Fique a conhecer algumas das mulheres mais marcantes da história do nosso país. Foram mulheres pioneiras que mudaram a história de Portugal.
Ao longo da história de Portugal, muitas foram as pessoas que realizaram feitos que as tornaram em personalidades memoráveis. Os historiadores centraram-se mais em destacar as conquistas dos homens, fruto de ser mais comum serem estes a encontrarem-se nas “cadeiras do poder”.
No entanto, apesar do menor mediatismo, sempre houve mulheres notáveis que mereceram um maior reconhecimento, pois foram figuras relevantes que desafiaram as regras da época. Estas mulheres notabilizaram-se em áreas tradicionalmente destinadas aos homens, além de enfrentarem os preconceitos da sua época.
Para o presente artigo, foram selecionadas apenas 10 mulheres portuguesas que desempenharam papéis fundamentais. No entanto, podiam ser muitas mais. Além destas mulheres terem sido pioneiras em diferentes áreas, elas foram protagonistas em apresentar um caminho para outras mulheres que viram o seu percurso “ser facilitado”, deixando de existir tantos obstáculos. Fique a conhecer algumas das mulheres portuguesas mais marcantes da história do nosso país.
10 mulheres pioneiras que mudaram a história de Portugal
Elas mudaram a História de Portugal e abriram caminho para outras mulheres lhes seguirem as pisadas.
1 – Antónia Pusich (1805-1883)
Antónia Pusich nasceu em Cabo Verde. Esta mulher acabou por criar um impacto importante na literatura portuguesa. Ela teve esse impacto pela escrita e pela sua ousadia de recorrer ao nome pessoal em vez de utilizar um pseudónimo, como era comum na época. Muitas mulheres recorriam a um pseudónimo para esconderem o facto de serem do género feminino.
Esta mulher revelou-se uma pessoa influente na área da literatura, tornando-se poetisa. Além disso, Antónia Pusich escreveu para vários jornais. Esta mulher realizou ainda diversas campanhas que visavam a luta pela liberdade de expressão.
Antónia Pusich também realizou campanhas que expressavam a importância do ensino das mulheres e dos desfavorecidos.
Esta escritora singular defendeu ainda que as mulheres deviam ser encorajadas a aprender a ler e escrever. Antónia Pusich defendia que tal era essencial para que estas mulheres pudessem participar na vida social e política do país.
Esta mulher de garra tornou-se na primeira mulher a fundar o seu próprio jornal. Antónia Pusich foi diretora e proprietária dos periódicos A assemblea litteraria, A Beneficência e A Cruzada.
2 – D. Maria II (1819-1853)
Esta mulher portuguesa apenas tinha 7 anos quando o seu pai renunciou ao trono. Em 1826, D. Maria II viu o rei D. Pedro IV abdicar do trono em seu favor. Desta forma, D. Maria II tornou-se rainha de Portugal e dos Algarves.
Nesse momento, a nova rainha deixou o Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e onde vivia desde então. D. Maria II rumou a Portugal para assumir a coroa no nosso país.
D. Maria II foi rainha em dois períodos distintos. Foi rainha de 1826 a 1828, momento em que foi deposta pelo seu tio Miguel. Posteriormente, D. Maria II foi rainha de 1834 até 1853, até ao ano da sua morte.
Devido ao seu importante trabalho realizado na procura da melhoria dos níveis de escolaridade em todo o país, D. Maria II recebeu o cognome de “a Educadora”. Por ter sido uma líder bondosa, D. Maria II também foi chamada pelo povo de “a Boa Mãe”.
Foi no reinado de D. Maria II que uma lei de saúde pública importante foi promulgada. Tratava-se de uma lei que visava combater a propagação da cólera no nosso país.
3 – Adelaide Cabete (1867-1935)
A infância de Adelaide Cabete esteve longe de ser feliz. Seguramente que poucos adivinhariam o seu futuro. Ela nasceu no seio de uma família sem posses, em Elvas. Adelaide muito cedo viveu dramas que não se deseja a ninguém.
