Fique a conhecer os problemas que a circulação recorrente de trotinetes elétricas tem causado. Saiba como os números de acidentes subiram com elas.
Os números de acidentes nas estradas e autoestradas portuguesas são uma realidade triste. Várias medidas de sensibilização têm sido tomadas pelas autoridades para alterar a situação. Diversas campanhas de sensibilização para os perigos da condução feita em alta velocidade, sob efeito de álcool ou de substâncias psicotrópicas, têm sido feitas, sem nunca conseguirem os resultados desejados.
Recentemente, outro elemento tem reivindicado protagonismo, estando na origem de vários acidentes: as trotinetes elétricas. Não sendo um problema como os restantes, as trotinetes elétricas necessitam de uma solução. As pessoas (condutores destes veículos, condutores de outros veículos, carros e motas, por exemplo) necessitam de compreender melhor as regras para que haja uma saudável integração de todos nas estradas portuguesas. Só com esse conhecimento, com informação relevante, se podem fazer descer os números de acidentes causados com este veículo.
Fique a conhecer os problemas que a circulação recorrente de trotinetes elétricas tem causado. Saiba como os números de acidentes subiram com elas.
Trotinetes elétricas provocaram centenas de acidentes em 3 anos
Números
Segundo os dados fornecidos pela PSP, existe uma média de 12 acidentes mensais com trotinetes no nosso país, Estes são dados recolhidos no período entre os anos 2019 e 2021. Portanto, em meros 3 anos. Estes dados fornecidos por esta autoridade permitem constatar que as trotinetes causam muitos problemas no meio do trânsito
Explicação
As autoridades explicam que a negligência na condução destes veículos está na origem destes problemas. Segundo a PSP, a gravidade destes sinistros tem aumentado nos últimos dois anos. A autoridade alertou ainda para o facto de haver a assinalar um aumento de feridos leves e graves.
A negligência
A verificação de uma condução negligente de condutores de trotinetes leva aos acidentes. Estes condutores adotam uma postura de risco, misturam-se com os automobilistas em vias com intenso tráfego rodoviário ou recorrem a passeios pedonais a uma velocidade excessiva.
Segundo a PSP, nos últimos três anos, ocorreram 445 sinistros com trotinetes em todo o país. Entre os anos 2019 e 2021, a condução negligente das trotinetes elétricas causou uma média superior a 12 acidentes por mês. Estes dados foram avançados pela Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública ao Portugal Mobi Summit.
Reação
A PSP comentou este fenómeno, tendo observado: “Uma larga maioria dos acidentes desta tipologia é causada por algum tipo de negligência, em que o excesso de velocidade para as condições objetivas de circulação (ainda que sem superar o limite de 25 km/h) contribui para causar e ou agravar o acidente”.
Uma tese polémica
Há especialistas na matéria que defendem que deve existir uma separação física e conceptual entre os diferentes veículos, nomeadamente trotinetes, carros e peões.
Ano 2022
Ainda não se podem apresentar os dados relativos a 2022, que ainda não foi concluído. No entanto, a estatística destes últimos três anos já permite à PSP ter informação consolidada que torna imperativo lançar o alerta para a escalada da gravidade destes acidentes em Portugal.
Apesar do reconhecimento de que não há vítimas mortais a lamentar, convém ter noção que há muito a fazer para melhorar os números atuais. A PSP comentou o fenómeno com a seguinte observação:
“Neste período temporal verificámos uma subida do número de acidentes, bem como o aumento da gravidade dos mesmos, atendendo à evolução do número de feridos leves e graves”.
Tendência
Como se pode concluir, há um aumento significativo de acidentes, de 2019 para 2021. Em 2019, o número total de acidentes com trotinetes foi de 169, resultando em 119 feridos leves e 3 feridos graves.
No ano seguinte, em 2020, ano da pandemia, foram registados 97 sinistros envolvendo este veículo, resultando em 69 feridos ligeiros e dois feridos graves. Por isso, segundo as estatísticas, 2021 foi o pior ano em todos os indicadores. Nesse ano, houve 289 acidentes causados por trotinetes, resultando em 244 feridos leves e 7 feridos graves.
