Nunca na história do Reino Unido houve um rei com as preocupações que o Rei Carlos III já manifestou. Ele é um ativista ambiental que fala com as plantas.
O Reino Unido chorou a morte da Rainha Isabel II, uma mulher que este ano chegou a celebrar o Jubileu de Platina, evento relativo aos 70 anos de reinado. Reinar ao longo de sete décadas foi um feito inédito na história do Reino Unido.
Ela tinha apenas 25 anos quando assumiu a coroa e despediu-se com 96 anos. Ao longo do seu reinado, a rainha Isabel II conseguiu conquistar o coração do seu povo, com a sua elegância e graciosidade. Por isso, deixou um legado pesado para o seu filho.
O Rei Carlos III tem uma herança que deve respeitar. Não deve tentar fazer melhor que a mãe, mas dar um contributo distinto. A sua personalidade é diferente. Nunca na história do Reino Unido houve um rei com as preocupações que o Rei Carlos III já manifestou. O novo monarca britânico quer salvar o mundo…
Carlos III diz que fala com as plantas e que elas respondem
A consciência ambiental
O então Príncipe Carlos despertou para o problema nos anos 60. Já nessa época percebeu que se devia respeitar o planeta. Fê-lo numa altura em que ninguém (ou poucas pessoas) queria saber do ambiente.
Atualmente, todos lhe dão razão, todos percebem que se as mudanças tivessem sido realizadas mais cedo, a mudança de comportamentos teria sido mais rápida, mais fácil e mais eficaz.
A série “The Crown”
Na Netflix, há uma série de sucesso que se centra na Família Real. “The Crown” é uma série controversa que nos faz acompanhar o longo percurso do reinado de Isabel II. Embora esta série misture factos com a ficção, não sendo fácil destrinçar entre a realidade e a imaginação.
Contudo, é possível confirmar alguns pormenores verídicos na série. Por exemplo, na terceira temporada da série, somos convidados a acompanhar o atribulado casamento de Carlos e Diana.
O momento da jardinagem
Num momento da série em que o príncipe de Gales já se encontra num relacionamento com Camila Parker-Bowles, há um momento que espelha a personalidade de Carlos. Num momento em que o casal se encontra na nova residência oficial, a personagem de Camila revela que Carlos se mostra “obcecado por jardinagem”.
O início do relacionamento com Camila foi polémico, mas ela manteve-se como companheira e atualmente é rainha consorte. O facto de a série chamar a atenção para este ponto em particular, ela revela que as pessoas responsáveis pela série fazem um trabalho exaustivo para caraterizar o príncipe de forma perfeita, uma vez que ele chegou a confessar que até fala com as plantas.
Perceba por que Carlos não casou com Camila em primeiro lugar
Amante da Natureza
Após cinco anos do casamento com Diana, em 1986, Carlos já tinha dado a conhecer o seu gosto pela jardinagem. A sua fama de jardineiro vem de longe. O agora Rei Carlos III chegou a defender: “Por vezes venho aqui e falo com as plantas. É muito importante falar com elas. Elas respondem-nos”.
Passaram quatro décadas. Contudo, o monarca continua a manter o respeito pela Natureza. Em 2019, o então Príncipe de Gales admitiu que sempre que planta uma árvore, faz questão de lhe dar um passou-bem.
O Reinado
O Rei Carlos assumiu a coroa do Reino Unido com 73 anos, um momento que aconteceu logo após a morte da sua mãe. Isabel II faleceu no dia 8 de setembro. Agora que assumiu a coroa, tem de lidar com as vastas responsabilidades do trono.
Por isso, não terá muito tempo para as suas sessões de jardinagem e para alimentar a sua veia de agricultor, atividades que revelam a personalidade do monarca. Um amante da Natureza que se mostra o maior defensor do ambiente que alguma vez se sentou num trono.
Pioneiro
Embora a temática tenha subido de tom ao longo das últimas décadas, Carlos sempre se mostrou um ativista preocupado com o planeta. Os efeitos das alterações climáticas foram uma preocupação constante deste homem, mas essa temática só tem estado em debate público nos últimos anos.
Antes disso, já Carlos tinha chamado a atenção para o problema, para a necessidade de proteger o planeta. Agora, enquanto monarca, o Rei Carlos III tem maior poder. Tem um mediatismo que poderá ser usado para dar ímpeto a várias causas ambientalistas.
Amigo do ambiente
O rei Carlos III tem o seu maior tesouro em Highgrove. Trata-se de uma quinta com mais de 360 hectares. O monarca sempre foi amigo do ambiente, mas aqui pode manifestar toda a sua amizade.