Ela ficou órfã de pai muito cedo, com muito para viver. Por isso, com o objetivo de ajudar a mãe, Adelaide Cabete teve a necessidade de deixar de frequentar a escola. No entanto, Adelaide Cabete aprendeu a ler e escrever de forma autodidata, combatendo as dificuldades inerentes ao seu contexto delicado.
Esta mulher portuguesa só fez o exame da instrução primária após se casar e depois de ter o precioso incentivo do seu marido. Posteriormente, Adelaide Cabete também concluiu o curso liceal e fê-lo com distinção.
Adelaide Cabete dedicava-se aos estudos, além de se dedicar também na militância republicana e feminista. Ela tornou-se na terceira mulher em Portugal a concluir o curso de Medicina.
Ela fê-lo no ano de 1900, momento em que apresentou a sua tese “Proteção às mulheres grávidas pobres como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações”. Ela passou a exercer Ginecologia e Obstetrícia, logo após ter feito a conclusão da especialidade.
Durante mais de 20 anos, Adelaide Cabete presidiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Ela desempenhou um papel importante na reivindicação dos direitos das mulheres. Nessa qualidade, enquanto Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, Adelaide Cabete reivindicou para as mulheres o direito a um mês de descanso antes do parto e em 1912 reivindicou também o direito ao voto feminino.
Aliás, até nisso, Adelaide Cabete foi pioneira. Ela tornou-se na primeira mulher a votar (em 1933) a Constituição Portuguesa que instalou o Estado Novo, ao qual Adelaide Cabete revelou a sua oposição.
4 – Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911)
Foi no seio de uma família liberal que Carolina Beatriz Ângelo cresceu. Teve uma educação exemplar que lhe permitiu ingressar no curso de Medicina. Carolina Beatriz Ângelo ficou para a história da medicina portuguesa ao ter-se tornado na primeira cirurgiã.
Carolina Beatriz Ângelo foi médica e feminista. No entanto, também conseguiu o seu lugar na história por ter sido a primeira mulher a votar em Portugal. Carolina Beatriz Ângelo votou numa altura em que as mulheres não podiam votar. Fê-lo por altura das eleições da Assembleia Constituinte, em 1911.
Segundo a lei que se encontrava em vigor no início do século XX, apenas o chefe de família podia votar, mas só o poderia fazer se tivesse mais de 21 anos e fosse alfabetizado. Estas normas sobre o chefe de família seriam exclusivas dos homens.
Contudo, Carolina Beatriz Ângelo tinha uma leitura distinta da lei. Como Carolina Beatriz Ângelo era viúva e tinha uma filha, considerava-se chefe de família. Por isso, a médica lutou para exercer o seu direito de voto. Para poder exercer esse direito, teve de levar o caso a tribunal.
A coragem e rebeldia de Carolina Beatriz Ângelo levou à promulgação de uma lei que declarava que “chefe de família” só se referia aos homens. No entanto, as ações de Carolina Beatriz Ângelo ajudaram a chamar a atenção para a desigualdade de género dos sistemas eleitorais.
A sua intervenção foi importante e representou o início de futuras campanhas pelo sufrágio. Só em 1931 é que o direito de voto foi concedido às mulheres. Nessa época, o direito de voto só era concedido às mulheres se fossem asseguradas algumas condições.
Ao contrário do que acontecia com os homens, em que bastava saber ler e escrever, com as mulheres havia restrições. As mulheres só podiam votar se tivessem cursos secundários ou superiores.
As restrições só seriam inteiramente abolidas em 1974, após o 25 de abril. Nesse momento, é que se asseguraram idênticas regalias de voto entre os cidadãos, independentemente do género.
5 – Regina Quintanilha (1893-1967)
Após nascer em Bragança, Regina Quintanilha teve uma educação privilegiada, uma vez que cresceu num meio social elevado. Regina Quintanilha tinha apenas 17 anos quando ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Ela tornou-se na primeira advogada portuguesa após ter sido a primeira mulher a completar o curso de Direito.
