Uma aldeia que conjuga beleza natural, paisagens incríveis e um património fascinante. Conheça os encantos do Lugar da Lapa, a aldeia santuário.
O nosso país é lindo. Portugal Continental e os Arquipélagos, da Ilha da Madeira aos Açores, escondem diversos destinos encantadores. Em diferentes pontos do país, há destinos que facilmente provam que temos um país que encanta.
Em vários locais comprova-se a riqueza verdadeiramente notável de Portugal. Há cidades deslumbrantes, reconhecidas internacionalmente, mas também devemos conhecer as nossas vilas e aldeias. Estes locais podem apresentar atrações imperdíveis e proporcionar experiências rurais inolvidáveis.
Quem procura locais para descansar, enquanto contempla beleza e contacta com uma história rica, deve procurar destinos rurais. Há destinos perfeitos para escapadinhas. Há aldeias e vilas que conjugam beleza natural, paisagens incríveis e um património fascinante.
Após visitarmos estes locais, sentimo-nos verdadeiramente revigorados. A recomendação do presente artigo do NCultura é uma aldeia especial… Fique a conhecer os encantos do Lugar da Lapa, uma aldeia que vai ficar bem junto do seu coração.
Lugar da Lapa: A aldeia santuário com mais de cinco séculos, na Região Norte
Localização
Para chegar ao Lugar da Lapa, é necessário percorrer vários locais. Nesta terra, há uma paisagem marcada pelas grandes pedras graníticas. Estas são marcas que revelam a rudeza e aridez do local. Lugar da Lapa pertence à freguesia de Quintela, estando integrada no concelho de Sernancelhe.
A descrição do escritor
Aquilino Gomes Ribeiro foi um nome importante da literatura nacional. O escritor português é tido como um dos romancistas mais fecundos da primeira metade do século XX. Este escritor descreveu a paisagem local como Terras do Demo. Aquilino Ribeiro conhecia muito bem esta terra.
O nome
A lapa é uma pedra de granito, formando uma gruta. Por se encontrar protegida, a gruta terá servido de refúgio a Nossa Senhora, o que permitiu dar esse nome ao santuário. Segundo os locais, a imagem terá sido trazida por religiosos que fugiam a Al Mansor, um general mouro que na época teria sido um verdadeiro terror. Este homem terá martirizado diversos cristãos.
Por isso, a imagem terá sido escondida no século X. No entanto, a imagem foi encontrada séculos mais tarde. A pessoa que a encontrou foi uma pastora, muda. O seu nome era Joana e ao recuperar a imagem, recuperou a fala!
A lenda
O passado
Ora, segundo se conta na terra, muitos séculos antes, talvez pelo ano de 982, as tropas de Almançor encontravam-se em trânsito pelo norte peninsular e estavam de regresso ao sul, colocando as terras da Beira Alta em alvoroço.
Após terem atravessado o Douro e depois de terem destruído Lamego, as tropas avançaram em direção a Trancoso. Contudo, primeiro arrasaram o convento das Arcas, martirizando muitas das religiosas que aí tinham professado.
Após atravessarem a serra da Pêra, os soldados do general mouro confrontaram-se com um outro convento feminino. Tratava-se do convento de Sismiro, encontrando-se já em território de Aguiar da Beira.
Como tinha acontecido nas Arcas, muitas das freiras foram assassinadas. As poucas que conseguiram escapar aos soldados, embrenharam-se no mato, fugiram por entre penhascos, correndo sem orientação e tropeçando em pedras agrestes, saltando arroios, picando-se em tojos e silvas.
As freiras transportavam consigo uma imagem santificada de Maria, escondida entre as amplas vestes das religiosas. Estavam exaustas de cansaço. Havia ainda fome e sede. Estas mulheres religiosas acabaram por encontrar abrigo numa lapa. A gruta onde esconderam a estátua da Senhora.
Destas freiras não se soube mais nada. No entanto, a figura da senhora repousou nessa lapa, descansando secreta e silenciosamente ao longo de cerca de quinhentos anos. A figura da santa permaneceu escondida até ao momento em que uma jovem pastora a encontrou e a guardou numa cestinha preenchida com flores campestres, em 1498.
A jovem
Normalmente, as lendas que se centram em aparições marianas tendem a revelar a aparição da senhora perante crianças pobres. A lenda da senhora da Lapa repete esse modus operandi das aparições marianas.
