Albufeira, uma das joias cintilantes do Algarve, está a entrar numa nova fase que promete transformar radicalmente a experiência turística. Nesta cidade costeira, conhecida pelas suas praias deslumbrantes, vida noturna vibrante e hospitalidade inconfundível, um polémico código de conduta proposto pela Câmara Municipal vem marcar o início de uma era em que a decência e o respeito pelo espaço público poderão prevalecer sobre o comportamento excessivo de alguns visitantes.

Um código de conduta que divide
A proposta, apresentada pelo presidente da Câmara Municipal, José Carlos Martins Rolo, visa impor regras mais rigorosas para os turistas que circulam pelas zonas públicas da cidade.
De acordo com o novo regulamento, aqueles que forem apanhados a passear “em fato de banho” – seja parcial ou totalmente nus – fora dos espaços especificamente destinados para o uso de trajes de banho, estarão sujeitos a multas que podem ultrapassar os 1.500 euros, chegando até aos 1.800 euros no caso de completa nudez.
Esta medida não surge de um impulso autoritário, mas de uma preocupação genuína em preservar a imagem familiar e acolhedora de Albufeira.
Para uma cidade que tem orgulho em receber famílias e visitantes de todas as idades, a presença de turistas que se exibem de forma escandalosa fora das praias e zonas balneares ameaça corroer a essência que torna Albufeira tão especial.
A polémica do “biquíni proibido” e a crise da imagem turística
Albufeira não é a primeira cidade europeia a adotar restrições ao vestuário em espaços públicos, mas é certamente uma das mais audazes. Enquanto destinos como Barcelona, Maiorca, Split e Dubrovnik já impuseram regras para evitar comportamentos considerados inapropriados, o caso albufeirense ganhou notoriedade pela sua rigidez e pelo potencial impacto no turismo.
A iniciativa tem dividido opiniões: para alguns, trata-se de uma medida necessária para restaurar a ordem e o respeito nas ruas da cidade; para outros, é um ataque à liberdade individual e ao espírito festivo que caracteriza o Algarve.
Martins Rolo defende que o objetivo da proposta é combater comportamentos abusivos e desordeiros, que incluem o consumo excessivo de álcool nas ruas, urinar ou defecar em público, e, até, atos sexuais realizados à mostra.
Segundo o presidente, estas regras emergem de incidentes recentes, como o episódio ocorrido no ano passado, no qual oito turistas britânicos foram flagrados a dançar nus em cima de um bar na Rua da Oura – um comportamento que chocou os habitantes locais e manchou a reputação da cidade.

O impacto do turismo de massa
O Algarve tem vindo a receber números recordes de turistas, sendo Albufeira um dos destinos favoritos. No ano passado, a região registou mais de 5 milhões de visitantes, dos quais uma fatia considerável proveniente do Reino Unido, Alemanha e Irlanda. O turismo, vital para a economia local, entretanto, traz também desafios imensos: a superlotação e o comportamento desregrado de alguns turistas têm levado à degradação da experiência, tanto para os visitantes quanto para os residentes.
A proposta de um código de conduta pretende, sobretudo, incentivar um turismo mais sustentável e respeitoso. A ideia é que, com regras claras e multas rigorosas, os turistas passem a agir com maior consideração para com os espaços públicos e a comunidade local. A campanha, que já está aberta à consulta pública com um prazo de 30 dias para recolher opiniões, reflete um movimento maior de reavaliação do turismo em destinos massificados.
Um destino que luta para preservar a sua identidade
Albufeira, com as suas praias de areias douradas e águas cristalinas, a sua vibrante vida noturna e os seus encantos históricos, sempre foi sinónimo de diversão e relaxamento.
Contudo, a crescente afluência de visitantes tem forçado a cidade a repensar a forma como é gerida. A estratégia de promover Albufeira fora da época alta do verão, como pretendido pelo presidente Martins Rolo, é uma tentativa de reequilibrar a balança entre o turismo de massa e a preservação da qualidade de vida dos seus habitantes.
A intenção é clara: transformar Albufeira num destino turístico sustentável e exemplar, onde a cultura local, a hospitalidade e a qualidade das experiências vividas pelos visitantes não sejam comprometidas pelo excesso.
Para além da questão do vestuário, a proposta aborda também comportamentos abusivos que têm deixado uma marca negativa na imagem da cidade, como o consumo desordenado de álcool nas ruas e a prática de atos que atentam contra a ordem pública.
A influência de outras cidades europeias
O debate que se instala em Albufeira não é isolado. Em várias zonas costeiras da Europa, a crescente frustração com comportamentos inadequados levou à implementação de medidas semelhantes.
Em Maiorca e Barcelona, por exemplo, regras rigorosas contra o topless e a exposição indevida em espaços públicos já estão em vigor, enquanto cidades da Croácia e de França impõem multas para quem perturba a ordem ou se exibe em demasia.
Essas iniciativas refletem uma tendência global de repensar o turismo em contextos onde o excesso de visitantes ameaça diluir a autenticidade e o respeito pelos espaços culturais e naturais.
Reflexões finais: o futuro do turismo em Albufeira
O código de conduta proposto para Albufeira é mais do que uma simples regra sobre vestuário – é um grito de alerta e uma tentativa de resgatar a identidade de um destino que se vê ameaçado pelo turismo descontrolado.
Num mundo onde o acesso à informação é imediato e as críticas se espalham em segundos, as autoridades locais têm de agir para proteger a imagem e a qualidade de vida dos seus cidadãos.
Se a proposta for implementada, Albufeira poderá vir a ser um exemplo inspirador para outros destinos europeus, demonstrando que é possível conciliar o crescimento económico com a preservação dos valores e tradições locais.
Afinal, o turismo deve ser uma fonte de alegria e descoberta, e não de frustração e desilusão.
A expectativa é que estas novas regras, que já estão a ser debatidas pela comunidade, entrem em vigor antes da próxima época alta do verão. O desafio que se impõe é encontrar um equilíbrio entre a liberdade individual e o bem-estar coletivo – um equilíbrio que permitirá que Albufeira continue a encantar visitantes, sem perder a sua essência única.
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