Tony de Matos permanece, até aos dias de hoje, como uma das figuras mais carismáticas e icónicas do panorama artístico português. Com uma voz inconfundível e um talento nato para interpretar canções românticas, deixou um legado que transcende gerações.

Infância e primeiros passos no palco
António Maria de Matos nasceu no Porto, a 28 de outubro de 1924, filho de Afonso de Matos e Mila Graça. A sua infância foi marcada por uma vida itinerante, pois, com apenas cinco anos, a sua mãe integrou a Companhia de Teatro de Rafael de Oliveira. Assim, Tony cresceu entre bastidores e palcos, absorvendo desde cedo a paixão pela arte de representar e cantar.
Aos 13 anos, estreia-se como ponto de teatro, mas os pais, receando a incerteza da vida artística, incentivam-no a aprender um ofício. Tony torna-se barbeiro, exercendo a profissão nas diversas localidades por onde a companhia se fixava temporariamente. No entanto, o seu verdadeiro sonho estava longe das tesouras e navalhas.
A caminho de Lisboa e a primeira grande oportunidade
Determinado a seguir a sua paixão, muda-se para Lisboa, onde arranja um emprego na Comissão Reguladora das Moagens de Ramas. Paralelamente, tenta ingressar no mundo da música.
As suas primeiras tentativas de entrar na Emissora Nacional foram frustradas, sendo rejeitado duas vezes. Contudo, a persistência valeu-lhe a pena e, em 1945, foi finalmente aprovado ao interpretar “Se Eu Morrer Amanhã” e “Noite de Luar”.
Em 1948, numa noite de exibição no Atlético, Tony impressiona a audiência ao interpretar temas de Alberto Ribeiro. O diretor artístico do local, Júlio Peres, convida-o para atuar no Luso, onde recebe o seu primeiro cachet profissional: 50 escudos por noite. Era o início da sua carreira artística a tempo inteiro.
Ascensão e sucesso internacional
A popularidade de Tony de Matos cresce exponencialmente quando passa a integrar a programação da APA (Agência de Publicidade Artística) e o “Comboio das Seis e Meia”. A sua voz melodiosa e interpretações emotivas conquistam o público, e a sua fama ultrapassa rapidamente as fronteiras nacionais.
No início da década de 1950, recebe o convite para gravar o seu primeiro disco, em Madrid. O tema “Cartas de Amor” torna-se um estrondoso sucesso e catapulta-o para o estrelato. Pouco depois, estreia-se no cinema, no documentário “Almourol”, de Fernando Garcia.
Em 1953, faz a sua estreia no teatro de revista com “Cantigas Ó Rosa”, seguido de “Saias Curtas”, onde faz um dueto memorável com Maria José da Guia. No mesmo ano, parte para o Brasil para uma temporada de atuações em televisão e casas de espetáculo como Oásis, Lord e Esplanada. Aí grava quatro discos de 78 RPM e lança um dos seus temas mais icónicos: “Rosinha dos Limões”.

Consolidação da carreira e expansão global
Nos anos seguintes, Tony de Matos torna-se um dos artistas mais requisitados para digressões internacionais, atuando em Espanha, Itália, Angola, Moçambique, África do Sul, Congo, Goa, Turquia e muitos outros países. O seu carisma e voz inconfundível arrebatam públicos de todo o mundo. Em 1959, abre, em Copacabana, o restaurante “O Fado” com a sua esposa, a cantora Maria Sidónio. Durante seis anos, Tony brilha na televisão e rádio brasileiras, participando em programas na TV Rio, TV Tupi e Rádio Nacional. No Brasil, grava alguns dos seus maiores sucessos, incluindo “Vendaval”.
Regresso a Portugal e últimos anos
De regresso a Portugal em 1964, abre um restaurante semelhante ao de Copacabana, chamado “Lado-a-Lado”. Nesse mesmo ano, estreia-se no cinema com “A Canção da Saudade” e, um ano depois, recebe o Prémio de Melhor Cançonetista.
Nos anos seguintes, continua a atuar e a gravar, embora, após a Revolução de 1974, tenha sentido um declínio na sua popularidade. Decide emigrar para os Estados Unidos, onde vive durante oito anos. No regresso, junta-se a Carlos Zel e Filipe Duarte na gestão da casa Fado Menor.
Em 1985, um convite de Vitorino para atuar no Coliseu dos Recreios reaviva o seu brilho. O sucesso do concerto leva à realização de um espetáculo em nome próprio, onde revisita os seus grandes êxitos, emocionando o público. No mesmo ano, lança a canção “Romântico”.
Tony de Matos falece a 8 de junho de 1989, deixando um legado inestimável. Em 2006, a RTP e a Ovação lançam um DVD com o seu último concerto, e, em 2007, é editado o álbum “A Vida de um Romântico”.
O legado de um ícone
Tony de Matos será sempre recordado como o cantor que deu voz ao amor, com um timbre inconfundível e uma presença magnética que atravessou fronteiras e gerações. O seu legado perdura na música portuguesa, inspirando novos artistas e mantendo vivo o espírito do verdadeiro cantor romântico.