Joana era uma menina de doze anos. Uma pastorinha muda que, entre penedias, guardava as respetivas ovelhas.
Mal rompia o dia, Joana partia de Quintela, a sua aldeia. A pastorinha percorria lentamente as veredas por onde as linhas de água despontavam. Joana era uma menina solitária e frágil. Era muda desde o nascimento. A força do falar da menina fora roubada no ventre da mãe.
Joana sabia que a água cristalina e pura nascida das fragas matava a sede mais empedernida. A pastorinha encontrava-se a sobreviver como podia ao frio desse dia. Joana encontrava-se embrulhada na capucha de burel escura. Por isso, Joana queria alguma proteção e entrou na gruta, acautelada por um feixe de silvas bravias.
Deixou que os olhos se habituassem ao escuro. Depois, a pastorinha sentou-se numa pedra lisa que se encontrava livre do musgo que atapetava os penedos em volta.
Maquinalmente, a jovem pôs-se a fiar. Nesse momento, os olhos espertos de Joana descansaram num recanto onde uma pequena figura de mulher repousava. A imagem era marcante. A figura mais parecia uma boneca que só as ricas e fidalgas podiam ter.
Joana pegou na figura, desembaraçando-se da roca e do fuso. A pastorinha escondeu-a na cestinha de junco. Docemente, guardou-a no mesmo local onde guardava os novelos de lã fiada. Colocou a figura numa cama de flores frescas apanhadas ao acaso.
O milagre
Durante diversos dias, a figura da senhora brilhou. Só brilhou para a menina Joana, a pastorinha que a protegia de olhares estranhos. No entanto, Joana perdeu-se nos seus pensamentos e esqueceu-se de levar as ovelhas aos pastos destinados, mais tenros e verdes.
Contudo, as raízes, mesmo tasquinhando os caules secos que restavam entre pedras, permaneciam luzidias, causando estranheza às pessoas de Quintela.
A mãe da menina era uma aldeã robusta, com pelo na venta. Ela estava farta do alheamento da criança e com os ouvidos prenhes, do murmurar do povo, investiu contra a cestinha. Nesse momento, intempestivamente, a mãe de Joana tirou a pequena senhora da cama improvisada e lançou-a à fogueira.
Horrorizada, a criança muda gritou e disse:
– “O que fez, minha mãe! É Nossa Senhora!”. E, enquanto Joana conquistava a fala, o braço ímpio da mãe caía inanimado. Perante o mistério, mãe e filha ficaram ajoelhadas, diante a senhora a quem as chamas não conseguiram tocar. Ambas quedaram-se a rezar.
Nesse momento, foi dada à menina a faculdade de falar e à mulher foi dada novamente a agilidade do braço.
Pelas ruas de Quintela, ecoavam gritos “Milagre, milagre”… O abade andava pelos matos a caçar perdizes. No entanto, ao ouvir tal alarido, correu apressadamente para a aldeia. Topando com a vetusta imagem, o abade levou-a para a Igreja matriz. Ele já pensava em encomendar um novo altar aos santeiros de Lamego, para entronizar a senhora.
No entanto, por obra de magia ou por milagre, a imagem da santa desaparecia da igreja de Quintela. A imagem da santa teimava em reaparecer na lapa onde tinha ficado a dormir durante quinhentos anos até ser encontrada por Joana.
Esse fenómeno, inexplicável, aconteceu tantas vezes que o povo local compreendeu a mensagem. As gentes da terra constataram que era a santa a indicar-lhes a morada que queria para si.
Por isso, em procissão, os habitantes levaram a imagem da santa de regresso a casa, numa procissão encabeçada por Joana.
Repercussão
Naturalmente, esses acontecimentos milagrosos que aconteceram lá para os lados de Quintela tiveram eco. Falava-se nas maravilhas locais. Falava-se que a miudinha começou a falar. Falava-se que o braço desembaraçado que ficou inerte voltou a ganhar vida.
Falava-se ainda da santa que desaparecia da igreja e que aparecia na lapa. Por isso, o povo daqueles montes rapidamente começou a visitar o lugar da Lapa e, prostrando-se no lajedo frio, implorava por mais maravilhas da santa.
Construção
Desta forma, foi então construído um oratório. Tratava-se de um local que serviria de morada da senhora. Nesse momento, começaram a ser erguidas algumas barracas destinadas a servir de apoio aos peregrinos que começaram a fazer desse espaço um local de culto e de penitência.