Regina Quintanilha tinha apenas 20 anos, quando terminou o curso. A conclusão do curso foi realizada em três anos. Apesar de Regina ter sido logo convidada para reitora do Liceu Feminino de Coimbra que tinha sido recentemente criado, ela recusou a oferta.
Regina Quintanilha ambicionava criar uma carreira numa área que tinha muitos obstáculos. Ela desejava o exercício da advocacia. No entanto, o Código Civil Português de 1867 dizia que o exercício da advocacia era vedado às mulheres.
No ano de 1913, ela recebeu a autorização que tanto desejava. A autorização para advogar foi concedida pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Nesse dia, Regina Quintanilha vestiu finalmente a toga dos advogados. Esse momento aconteceu no Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa.
Posteriormente, a advogada portuguesa partiu para o Brasil. Nesse país, Regina Quintanilha colaborou na reforma da lei brasileira. Além disso, Regina Quintanilha também estabeleceu escritórios no Rio de Janeiro. Mais tarde, a advogada portuguesa também veio a estabelecer escritórios em Nova Iorque.
Só muitos anos mais tarde é que Regina Quintanilha voltou para Portugal. No nosso país, Regina Quintanilha foi advogada, defendendo os interesses de várias empresas francesas.
6 – Branca Edmée Marques (1899-1986)
Branca nasceu no ano de 1899. Branca Edmée Marques formou-se em Ciências Físico-Químicas no ano de 1926. Esta mulher portuguesa tornou-se bolseira da Junta de Educação Nacional.
Após se mudar para Paris, Branca Edmée Marques fez investigação em física nuclear. Branca obteve o doutoramento nesse país, tendo o doutoramento sido realizado sob a orientação de Marie Curie.
Branca Edmée Marques regressou a Portugal. No nosso país, fundou e foi presidente do Laboratório de Radioquímica. Branca Edmée Marques teve um papel importante e precursor do Centro de Estudos de Radioquímica da Comissão de Estudos de Energia Nuclear.
Esta mulher portuguesa teve uma longa carreira. Ela foi professora. Além disso, publicava regularmente artigos. Branca Edmée Marques também realizou investigações sobre aplicações pacíficas da tecnologia nuclear.
Esta mulher portuguesa foi cientista, física e química portuguesa. Após ter trabalhado arduamente nos seus estudos, Branca Edmée Marques conseguiu construir uma carreira num setor que se encontrava reservado aos homens.
A sua carreira estava já consolidada quando tinha 65 anos. Nesse momento, Branca Edmée Marques tornou-se na primeira mulher a obter a cátedra química. O seu feito foi realizado numa faculdade de ciências em Portugal, o que aconteceu 12 anos após se ter habilitado a essa posição.
7 – Maria José Estanco (1905-1999)
Maria José Estanco nasceu em Loulé. Cedo demonstrou a sua criatividade e o seu talento para as artes. Primeiro, começou por frequentar Pintura, em Belas Artes. No entanto, mais tarde, Maria José Estanco optou pelo curso de Arquitetura.
Esta mulher portuguesa concluiu o seu curso em 1942. Nesse momento, Maria José Estanco tornou-se na primeira mulher arquiteta.
Enquanto arquiteta, esta mulher portuguesa de grande talento ainda tentou o seu ingresso em diversos ateliers de arquitetura. No entanto, Maria José Estanco viu a sua condição feminina impedir a sua progressão. A sua entrada no mundo do trabalho era constantemente barrada por ser mulher.
Maria José Estanco decidiu dedicar-se à decoração de interiores e à criação de móveis. Foi desta forma que conseguiu criar nome na área.
Maria José Estanco também se tornou docente. Ela foi professora em diversos liceus. Maria José Estanco também deu aulas de desenho e de pintura a reclusos. As aulas eram gratuitas e destinaram-se a reclusos do Estabelecimento Prisional do Linhó.