Como já foi referido, o ano de 2022 ainda não está concluído e não foi tido em consideração nestas contas.
O ano da pandemia
No ano da pandemia, em 2020, “apenas” foram registados 97 sinistros envolvendo as trotinetes. No entanto, esses números mais reduzidos (69 feridos ligeiros e 2 feridos graves) devem-se às contingências de um ano especial.
A PSP informou que este ano deve ser observado de acordo com as suas caraterísticas distintas, tendo defendido: “Ressalve-se que em 2020, devido à pandemia da COVID-19 e consequentes restrições e períodos de confinamento, o registo de acidentes é inferior por haver menor tráfego rodoviário.”
Distribuição geográfica dos sinistros
Segundo os dados apresentados pela PSP, é possível obter outras informações relevantes, nomeadamente no que diz respeito à distribuição geográfica dos sinistros envolvendo as trotinetes.
Se se tiver em conta apenas o biénio 2020-2021, a cidade de Lisboa lidera com 130 acidentes com trotinetes elétricas; a cidade do Porto fica em segundo lugar, com 54; depois segue-se Braga a concluir o pódio com 41.
A cidade de Setúbal com 37; Faro com 33 acidentes; e Coimbra com 29 sinistros envolvendo trotinetes. Estas são as cidades que revelam os números mais assustadores.
A lei
A polícia frisou que as trotinetes (ou e-scooters) são veículos equiparados legalmente a velocípedes e encontram-se na mesma categoria das bicicletas ou dos triciclos. Por regra, estes veículo não podem ultrapassar os 25 quilómetros/hora. As autoridades deixam-no claro ao invocarem o artigo 112 do Código da Estrada.
“Os veículos equiparados que não respeitem algum dos pressupostos legalmente previstos neste art.º ficam sujeitos às condições de circulação previstas em regulamento (a publicar pelo Instituto da Mobilidade e Transportes)”.
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Investigação da BBC
Há dados alarmantes que surgem na sequência de uma investigação da BBC. Há mecânicos especializados que conseguem “piratear” o software de trotinetes, alterar as suas caraterísticas, para elas andarem com mais velocidade, tornando os acidentes mais perigosos e prováveis.
As alterações levam a que estes veículos possam atingir mais de 35 km/hora. São mais 10 quilómetros por hora do que é legalmente permitido.
Locais especializados
Na reportagem da BBC, foi entrevistado um dos mecânicos que trabalha numa destas oficinas que se especializaram neste serviço. O mecânico entrevistado confirmou que conseguia alterar a velocidade máxima da trotinete.
O homem que trabalha nesta oficina, presente em Londres, teve a oportunidade de ouvir uma questão do repórter que se colocou na pele de um condutor de trotineta: “Eu uso-a para depois mudar para outro transporte em Londres. Não corro o risco de ser preso por causa disto, pois não”?
No entanto, a resposta do mecânico acabou por ser rápida e assertiva: “Não, nada disso”.
Conclusão da reportagem
Na reportagem da BBC, foram consultados especialistas em segurança que adiantaram ao repórter que remover os limites de velocidade das trotinetas é ilegal. Além disso, os especialistas apelaram aos fabricantes para intervirem na matéria, de forma a impedirem essa possibilidade.
Em Portugal
No nosso país, a PSP desconhece (para já) a existência de casos similares. Contudo, adiantou que, a existirem esses casos, eles constituem pelo menos um ilícito contraordenacional previsto no Código da Estrada, no artigo 114, sendo punido com multa.
Segundo o artigo referido:
“é proibido o trânsito de veículos que não disponham dos sistemas, componentes ou acessórios com que foram aprovados ou que utilizem sistemas, componentes ou acessórios não aprovados”.
Punição
Desta forma, quem infringir é punido. A pessoa que conduzir uma trotineta “hackeada” pode levar com coimas que vão de 250 a 1250 euros. Além disso, o veículo alterado será também apreendido até que seja aprovado em inspeção extraordinária.
Por isso, o risco não compensa. Todo o condutor de trotinetes deve ter isso em consideração, até porque um veículo destes, alterado, representa um perigo, para si e para os restantes elementos da via de trânsito.