A aldeia de xisto que tem nome de pessoa e encanta qualquer um que a visita. Fique a conhecer os encantos e atrações desta povoação.
As aldeias do xisto têm todas diversas singularidades que as tornam memoráveis. Todas elas promovem experiências imperdíveis. Todos os portugueses deveriam conhecer estas aldeias que, além de terem casas caraterísticas da região, feitas em xisto, encontram-se perfeitamente integradas na Natureza que as circunda, beneficiando de paisagens deslumbrantes.
Entre essas aldeias, há povoamentos ligados a curiosidades irresistíveis e invulgares. A aldeia Álvaro tem nome de pessoa e encanta qualquer um que a visita. Fique a conhecer as qualidades desta povoação.
Álvaro: A aldeia de xisto que pertenceu outrora à Ordem de Malta
A rede
A Rede das Aldeias do Xisto situa-se no centro do país. Há 27 aldeias que proporcionam experiências distintas, num território essencialmente constituído por montanhas de xisto. Estas montanhas oferecem pedras que integram as aldeias e que fazem parte da identidade do povoamento.
Localização
A aldeia de xisto com nome de pessoa, Álvaro, encontra-se presente no concelho de Oleiros. Os alvarenses (nome dos habitantes locais) têm a oportunidade de contemplar uma beleza incomum. Esta aldeia encontra-se perfeitamente integrada no património natural que a circunda.
A origem do nome
A origem do nome da aldeia deve-se a um criado chamado Álvaro Pires. Este homem terá ficado encarregue de defender e povoar o sítio, terá sido por causa deste homem que a povoação ficou com este nome.
Em português arcaico, álvaro significava álamo ou choupo-branco, uma espécie caraterística de zonas ribeirinhas. O nome álvaro surge noutros topónimos das proximidades, nomeadamente Porto de Álvaro, que se encontra junto a Oleiros; Serdeiras de Álvaro e Mata de Álvaro.
Contexto natural
Álvaro estende ao longo do viso de uma encosta sobranceira ao Rio Zêzere, apresentando-se lânguida e serpenteante. A aldeia de xisto revela-se acomodada na albufeira do Cabril.
Álvaro é avistada do alto da paisagem deslumbrante que a circunda. Esta aldeia apresenta-se como uma alva muralha que se predispõe a guardar a passagem do rio Zêzere.
Caraterísticas
Álvaro proporciona uma experiência invulgar. Parece que o relógio parou graciosamente. A malha urbana desta aldeia desenvolve-se quase linearmente ao longo de três arruamentos principais.
As construções presentes nestes arruamentos são justapostas. Estas habitações apresentam-se maioritariamente com dois pisos. O contínuo de fachadas que vai de um e do outro lado apenas é separado pela largura da rua.
Brancura
Álvaro é uma das “aldeias brancas” da Rede das Aldeias do Xisto. Tal como todas as outras aldeias, tem o xisto como material de construção predominante. No entanto, a esmagadora maioria das fachadas dos edifícios encontra-se rebocada e pintada de branco.
Poucos edifícios ostentam vãos que não sejam em xisto. Além disso, algumas casas apresentam molduras dos vãos e limites de fachada pintados de cores garridas, pormenores que concedem ainda mais beleza à aldeia. Os muros antigos, nunca rebocados, evidenciam a técnica construtiva.
Breve história
Álvaro encontra-se num local estratégico de passagem do Zêzere. Esta aldeia terá sido fundada na linha de defesa contra os mouros.
Na doação realizada por D. Sancho I (reinado: 1185-1211) à Ordem de Malta, que aconteceu no ano de 1194, não se faz menção a Álvaro. Por isso, deduz-se que a povoação ainda não existiria na época.
Em 1345, o Comendador da Ordem de Malta desenvolveu várias diligências numa disputa com o Rei relativamente à posse da Comenda de Álvaro.
Em 1381, D. Fernando (reinado: 1367-1383) sancionou esta pretensão da Ordem.
O litígio sobre a posse de Álvaro (e respetivas terras) ressurgiu com D. Afonso V (reinado: 1438-1481). Em 1455, o monarca português faz dela doação ao Senhor da Trofa, Gomes Martins de Lemos, tornando-o 1º Senhor de Álvaro.
Álvaro passou a vila no início do séc. XVI (1514), com o Foral Novo de D. Manuel I. Nessa época, o pelourinho terá sido edificado. Este monumento encontra-se atualmente desaparecido, infelizmente.
Numa Carta Régia datada de 1516, o monarca incentiva os habitantes locais à formação de uma estrutura que permita dar a devida assistência aos doentes. Contudo, a criação da Misericórdia e do seu Hospital só acontece no final desse século.
A Misericórdia é fundada por Catharina Garcia e pelos seus filhos. Estas instituições de assistência funcionaram nas suas próprias casas. Essa informação consta numa escritura realizada a 29 de julho de 1597, que é a data da construção da Capela da Misericórdia.