Neste espaço, o monarca conduz uma produção biológica. Os seus produtos são vendidos com o nome de Waitrose Duchy Organic. Os terrenos desta propriedade encontram-se embelezadas pelos frondosos jardins. Estes espaços jardinados até podem ser visitados pelo público.
O rei Carlos III chegou a falar sobre o seu gosto pela jardinagem, numa entrevista à “BBC”, feita em 2016. O então Príncipe de Gales explicou que este hábito se tornou “uma terapia”.
O canteiro no Palácio de Buckingham
Em 2018, Carlos confessou que a sua paixão pela jardinagem nasceu em Buckingham, um espaço onde ele e a irmã Anne tinham um pequeno canteiro onde plantavam vegetais desde que eram pequenos.
Ele já foi entrevistado diversas vezes e já teve oportunidade de explorar esta temática em muitas entrevistas. Numa entrevista, o então Príncipe Carlos defendeu: “A minha avó tinha um jardim maravilhoso [em Windsor]. Lembro-me de ser miúdo e passear por lá e ficar absolutamente deslumbrado por ver todas as plantas. Os aromas, tudo teve um profundo efeito em mim. Não sei porquê, mas também aprendi a amar as árvores. Sempre me fascinaram.”
O protetor do ambiente
A paixão de Carlos pelo meio ambiente manifestou-se várias vezes desde a sua infância, mas, ao longo das últimas quatro décadas, o agora monarca tem mostrado ser um feroz defensor da proteção do ambiente.
Recentemente, adquiriu um poder distinto, ao chegar ao trono. Por isso, acredita-se que a proteção do planeta e do ambiente seja uma das marcas do seu reinado. Ele já tem 73 anos. Não pensa no seu futuro, mas no de todos, no futuro do planeta.
Por isso, por mais curto ou longo que seja o seu reinado, esta será das causas que o monarca defenderá com unhas e dentes. O próprio site oficial do monarca assinalou: “O príncipe tem promovido a sustentabilidade de forma a garantir que os bens naturais dos quais todos dependemos — entre eles o solo, a água, as florestas, um clima estável ou as populações piscícolas — irão perdurar nas gerações futuras.”
Fazer a diferença
Carlos não quer ficar na memória das pessoas por ter frases bonitas que possam ser emolduradas num quadro de intenções. Quer mesmo fazer a diferença no mundo. Por isso, usará o seu mediatismo para lançar recados que façam os decisores políticos tomarem decisões importantes, que criem verdadeiro impacto.
Por exemplo, os líderes mundiais reuniram-se em Glasgow no final de 2021. Essa reunião foi organizada pelas Nações Unidas e foi realizada a Conferência do Clima. Este evento tornou-se numa necessidade perante as dramáticas transformações que foram constatadas ao longo dos últimos anos.
Por isso, a cimeira conquistou uma importante relevância no debate sobre o futuro do planeta, dos países e do Homem. Na plateia desse evento, encontravam-se vários decisores políticos, nomeadamente presidentes, primeiros-ministros, entre outros responsáveis políticos.
Carlos pode não decidir, mas exerce influência sobre todos os decisores. Se quando um membro da Família Real fala, o mundo escuta, quando é um Rei a falar todos têm mesmo de ouvir…
A consciência geral
Nesse evento, o então Príncipe Carlos defendeu: “Ao fim de milhões e milhões de anos de evolução, a Natureza continua a ser a nossa melhor professora”. O então Príncipe de Gales também disse: “Sei que todos vós carregais um peso nos vossos ombros e que não precisam de mim para vos dizer que os olhos — e as esperanças — do mundo estão sobre vós, para agirem de forma rápida e decisiva, porque o tempo já se esgotou.”
Carlos pode ter defendido a necessidade de cuidar do ambiente. No entanto, o mundo (e as pessoas) já perceberam que essa mudança de percurso tem mesmo de ser realizada para salvar o planeta. A consciência geral das pessoas já o acompanha nas preocupações para com o futuro do mundo, mas nem sempre foi assim.
Embora essa preocupação tenha sido sempre manifestada por Carlos, nem sempre teve a mesma recetividade. Atualmente, as pessoas decidiram acompanhar Carlos nas preocupações ambientais. No entanto, essas preocupações estiveram na origem de alguns problemas.
