo humilhante e todos os portugueses se sentiriam envergonhados, se tal fosse verdade. Est é uma questão de português. E sabemos como a língua portuguesa é complicada!…
O motivo
D. Afonso Henriques não bateu ‘na’ mãe, mas bateu ‘a’ mãe, isto é, superou-a, derrotou-a. Não é bem a mesma coisa, pois não?
D. Afonso Henriques e D. Teresa estavam em diferentes lados da batalha. D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, vivia num castelo em Guimarães e defendia a ligação à Galiza. Ela era filha ilegítima do rei Afonso VI de Leão e Castela, sendo conhecida por Teresa de Leão.
D. Afonso Henriques só fundou Portugal por ter conseguido vencer os que, tal como D. Teresa, defendiam a ligação à Galiza.
O pai
O conde Henrique de Borgonha era pai de Afonso. Ele era aparentado com a família real francesa dos Capetos, uma abastada família que veio para a Península Ibérica anos antes, vinda de França, visando participar na cruzada contra os mouros.
Eles colocaram-se ao serviço do rei Afonso VI de Leão e Castela. Esta ligação deu frutos, pois Afonso VI de Leão e Castela era irmão de uma tia do jovem Henrique, uma tia por afinidade. O que é certo é que o Rei Afonso VI de Leão e Castela sentiu proximidade com D. Henrique que lhe ofereceu o governo de um pedaço do seu reino… o Condado Portucalense, também simplesmente conhecido como Portucale. Tal correspondia a uma região que abrangia não só o Minho, como o Douro Litoral e ainda parte de Trás-os-Montes. Além disso, ainda teve direito à mão da bela filha do rei Afonso VI de Leão, D. Teresa.
Morte do pai e educação do príncipe
Henrique de Borgonha lutou contra os mouros na Península e ainda embarcou para a Terra Santa, de forma a combater numa cruzada no Oriente. Depois disso regressou, mas pouco tempo depois morreu, ficando Teresa com o pequeno Afonso Henriques nos braços. Assim, ela teve de assumir o governo de Portucale.
Ela entregou o menino à família do barão Egas Moniz, que ficaria responsável pela educação do petiz, enquanto ela, rainha, reinava. Na época, era comum os fidalgos serem educados por um aio. O termo fidalgos significa “filhos de algo”, isto é, filhos de alguém importante.
Ligações
D. Teresa de Portucale precisava de apoio no combate contra as ambições dos castelhanos, que queriam a Península Ibérica. Por isso, uniu-se aos barões da Galiza. D. Teresa terá tido um romance sentimental com um dos barões, Fernão Peres de Trava. Esta aliança foi pelo menos política. Fernão chegou a governar os Condados de Portucale e de Coimbra.
Os barões de Entre-Douro-e-Minho não gostaram da ligação. Entre os barões estava Egas Moniz, que se encontrava a educar o jovem Afonso Henriques. Fernão Peres e Teresa tinham o apoio do arcebispo de Santiago de Compostela, D. Diego Gelmírez.
“Portugueses” contra “galegos”
A batalha era inevitável, opondo dois bandos de guerreiros, de um lado o «português» e do outro o «galego». Perto do Castelo de Guimarães, no campo de São Mamede, surgiu o confronto, no dia 24 de junho de 1128.
A batalha tem quase 900 anos e sem ela não estaríamos aqui, pelo menos a falar português… Foram os barões do Douro e do Minho, com o jovem Afonso Henriques do seu lado, a vencer a batalha. Desejoso de afirmar a independência face ao arcebispo de Compostela, o arcebispo de Braga, D. Paio Mendes, também esteve do lado dos “portugueses”.
Afonso Henriques, o rei que bateu “a” mãe
Assim, a lenda de que D. Afonso Henriques «bateu na mãe» não é bem assim…
D. Afonso Henriques foi o rei que bateu “a” mãe, superou-a no campo de batalha, esteve no lado vencedor. Não foi um “bater” literal, como as pessoas por vezes pensam.
Esta batalha permitiu que Portugal se separasse da Galiza, levando à independência do nosso país. Por isso, o desfecho da Batalha de São Mamede foi crucial. O governo de Portucale ficou nas mãos do jovem Afonso Henriques e dos barões do Douro e do Minho, depois de Teresa e Fernão Peres terem sido derrotados.
Finalmente, Afonso terá mandado enclausurar a mãe no Castelo de Lanhoso, perto de Braga, foi o que o povo então contou, embora não haja provas disso.
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