No ano 1712, o Padre Carvalho da Costa referia que a vila (que na época contava com 360 habitantes) pertencia ao Marquês de Marialva. No entanto, no campo espiritual, esta vila mantinha-se como comenda da Ordem de Malta.
No ano de 1836, Álvaro perdeu a sua autonomia administrativa e judicial por via do advento do liberalismo e devido à reforma administrativa de Mouzinho da Silveira. Por isso, Álvaro foi integrada como freguesia no concelho de Oleiros.
Curiosidade
Esta é uma aldeia de fé. A aldeia de Álvaro pertenceu outrora à Ordem de Malta. Esta aldeia apresenta um património religioso verdadeiramente notável. Por isso, visitá-la, permite-nos descobrir toda a sua riqueza.
Álvaro é uma aldeia rica em património religioso. Noutros tempos, ela foi uma povoação bastante importante para as ordens religiosas, nomeadamente para a Ordem de Malta. Esta ordem deixou diversos testemunhos da sua presença na aldeia de Álvaro.
Principais atrações
Astroturismo
A aldeia apresenta-se sem poluição luminosa, por isso proporciona um espetáculo celestial noturno (e diurno). Álvaro é a nova estrela do Dark Sky Aldeias do Xisto. Esta aldeia recebeu o certificado internacional de Destino Turístico Starlight.
Os destinos Starlight são locais com muito baixa poluição luminosa. Nestes espaços, os visitantes podem desfrutar de oportunidades únicas para observar o céu noturno. A aldeia recebeu este certificado, porque apresenta excelentes condições de visibilidade, pela transparência e escuridão do céu, além da qualidade dos serviços turísticos.
As invasões francesas em Álvaro
A vila de Álvaro foi ultrajada pelo invasor exército napoleónico. Há relatos que referem que a Capela da Misericórdia terá sido transformada em cavalariça. As imagens de Nicodemos e de José de Arimateia foram tombadas. Além disso, as escavações nas suas partes traseiras foram aproveitadas como pias para dar de beber aos cavalos.
Destaca-se também que a pedra tumular do Capitão José Rodrigues Freire (que deveria ter acabado de ser colocada no piso da Capela do Senhor dos Passos) viu picadas todas as palavras “CHRISTO” e “IESUS” que nela constam, cortesia da soldadesca napoleónica.
A antiga travessia do Zêzere
Por aqui, o Zêzere nunca teve uma ponte. Por isso, para se fazer a travessia esperava-se pela escassez de água no estio. Em alternativa, a travessia era realizada em barca, à força de braços ou a vau durante a estiagem.
A passagem, de barca ou batelão, era paga nas décadas de 1960/1970. Nessa época, cada pessoa pagava 1$00 pela sua passagem. Para passar cada cabra ou ovelha, o valor cobrado era de $50. Já para cada junta de bois o valor cobrado era de 4$00. A inauguração da ponte em 1983 provocou o desaparecimento da barca.
Praia Fluvial de Álvaro
Esta praia é outro ponto de interesse. Esta praia apresenta uma ampla extensão de água. O cenário que envolve a praia apresenta uma rara beleza. Esta praia transmite uma grande tranquilidade.
Estender a toalha neste local revela-se uma experiência singular, ficando-se em contacto com a Natureza em estado puro. Os banhistas podem passear nas margens do rio e usar as duas piscinas flutuantes presentes no local.
Construções religiosas
O padroeiro desta aldeia é São Tiago maior. O ex libris desta aldeia é o seu vasto património religioso. Há quem defenda que a melhor forma de conhecer bem Álvaro é fazer o circuito das Capelas que se dispersam pela aldeia.
Nestes pequenos templos, será possível encontrar várias manifestações importantes de arte sacra, manifestações que vão das pinturas a artefactos singulares. Entre os destaques, encontram-se um Sacrário Renascentista ou a imagem do Senhor dos Passos. Outro destaque vai para um Cristo morto com as Santas Mulheres e S. João Evangelista.
No património religioso desta aldeia, contam-se sete capelas. Em Álvaro, podem visitar-se as seguintes construções religiosas: Santo António, S. Sebastião, Nossa Senhora da Nazaré, Igreja da Misericórdia, S. Gens, Nossa Senhora da Consolação e S. Pedro.
Entre estas construções, cinco encontram-se dentro da povoação e duas construções religiosas estão presentes na zona envolvente. Na freguesia de Álvaro, encontram-se mais dez capelas, sendo possível encontrar um acervo religioso admirável no interior de cada uma delas. Em torno da aldeia, os caminhos apresentam diversas alminhas.
A Igreja da Misericórdia
Este templo exige uma visita.
Capela de Santo António
Esta capela está presente no extremo poente da aldeia. Este templo está datado do século XVII. A Capela de Santo António apresenta uma planta quadrada. Este é um templo alpendrado, com contraforte do lado norte.