Nos tempos de juventude, Carlos já defendia os mesmos princípios. No entanto, as suas ideias eram frequentemente recebidas com comentários jocosos. A biógrafa Penny Junior revelou ao “The Washington Post” que: “ao início, toda a gente achava que ele era doido, que era o príncipe que tinha ideias esquisitas. Ignoraram-no por completo”.
Penny Junior aprofundou sobre a mudança de atitude nos outros: “Ele diz o mesmo há 50 anos, mas o mundo finalmente tenha percebido o que ele nos queria explicar. Certamente que já ninguém acha que ele é um maluquinho.”
O pensamento do Homem
Em 2020, o então Príncipe de Gales abordou o assunto. Carlos referiu: “Lembro-me que há muitos anos, na década de 60, eu era ainda um adolescente e já me preocupava com estas coisas que estão a acontecer, a destruição (…) O abate de árvores, a seca. O deslumbramento com o progresso e a tecnologia, que exclui a natureza. Esta aparente determinação de, de alguma forma, se destruir a Natureza”.
Anteriormente, em 1970, Carlos usou a sua posição enquanto Príncipe de Gales para fazer a diferença, efetivamente. O filho da rainha Isabel II tentou trazer o debate à opinião pública, tendo defendido: “Neste momento, estamos a ser confrontados com os horríveis efeitos da poluição, em todas as suas formas cancerosas.”
Não se cingir às palavras, mas procurar a ação
A sua postura é recebida com apreensão e cinismo, algo justificado pela sua posição. Uma vez que a sua posição enquanto membro da família Real implicará (como acontece com outra celebridade) uma pegada carbónica bastante maior do que a pessoa comum, devido às suas constantes viagens e aos meios de que dispõe.
No entanto, Carlos não se cinge às palavras, mas procura a ação e quer cumprir aquilo que prega.
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Mudança de atitude
O então Príncipe de Gales revelou em 2021, que não basta pedir mudança ao mundo. É importante decidir fazer a diferença com as próprias mãos. “O que comemos é muito importante. Há anos que, pelo menos dois dias por semana, não como carne ou peixe; num dos dias também não consumo laticínios”.
Assim, Carlos explicou que forçou em si mudanças que podem fazer a diferença. Ele aprofundou: “É uma forma de ajudar. Se mais pessoas o fizessem, seria uma forma de retirar a pressão do meio-ambiente”.
O carro
O seu Aston Martin DB6 espelha as suas preocupações com o meio ambiente, uma vez que é alimentado a biocombustível. Trata-se de um material feito com o excedente da produção de “vinho branco e soro de queijo”.
Carlos mandou instalar num dos rios que atravessa as suas propriedades uma turbina hidroelétrica. Já na sua residência que se encontra na Escócia, Carlos mandou instalar caldeiras de biomassa que são alimentadas com restos de árvores caídas.
O agora Rei Carlos III também instalou painéis solares. Fê-lo na Clarence House, na sua residência londrina. Carlos fez o mesmo na sua quinta em Highgrove.
Preocupações ambientais
O agora monarca é patrono e presidente de mais de 400 organizações. Muitas destas organizações encontram-se exclusivamente dedicadas à proteção do ambiente. Terra Carta é o nome do seu maior e mais recente projeto de assinatura, criado em 2021, num momento em que anunciou um plano económico com o objetivo de angariar 10 mil milhões de euros de investimento em projetos sustentáveis.
Na altura, o então Príncipe de Gales anunciou: “Nos últimos anos, conseguimos obter um certo progresso na forja de um consenso (…) Contudo, consensos e intenções, objetivos e metas, são apenas os primeiros passos. O próximo, embora já tardio, tem que ser um extraordinário esforço prático para mobilizar os recursos, a proeza técnica e a inovação institucional que nos permitam atingir [as metas].”
O Rei ativista
Enquanto Príncipe, Carlos não tinha o mesmo poder nem a mesma influência que tem enquanto Rei. Estava numa posição em que não podia tomar as decisões, nem fazer a diferença pelas suas mãos.
O agora Rei Carlos III viajava pelo mundo, enquanto Príncipe de Gales. Fazia as deslocações que achava necessárias para tentar influenciar os decisores políticos a tomarem medidas.
No entanto, agora que tem o seu lugar no trono, espera-se que Carlos possa fazer uma diferença mais impactante no mundo. O Rei Carlos III pode usar a Coroa como o trunfo de que precisava para completar a sua tarefa de protetor da Natureza.
A sua agenda ambiental será agora mais respeitada, por isso os decisores políticos vão ter agora um aliado de peso, se forem a favor da mudança ou de um rival temível caso mantenham os olhares apenas no progresso das empresas.