Muitos já terão ouvido falar, mas a Santa Maria Adelaide de Arcozelo nunca foi reconhecida como tal pela Igreja Católica.
Muitos já terão ouvido falar da Santa Maria Adelaide, seja pela festa que lhe está associada, seja pela capela com o seu nome. Porém, nem todos conhecerão a história por detrás desta mulher e desta santa, nem imaginarão que esta santa nunca foi, afinal, reconhecida como tal pela Igreja Católica, apesar dos vários milagres que lhe têm vindo a ser associados ao longo dos anos.
A história da Santa Maria Adelaide de Arcozelo que a Igreja nunca canonizou
A história de D. Maria Adelaide de São José e Sousa Gama pode ser resumida pela sua devoção aos mais pobres e necessitados. Esta benemérita nasceu em 1835, em Lamego ou no Porto, onde estudou num colégio. Seria filha bastarda de um oficial do Exército português. Mais tarde, trabalhou como professora e organista no Convento Corpus Christi, em Vila Nova de Gaia.
Doença
Contudo, cedo, a saúde começou a faltar a D. Maria Adelaide, cuja fragilidade e vulnerabilidade a deixaram várias vezes entre a vida e a morte. Sofreu de tuberculose, o que a obrigou a abandonar o trabalho no convento.
Nessa altura, regressa ao Porto para viver na casa de D. Amélia Augusta Barbosa d’Albuquerque Seabra, no largo do Moinho de Vento. Porém, os médicos aconselharam-na a residir numa zona marítima, com pinheiros e eucaliptos por perto.
Foi assim que em 1876 se muda para Arcozelo, onde vê a sua saúde melhorar um pouco.
A vida em Arcozelo
Em Arcozelo, D. Maria Adelaide fazia rendas e pastéis de Santa Clara, apoiando os mais pobres da zona. Era muito amiga das crianças, a quem dava pães, doces e roupas, ensinava a catequese e tratava quando ficavam doentes.
Vivia para os outros e ajudava todos os que precisavam, sendo ainda uma ótima conselheira, mesmo dos casais desavindo. Em Arcozelo, todos a admiravam e agradeciam a sua generosidade infinda.
A morte
Em 1885, D. Maria Adelaide acaba por falecer com a tísica, ainda jovem, com apenas 50 anos de idade. Nessa altura, foi sepultada no cemitério de Arcozelo. Apesar de ter deixado muita saudade pela sua imensa bondade, D. Maria Adelaide ainda não era tida como Santa Maria Adelaide.
A canonização… pelo povo
Acontece que, anos após o seu sepultamento, a campa onde jazia foi vendida e, nessa altura, o seu caixão foi removido.
Por ocasião da trasladação, o caixão foi aberto, corria o ano de 1916, ou seja, mais de 30 anos após a sua morte. Nessa ocasião, qual não é o espanto de todos quando se verifica que o seu corpo estava intacto e as suas roupas cheiravam a rosas.
Como a história de D. Maria Adelaide já cairá no esquecimento de muitos, a própria Junta de Freguesia decidiu cobrir o corpo de carboneto em pedra e regá-lo com ácido nítrico, de modo a colocar o corpo numa vala comum. Porém, esta descoberta inesperada começou a ser divulgada pela comunidade que exigiu ver o cadáver daquela mulher que tinha operado um milagre e que, por isso, só podia ser uma santa!
Assim, o seu corpo foi lavado, coberto de novas roupas e colocado numa capela, dentro de uma urna, para que todos pudessem prestar homenagem e fazer as suas promessas à nova santa de Arcozelo.
Vandalismo
Desde 1924, que o cadáver de Santa Maria Adelaide de Arcozelo repousa na atual capela, de modo a ser visitada pelos mais variados devotos.
Contudo, ao longo dos anos, já foram vários os atos de vandalismo que sofreu.
Em 1924, uma explosão danificou a capela, embora não tenha afetado a urna.
Em 1930 e 1931, houve tentativas de roubo à capela, nenhuma delas bem-sucedida.
Em 1981, a capela acabou por ser assaltada, sendo que para isso a urna foi danificada, assim como dois dedos da mão da santa.
Em 1983, um homem usou uma marreta para destruir a urna e, assim, deformou o rosto da santa.
Em 2016, um homem partiu a urna da santa com uma pedra, alegadamente por esta não ter cumprido com o pedido que o homem lhe havia feito.
Atualidade
Apesar de alguns atos de vandalismo, são muitos os que adoram e visitam anualmente esta santa que até tem direito a uma festa e romaria locais e que é verdadeiramente adorada por esta comunidade.
Porém, importa dizer que a Igreja Católica nunca a reconheceu oficialmente nem como beata, nem como santa, mesmo tendo já sido reportados milagres operados pela santa, como curas de doenças.
O Museu
Além da capela que exibe a urna com o cadáver da santa, existe ainda um museu anexo que expõem ex-votos ofertados à santa, como é o caso de vestidos de noiva, vestidos de batizado, comunhão, moedas e notas de mais de 25 países, peças de artesanato, cerâmicas, colares, anéis, cordões, velas, cera, próteses, cabelos cortados, relógios, camisolas de jogadores de futebol, fotografias com a descrição de milagres e agradecimentos.
Agora que já conhece toda a história da Santa Maria Adelaide, faça uma visita a esta curiosa capela e museu, caso nunca lá tenha estado.
Independente das crenças religiosas de cada um, esta é uma oportunidade de ficar a saber mais sobre a própria história da localidade e sobre a importância que esta figura teve e continua a ter na vida de milhares e milhares de devotos.
Quer acredite, quer não acredite em milagres, ninguém fica indiferente à história desta mulher-santa, D. Maria Adelaide.
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