Maria José Estanco foi uma mulher democrata e pacifista. Esta mulher portuguesa pertenceu à Direção do Conselho Nacional para a Paz. Maria José Estanco também foi membro do Movimento Democrático das Mulheres (MDM).
O trabalho realizado em diferentes áreas permitiu a Maria José Estanco a oportunidade de inscrever o seu nome na história. O seu papel na luta pela igualdade dos direitos das mulheres leva a que o seu nome seja sempre relembrado.
8 – Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira (1907-1984)
A primeira mulher a obter o brevete foi Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira. Esta mulher portuguesa foi a primeira a obter este documento que concedia ao seu titular a permissão para pilotar aviões. Nunca tinha havido outra mulher portuguesa a ter essa honra.
Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira conseguiu fazê-lo com apenas 21 anos. Desta forma, Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira tornou-se na primeira aviadora do nosso país.
Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira nasceu numa família da média-alta burguesia. No entanto, nem tudo foi fácil para esta mulher portuguesa. Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira teve de enfrentar a forte oposição do seu pai. Ele opôs-se ao interesse que a filha manifestava em aprender a pilotar um avião.
Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira era uma mulher extremamente determinada. Após muita insistência, conseguiu convencer o seu pai e, em 1928, obteve o que ardentemente desejava.
Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira obteve nesse ano a licença para pilotar. Foi na Escola Militar de Aeronáutica que conseguiu esse feito que permitiu colocar o seu nome na história da aviação portuguesa.
Curiosamente, o instrutor de voo de Maria de Lourdes Braga de Sá Teixeira foi Craveiro Lopes era então capitão piloto-aviador. No entanto, mais tarde, viria a tornar-se no Presidente da República.
9 – Maria Amélia Chaves (1911-2017)
A primeira mulher a entrar na engenharia foi Maria Amélia Chaves. Ela ousou fazer a diferença num mundo que até à época encontrava-se reservado aos homens. Esta mulher portuguesa formou-se em Engenharia Civil no ano de 1937. A sua formação foi realizada no Instituto Superior Técnico. No ano seguinte, Maria Amélia Chaves inscreveu-se na Ordem.
O pai de Maria Amélia era engenheiro militar. Ela chegou a confessar que foi para engenharia por influência do seu progenitor e devido ao seu gosto pela construção.
Enquanto engenheira, Maria Amélia Chaves projetou prisões. Esta mulher revelou o seu espírito pioneiro ao ter colocado preocupações relativamente às ações sísmicas dos seus projetos.
10 – Maria de Lourdes Pintassilgo (1930-2004)
Esta mulher portuguesa foi a primeira e, até à data, a única mulher portuguesa a desempenhar o cargo de primeira-ministra. Desde então, nunca mais nenhuma mulher teve a honra de usar esse cargo em Portugal.
Maria de Lourdes Pintasilgo chefiou o V Governo Constitucional, tendo realizado as suas funções entre julho de 1979 a janeiro de 1980.
O feito desta mulher portuguesa pode ser estendido ao velho continente europeu. Maria de Lourdes Pintassilgo só foi superada por Margaret Thatcher. A Dama de Ferro foi a primeira mulher a desempenhar o cargo de primeira-ministra na Europa. No entanto, curiosamente, só tomou posse desse cargo dois meses antes da portuguesa assumir essa responsabilidade em Portugal.
Esta mulher portuguesa notabilizou-se noutras áreas. Maria de Lourdes Pintassilgo foi pioneira ao licenciar-se em Engenharia Químico-Industrial, tendo conseguido esse feito num contexto em que eram poucas as mulheres que enveredavam pela área da engenharia.
A sua licenciatura foi realizada no Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Havia apenas três mulheres entre os 250 alunos que realizaram o seu curso. Maria de Lourdes Pintassilgo optou por esta licenciatura como forma de mostrar que as mulheres poderiam enfrentar o desafio do mundo industrial e da novidade da técnica.
Mais, se faz favor!