Nos próximos meses, os corredores dos supermercados em Portugal poderão começar a mudar — discretamente, mas de forma profunda. A razão? Uma das mais ambiciosas proibições ambientais da história da União Europeia: a eliminação progressiva dos PFAS, conhecidos como os “químicos eternos”. Estes compostos, presentes em milhares de produtos do quotidiano, estão agora sob uma ofensiva regulamentar que promete reescrever a forma como o mercado fabrica, embala e vende.
O impacto será visível nas prateleiras — desde os detergentes e produtos de limpeza até às embalagens de contacto alimentar, que terão de ser reformuladas até 2026. As mudanças estão em marcha, e os supermercados em Portugal já se preparam para o que será uma autêntica transição industrial silenciosa.
O que são afinal os “químicos eternos”?
Os PFAS (substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas) são compostos artificiais criados para resistirem à água, à gordura e ao calor. Usam-se em têxteis impermeáveis, utensílios de cozinha antiaderentes, espumas de combate a incêndios e, de forma quase invisível, nas embalagens de alimentos que não deixam o óleo ou o molho escorrer.
O problema é que estas moléculas são praticamente indestrutíveis. Uma vez libertas no ambiente, acumulam-se em rios, solos e até no corpo humano.
Estudos da Agência Europeia do Ambiente (EEA) associam exposições prolongadas a distúrbios hormonais, problemas da tiroide, infertilidade e até a certos tipos de cancro. Durante décadas, os PFAS foram sinónimo de inovação. Agora, tornaram-se um símbolo de alerta ambiental e de saúde pública.
A União Europeia aperta o cerco: o que muda e quando
A nova regulamentação europeia de embalagens (PPWR) já definiu uma data: 12 de agosto de 2026. A partir desse dia, nenhuma embalagem em contacto com alimentos poderá conter PFAS acima dos limites legais. Isso obriga a reformulações urgentes, sobretudo na indústria alimentar e no retalho.
Paralelamente, a UE impôs restrições específicas ao uso destes compostos em espumas de combate a incêndios e prepara uma restrição alargada ao abrigo do REACH, que poderá banir os PFAS em quase todas as utilizações “não essenciais”. O processo de avaliação deverá estar concluído até ao final de 2026, segundo a ECHA (Agência Europeia dos Produtos Químicos).
Alguns países já avançaram por conta própria:
- Dinamarca proibiu PFAS em materiais de papel e cartão para contacto alimentar desde 2020.
- França aprovou, em 2025, uma lei que os proíbe em cosméticos, têxteis e ceras, com entrada em vigor progressiva até 2030.
O que isto significa para os supermercados em Portugal
Nos próximos dois anos, os fornecedores e distribuidores portugueses terão de adaptar-se. As embalagens de contacto alimentar — especialmente as que envolvem papel, cartão ou plásticos tratados — serão alvo de reformulação. Os consumidores notarão a diferença: rótulos atualizados, novos materiais, e possivelmente um aumento temporário de custos até a produção estabilizar.
Mas a mudança vai além das prateleiras da alimentação. Produtos de limpeza, têxteis domésticos e utensílios antiaderentes também poderão sofrer alterações caso o regulamento REACH avance com uma proibição horizontal.
O retalho terá de lidar com novos prazos de escoamento, fichas técnicas atualizadas e certificações ambientais reforçadas.
Dicas para o consumidor consciente
Enquanto as novas regras não entram totalmente em vigor, há pequenas ações que qualquer pessoa pode adotar para reduzir a exposição a PFAS no dia-a-dia:
- Prefira produtos rotulados como “PFAS-free” ou “sem químicos eternos”.
- Evite utensílios de cozinha antiaderentes antigos, com superfícies degradadas.
- Reduza o consumo de alimentos embalados em papel ou cartão impermeabilizado, especialmente os de takeaway.
- Opte por têxteis naturais e não impermeabilizados.
Estas escolhas individuais ajudam não só a proteger a saúde, mas também a acelerar a transição do mercado para alternativas mais seguras e sustentáveis.
Uma nova era de transparência e sustentabilidade
A eliminação dos PFAS é mais do que uma medida técnica — é um marco civilizacional. Representa o esforço coletivo da Europa por um futuro com menos poluição química, mais transparência nas cadeias de produção e maior responsabilidade ambiental, refere o Postal.
Nos próximos anos, os supermercados em Portugal serão o espelho dessa transformação. As prateleiras poderão mudar, mas o objetivo permanece claro: garantir que cada produto é mais seguro para as pessoas e para o planeta.




