Saiba um pouco mais sobre a história do símbolo militar e outras curiosidades acerca da fortaleza onde viveu Florbela Espanca.
Existem diversos monumentos fascinantes em Portugal. A riqueza do nosso país é impressionante. Apesar de existir um espaço territorial reduzido, Portugal revela um conjunto de atrações admirável.
Os monumentos portugueses revelam muito da nossa gloriosa história, das nossas conquistas, das nossas superações, das nossas ambições. O Forte de São João Baptista revela-se um excelente exemplo de um monumento relevante que pode ser visto no norte do país.
Este monumento tem associados a si momentos históricos interessantes e curiosidades irresistíveis. Quer conhecer mais sobre este monumento?
A fortaleza onde viveu Florbela Espanca
Localização
O Forte de São João Baptista da Foz está presente na freguesia de Foz do Douro, no concelho do Porto, no distrito homónimo. O Forte ergue-se na barra do rio Douro, ficando em posição dominante. As suas características permitiam guarnecer o acesso fluvial à cidade do Porto.
O forte
Embora seja frequentemente identificado como Forte de São João Baptista da Foz, esta construção militar também é conhecida como Castelo de São João da Foz.
O Forte de São João Baptista da Foz apresenta características que tornam este monumento num exemplar único. Esta construção militar está atualmente classificada como Imóvel de Interesse Público.
História
Este é um monumento importante com história. Ele está ligado a momentos históricos relevantes, desde as invasões napoleónicas ao Cerco do Porto. Esta construção militar chegou a servir como prisão política. Nesta prisão, estiveram detidos monges jesuítas (nomeadamente no séc. XVIII) e diversas figuras ilustres.
A fortaleza, no ano de 1808, realizou um primeiro ato de reação portuguesa contra as invasões napoleónicas. Foi o momento em que se deu o “hastear da Bandeira Nacional”. O Forte de São João Baptista da Foz teve um papel importante durante o Cerco do Porto, que ocorreu no séc. XIX. A fortaleza protegeu o desembarque de mantimentos para as tropas liberais.
A igreja no forte
O Forte de São João Baptista da Foz chegou a albergar uma igreja. Antes de ficar como está, o Forte teve outros contornos. Nesse tempo, este lugar acolheu uma igreja renascentista que se encontrava nas suas imediações. Havia ainda espaço para uma residência de um alto membro do clero, no séc. XVI.
Pertinência do forte
No período que se seguiu à Restauração da Independência (em 1640), o nosso país vivia uma fase distinta à era quinhentista (época em que se destacou como potência naval mundial).
No séc. XVII, Portugal vivia assim um contexto delicado e o seu território encontrava-se fragilizado, vulnerável à invasão de terceiros. Desta forma, achou-se necessário fazer ma reestruturação da defesa costeira.
O Forte de São João Baptista da Foz foi alvo de alterações significativas. A transformação do Forte ficou à responsabilidade de Charles Lassart. O engenheiro francês realizou essas alterações no Forte e os trabalhos desenvolvidos levaram ao sacrifício da igreja renascentista. Atualmente, pouco ou nada resta dessa igreja.
Atualidade
O Forte de São João Baptista da Foz serve atualmente de casa do Instituto da Defesa Nacional (IDN), da Delegação do Porto. No site do IDN, é possível ler-se a seguinte afirmação sobre o Forte de São João Baptista da Foz:
“(o Forte de São João Baptista da Foz) Mandado edificar, em 1567, para defesa da foz do Douro, compreende no seu conjunto, além do forte quinhentista (atribuído ao mestre de fortificações Simão de Ruão), a primeira igreja renascentista edificada em Portugal e o Palácio de D. Miguel da Silva, ambos do arquiteto Francesco de Cremona (1526-1547).”
Esta fonte revela ainda que no local foram encontrados vestígios arqueológicos da ermida São João Baptista, da altura do Condado Portucalense.
Informação útil:
Delegação do Porto do IDN
Morada: Castelo da Foz, Esplanada do Castelo, 4150-196 Porto.
Contactos: +351 220 734 581 / [email protected].
Beleza e inspiração
O Forte de São João Baptista da Foz revela ser um monumento verdadeiramente inspirador. Ele encontra-se numa localização estratégica que permitiu servir como ponto de defesa marítimo. No entanto, a visão privilegiada que permitia vigiar, também permite aceder a um cenário absolutamente deslumbrante.
Este monumento permite que se possa contemplar uma paisagem arrebatadora. Se tivermos em conta que o Forte de São João Baptista da Foz se encontra próximo do belo Jardim do Passeio Alegre, constatamos que estamos perante um cenário de rara beleza.
Desta forma, torna-se compreensível que este local tenha sido (e ainda seja) muito procurado pelas mentes mais criativas…
Curiosidade: Acolheu uma bela flor
Por este monumento passaram muitos nomes importantes. No entanto, há a curiosidade de por ali ter ficado uma figura inusitada ao mundo militar.
O Forte de São João Baptista da Foz chegou a albergar uma das maiores poetisas de Portugal, uma das pessoas mais relevantes da literatura portuguesa. Florbela Espanca chegou a viver neste local.
Quem foi Florbela Espanca?
Florbela Espanca
A poetisa Florbela Espanca (1894-1930) é um dos maiores nomes da literatura portuguesa. A poetiza ofereceu ao mundo poemas que exploram várias temáticas. Compôs versos de amor, de elogio, de desespero, entre outras dimensões da vida humana.
A poetisa portuguesa teve uma vida curta (36 anos), mas uma obra que permitiu eternizar o nome da Florbela Espanca na lista de grandes autores da Literatura de Portugal.
A vivência no Forte
A ligação entre Florbela Espanca e o Forte de São João Baptista da Foz é fácil de explicar. De acordo com o conteúdo presente no site do IDN, Florbela Espanca esteve na fortaleza no ano de 1921.
A passagem da poetiza pelo Forte de São João Baptista da Foz justifica-se pela relação estabelecida com António José Marques Guimarães. Este homem era seu marido e, simultaneamente, um dos oficiais da guarnição. Por isso, a poetisa Florbela Espanca residiu durante algum tempo no Forte de São João Baptista da Foz.
Um poema da poetiza
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada… a dolorida…
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…
Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber por quê…
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca (1894-1930), in “Livro de Mágoas”