Sophia de Mello Breyner Andresen NUNCA escreveu isto
Existem, na língua portuguesa, poemas erradamente atribuídos a Sophia de Mello Breyner Andresen. Saiba mais sobre estes erros virais.
Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, disse que “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Com efeito, nos dias de hoje e com o poder crescente da internet, como ferramenta ao acesso de qualquer pessoa, a citação anterior pode mesmo verificar-se.
E não começamos o nosso artigo por uma citação de forma inocente. Isto, porque vamos falar, precisamente, de frases, pensamentos ou, mesmo, poemas que, “por obra do destino” ou, mais concretamente, de alguém mal informado, acabaram por ficar associados a figuras que, na realidade, nunca as proferiram ou escreveram.
Habitualmente, estes erros, que se tornam verdadeiramente virais graças à internet, afetam figuras ilustres, com nomes de prestígio e que, normalmente, já faleceram, o que também ajuda a que o erro se propague, sem ninguém contestar a atribuição errada.
Fernando Pessoa é um dos alvos por excelência, talvez por terem existido muitos Pessoas, que é como quem diz, muitos heterónimos. Ou, talvez, por ser alguém cuja genialidade e talento para com as palavras são reconhecidos e admirados quase unanimemente. Além disso, como já faleceu, não pode contestar de viva voz as atribuições erradas.
Todavia, hoje vamos falar-lhe das palavras que, erradamente, têm atribuído a Sophia de Mello Breyner Andresen, particularmente de um poema que não é seu, mas sobre o qual até académicos escreveram!
Sophia de Mello Breyner Andresen e o mar que não era dos seus olhos
Convidamos o leitor a fazer a seguinte pesquisa no Google: Sophia de Mello Breyner Andresen mar dos meus olhos. Certamente, irão aparecer-lhe algumas notícias e publicações mais recentes dando conta de que não foi Sophia a autora deste texto.
Porém, paralelamente a esses registos, irão surgir-lhe um sem número de blogues, vídeos e outras fontes que não só atribuem o texto a Sophia, como procuram encontrar marcas da escritora naquele poema.
Na verdade, para quem não for um especialista em literatura, nomeadamente na poesia de Sophia, é possível sentir alguma afinidade com os temas que a autora abordava nos seus textos.
Todavia, o que torna este erro ainda mais grave é que, para além de viral, ele foi capaz de se propagar mesmo nas esferas intelectuais, universitárias e, assim, estar presente em trabalhos académicos e, até, já ter sido traduzido para outras línguas, servindo de “cartão de visita” para quem queira descobrir a obra de Sophia.
A descendência de Sophia parece, finalmente, estar a conseguir ver reposta a “ordem”, embora sejam ainda muitos os resultados de pesquisa que teimam em associar este texto ao nome da poetisa. Todavia, este não é, de facto, um poema de Sophia e parece até já se saber qual a origem deste apócrifo.
Ao que tudo indica, a autora deste texto é Adelina Barradas de Oliveira, que publicou o poema no seu blogue, em 2009, sob o título “Sophia de Mello Breyner Andresen”.
A publicação, em jeito de homenagem, como não apresentava qualquer assinatura, fez com que muitos internautas copiassem o texto como sendo da autoria de Sophia.
Poema Azul
Com menor difusão, mas ainda assim com alguns resultados no Google a apontar para uma atribuição errada, está o Poema Azul que não, não é da autoria de Sophia.
Neste caso, a origem do erro também é conhecida. Em 2006, Maria Bethânia lançou um álbum – Mar de Sophia – em que musicou e cantou alguns poemas redigidos pela escritora portuguesa.
É precisamente neste álbum que existe um tema – Poema azul – que, por fazer parte deste álbum, foi atribuído por alguns sites e blogues a Sophia. Um exemplo menos viral mas que, ainda assim, atribui erradamente as palavras de alguém a um outro alguém.
Conclusão
No que respeita a este tema, há sempre duas vítimas: aquele que nada disse ou escreveu e vê serem-lhe atribuídas palavras que não são suas; e, por outro lado, o verdadeiro autor que vê as suas frases serem-lhe roubadas (mesmo que, muitas vezes, não se importe de ver as suas palavras serem associadas à figura de um grande pensador ou escritor).
A verdade é que – e permita-nos o leitor que discordemos de Goebbels – uma inverdade é sempre uma inverdade e não, uma mentira repetida mil vezes nunca se pode tornar numa verdade.