Conheça a história de um soldado raso português, conhecido por Soldado Milhões. Valente, tornou-se no soldado mais condecorado da história do exército.
Existem portugueses que conseguem realizar grandes feitos em áreas muito distintas. São várias as pessoas de nacionalidade portuguesa que se revelam um bom exemplo das nossas qualidades, servindo como símbolo que representa na perfeição a qualidade dos portugueses. Há exemplos disso na arte, na arquitetura, no futebol, na música, nas finanças entre muitas outras áreas, até no exército.
Soldado Milhões: herói português da Primeira Guerra Mundial
As honras ao Soldado Milhões
Quem foi o homem que ficou conhecido como Soldado Milhões? O homem que se tornou no soldado mais condecorado da história do exército tem o nome de Aníbal Augusto Milhais. Foi no dia 9 de julho 1895 que o Soldado Milhões nasceu.
Ele cresceu e demonstrou ser um homem de coragem, pois, com a sua valentia, conseguiu tornar-se no soldado português mais condecorado da 1ª Guerra. Aníbal Augusto Milhais foi o único militar português a ser condecorado no campo de batalha com a Ordem Militar da Torre e Espada, a mais alta honraria. Seguramente que no dia 3 junho de 1970, data da sua morte, se despediu com um orgulho tremendo dos seus feitos.
O homem
Aníbal Augusto Milhais podia ser descrito como um ser humano simples, aparentemente banal, para soldado. Com apenas 1,55m, era considerado um homem pequeno e não se esperava que estivesse ali um grande herói. Mas, como os homens (ou as pessoas) não se medem aos palmos, ele comprova que não é preciso ter 1,90 para se mostrar útil no exército português. Ele tinha apenas 20 anos quando embarca para um país que não conhece para combater na guerra.
A guerra
Aníbal Augusto Milhais foi recrutado e incorporado no Regimento de Bragança, posteriormente, foi incorporado no Regimento de Chaves. O soldado aparentemente banal revela-se um atirador de elite. Assim, em 1917 Aníbal Augusto Milhais partiu para a frente de combate. Um ano depois, acontece o grande momento, o momento da Batalha de La Lys.
O dia 09 de abril
No dia 09 de abril os poderosos alemães atacam uma força portuguesa. De acordo com o que rezam as crónicas, nesse dia a situação era a pior possível. A força portuguesa estava a ser destroçada, muitos portugueses foram mortos e os poucos sobreviventes sentiram-se obrigados a partir em retirada. A ordem de evacuar foi dada e quando tal acontece, todos obedecem.
Contudo, Aníbal Augusto Milhais não era um homem qualquer, ele disponibiliza-se para ficar e por lá permanece de forma voluntária. Milhais defendeu: “— Vão-se embora, eu protejo a vossa retirada!” O grande gesto do pequeno soldado permitiu aos sobreviventes terem mais possibilidades de sobrevivência ao efetuarem a sua retirada.
Consequências
O soldado português correu o risco de ser punido por desobedecer às ordens, mas recusou abandonar a sua posição, ficando sozinho a enfrentar o inimigo! Ora, previsivelmente, poderia morrer por via da sua opção, por isso, não seria punido. A sua decisão foi importante pois permitiu empatar a ofensiva alemã dando aos seus companheiros a oportunidade de recuarem em segurança para linhas mais resguardadas (cerca de 30km). Por causa do Soldado Milhões, a maioria dos soldados que fizeram a retirada sobreviveu.
A lenda
Esse não foi o seu único feito. Aníbal Augusto Milhais realizou vários atos heroicos que o tornaram uma lenda do exército. Sendo um homem pequeno e franzino, Aníbal, deu vários exemplos da sua bravura.
Aníbal Augusto Milhais demonstrou uma perícia incomum com as armas, revelando-se um atirador de elite. A sua habilidade permitiu-lhe disparar a uma distância de 200m. A sua pequena estatura de 1,55m poderia ser uma desvantagem em muitas áreas, mas Aníbal usou a sua estatura de forma sagaz, movimentando-se furtivamente, saltando de trincheira em trincheira, podendo assim recarregar a sua metralhadora com recurso aos cartuchos dos soldados mortos.
Estratégia
O pequeno soldado era um estratega. Ao longo de vários dias, Aníbal Augusto Milhais foi disparando de diferentes posições. Esta estratégia, que fez com que recorresse a vários abrigos, servia para criar nas tropas alemãs a ilusão de que o sector encontrava-se guardado por vários militares.
Contudo, o pequeno soldado só tinha como companheira a sua amada Luísa, nome dado à sua metralhadora. Milhais já tinha partido quando o sector era tomado de assalto pelos alemães.
Outros feitos
Para se esconder e deixar passar os atacantes da Alemanha, Milhais chegou a aproveitar uma tela de tenda e a carcaça de um cavalo morto. O soldado português continuou a vaguear pelos campos, sozinho. Para comer, Milhais tinha apenas algumas amêndoas doces… Milhais chegou a metralhar sobre os alemães que faziam a escolta para salvar um grupo de escoceses de serem capturados. Mais tarde, salvou um major escocês de morrer afogado no decurso de uma passagem a nado.
O major escocês, que ficou para sempre agradecido, deu conta ao exército aliado dos feitos do soldado transmontano. Foi desta forma que o pequeno Aníbal se tornou numa lenda. Milhais foi efusivamente abraçado pelo seu comandante depois de chegar ao acampamento, tendo defendido: “— Chamas-te Milhais, mas vales Milhões!”
Reconhecimento
Aníbal Augusto Milhais recebeu, diretamente no campo de batalha, o Colar da Torre e Espada como homenagem aos feitos do soldado português. Milhais recebe a mais alta honraria nacional perante o desfile em continência de quinze mil soldados aliados. Para além disso, recebeu um novo nome: Soldado Milhões. Aníbal Milhais tornou-se numa lenda viva no exército e regressou a Portugal após o armistício, mais precisamente no dia 02 de fevereiro de 1919.
Vida depois da guerra
Em homenagem ao herói da terra, Valongo passa a chamar-se Valongo de Milhais. Na sua terra, o Soldado Milhões casa-se com Maria de Jesus. Com a sua esposa tem dez filhos, mas só oito chegaram à idade adulta.
Vive de forma difícil, entregando-se à vida no campo, foram dias de muito sacrifício. Milhais decide emigrar para o Brasil em 1928, para fazer face à crise. A aldeia realizou um grande peditório de forma a pagarem a Milhais a viagem de regresso, defendendo que “um herói da pátria não deve estar emigrado; deve estar mas é no seu país, como símbolo, como reserva de um conjunto de valores”.
O regresso
O homem que ficou conhecido como Soldado Milhões regressou a Portugal no dia 05 de agosto de 1928, retomando as tarefas no campo para sustentar os filhos. Nesse ano, o Estado português atribuiu-lhe uma pensão, servindo como reconhecimento material da nação. O apoio resumiu-se a uma pensão de 15 escudos. Este valor mensal manteve-se sempre ao longo de 22 anos!
A morte
Milhais morreu com 75 anos, no dia 03 de junho de 1970. O Soldado Milhões tornou-se numa lenda do exército. As medalhas conquistadas no campo da glória fizeram com que se tornasse no soldado português mais condecorado da história do exército, um feito que fez com que tivesse, nessa altura, pouco mais de 1000 escudos/mês de pensão.