Aos poucos, foram erigidas algumas casas. Por isso, o sítio ermo, agreste, que servia de pasto de gado miúdo, foi sendo desenvolvido, acolhendo agora edificações destinadas a gentes e devoção.
A Igreja
Durante o século XVI, o oratório foi transformado em igreja pelas mãos dos padres jesuítas. Estes fizeram questão de integrar a grutinha dignamente, pois sabiam que a santa nunca quis abandonar a grutinha.
Este espaço passou a acolher a multidão de penitentes com outras condições, com mais largueza, acolhendo devidamente aqueles que se vinham prostrar perante a Senhora. Estas pessoas distribuíam rezas e novenas apaziguadoras, porque queriam livrar-se dos males do corpo e dos tormentos da alma.
O colégio
Um século mais tarde, mais precisamente em finais do século XVII, iniciava-se a construção do Colégio jesuíta da Lapa. Esta construção, talhada no duro granito, encontrava-se paredes meias com a gruta-santuário da Senhora que tinha sido resgatada pela pastorinha muda, que começou a falar, milagrosamente.
Este edifício, que nunca foi acabado, ficou adjacente ao santuário. Foi nesta instituição escolar que o Mestre Aquilino Ribeiro representou, ingressando no colégio em 1895, aos dez anos. No romance Uma Luz Ao Longe, Aquilino Ribeiro ficcionou esses tempos de adolescência.
Religião
Lugar da Lapa é um local importante de peregrinação. O Santuário de Nossa Senhora da Lapa é, atualmente, um local de peregrinação nacional.
Eventos
O povo presta homenagem a Nossa Senhora da Lapa três vezes por ano, com uma romaria. Portanto, essa homenagem é realizada a 10 de junho, sendo feita também a 15 de agosto. Além disso, também acontece a 8 de setembro.
Neste local, também acontece a Feira Aquiliniana, uma vez por ano. Neste evento, promovem-se e comercializam-se os produtos da região.
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Principais atrações
As casas, os caminhos, todos criados em granito, criam uma atmosfera única na aldeia. É também aqui, por este local, que o Rio Vouga nasce. Na respetiva nascente, é possível saborear a água fresca.
O edifício do Colégio dos Jesuítas é uma imponente construção que remonta ao século XVI.
O santuário do século XIII é uma referência imperdível. Visitar este templo e fazer a romaria é uma experiência obrigatória. A gruta revela uma pedra muito estreita. Segundo reza a tradição, por este espaço todos passam, exceto quem tiver realizado um pecado grave.
Outro destaque vai para uma réplica de um lagarto gigante que se encontra pendurada no teto. No interior da igreja, é possível encontrar um presépio permanente.
Posteriormente, pode passear pela localidade. Desta forma, pode descobrir outras atrações locais, nomeadamente os cruzeiros. Visite os cafés da aldeia e contacte com as suas gentes.
Pode aproveitar a oportunidade para explorar a zona, fazendo um percurso de bicicleta, já que o local apresenta uma extensão considerável de pistas próprias. Os miradouros locais também apresentam vistas incríveis sobre Lugar da Lapa.
Produtos locais
Pode aproveitar a sua estadia na aldeia para levar para casa os tradicionais e famosos queijos artesanais. Por aqui, também encontrará enchidos de qualidade, além do seu famoso pão.
Nesta aldeia, existem várias padarias. O pão sai quente várias vezes ao dia nesses estabelecimentos.
O cabrito é um dos pratos mais típicos da região. Por isso, é uma daquelas experiências gastronómicas que tem mesmo de degustar num dos diversos restaurantes da Lapa.
Onde ficar
O Convento de Nossa Senhora do Carmo encontra-se a meros 10 quilómetros da aldeia. Trata-se de um pequeno hotel cheio de charme cujo restaurante se encontra na antiga capela. Esta é seguramente uma das melhores opções para se ficar nesta região.
Hotel Rural Convento Nossa Senhora do Carmo
Freixinho, 3640-120 Sernancelhe
Contactos: (+351) 254 594 080 / [email protected]
Coordenadas GPS: N 40º 56′ 16.13” W 7º 31′ 44.87”
Mais informações, aqui.
Casa Aldeia da Lapa
Morada: Avenida Padre Francisco Pinto Ferreira (EM584), 3640-170 Sernancelhe
Mais informações, aqui.