No topo, tem um sineirita. O portal do templo é feito em xisto. Esta capela apresenta arco de volta perfeita assente em dois saiméis que são trabalhados com linhas retilíneas.
O interior do templo apresenta uma única nave, que se encontra rematada em cúpula. A capela foi sujeita a várias reformas. A pia de água benta está protegida por tampa em talha dourada.
O retábulo da capela é simples, quase naïf. Representa diversas fiadas de anjinhos, encimando as colunas e delimitando os espaços. Há ainda a destacar três quadros a óleo sobre tela, obras do séc. XVII (mais especificamente: Virgem Maria; o Sagrado Coração de Jesus; o Sagrado Coração de Maria) provavelmente, além de uma imagem de Stº António com o Menino.
Pelourinho (desaparecido)
Provavelmente, este monumento terá sido criado no séc. XVI. O único fragmento que restava do pelourinho estava presente na Capela de Santo António. Era um fuste cilíndrico da coluna, em cantaria de granito. No entanto, sem remate, o que não permitiu fazer a sua classificação tipológica.
Fonte de baixo
Este é uma fonte de mergulho. Esta é uma construção toda em xisto e com reboco antigo. A fonte de baixo foi construída no século XVI, provavelmente. Esta fonte encontra-se atualmente num lastimável estado de abandono.
Edifícios particulares do século XIX
Em Álvaro, destaca-se ainda a presença de vários edifícios particulares. Tratam-se de construções do século XIX.
Casa de 1838
Esta casa encontra-se à entrada da aldeia. Esta habitação exibe gravadas na padieira as inscrições “Barbeiro”, destacando-se ainda a data 1838.
Casa de 1886
Na Rua do Castelo, encontra-se outra casa antiga. Esta habitação exibe uma pedra gravada com a data de 1886. Ela está presente sobre o óculo.
Edifícios particulares do primeiro quartel do século XX
Nesta aldeia, também subsistem vários edifícios do início do século XX. Tratam-se de construções que testemunharam um período de crescimento da povoação.
Na Rua do Castelo, podemos constatar a presença de três edifícios residenciais antigos, um deles datado de 1903. Há outro edifício datado de 1912 (M.B.H.P. / 1.9.1.2) e ainda um último edifício datado de 1916 (J. A. / 5.6.916).
Escola Primária
Álvaro teve Escola Primária. Foi construída no extremo poente da aldeia, no local denominado Chão do Paço. Este edifício foi construído na época do Estado Novo ao abrigo do denominado “Plano das Construções”.
Esta construção foi realizada em parceria com a Câmara Municipal de Oleiros. Este edifício recebeu obras de requalificação em 1973. Atualmente, o edifício da Escola Primária encontra-se em estado de abandono.
Edifício da antiga padaria
A aldeia também chegou a ter padaria. Encontrava-se no edifício que possui a única chaminé industrial que se avista na região. Dois antigos habitantes de Álvaro adquiriram o edifício a um antigo padeiro da aldeia. José Rosa e esposa foram importantes beneméritos da Santa Casa da Misericórdia.
O casal ainda alugou o estabelecimento a outro padeiro. No entanto, também este abandonou a atividade. Por isso, José Rosa decidiu oferecer o edifício à Santa Casa da Misericórdia de Álvaro. O edifício da antiga padaria mantém-se (interior e exteriormente), como um elemento de arqueologia industrial na povoação.
Festividades da aldeia
- Procissão dos Faragéus (Quinta-Feira Santa)
- Procissão do Enterro do Senhor (Sexta-Feira Santa)
- Procissão do Senhor dos Passos (domingo de Passos)
- Festa de São Tiago (festa do padreiro) celebra-se no 3º fim de semana de julho
- Procissão da Imaculada Conceição celebra-se no dia 8 dezembro
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Como chegar
Para quem vem do Norte:
Na A1, indo em direção a sul, deve sair para Condeixa (saída 11). Depois, deve seguir na direção do IC3-Tomar. No nó do Avelar do IC3, deve sair para o IC8 no sentido Castelo Branco.
Posteriormente, no IC8, deve sair para Pampilhosa da Serra pela N2. Passados cerca de 15km corte à direita na N344, indo em direção a Pampilhosa e Oleiros. Após cerca de 14km, corte à direita na N351, indo em direção a Álvaro e Oleiros. Após 7 km, irá chegar a Álvaro.
Para quem vem do Sul:
Primeiro, siga pela A23 até à saída 23, em Castelo Branco / Pampilhosa da Serra. Depois, deve tomar a N112 durante 49 km e, depois, corte à esquerda na N238 em direção a Oleiros. Posteriormente, após 28km, passe Oleiros e, em seguida, vire à direita em direção a Álvaro. Em 10km, chegará a Álvaro.