Saiba o que pode acontecer se um raio atingir um avião. Acompanhe-nos nesta análise detalhada sobre como os aviões lidam com descargas elétricas e garantem a segurança dos passageiros e da tripulação.
Apesar de parecer uma situação assustadora, um raio atingir um avião não é tão incomum quanto parece. Em média, cada aeronave é atingida por um raio uma vez por ano. Mas não entre em pânico – especialistas garantem que na maioria dos casos, os relâmpagos não representam um perigo sério.
Isso porque os aviões são projetados para lidar com essa situação de forma segura. Quando ocorre uma descarga elétrica, o design moderno das aeronaves permite que a eletricidade seja dissipada para fora, evitando danos aos passageiros e aos delicados componentes eletrónicos a bordo. O revestimento exterior metálico do avião age como uma gaiola de Faraday, protegendo o interior da aeronave de danos potenciais. Assim, apesar do espetáculo visual, os passageiros podem voar tranquilos, sabendo que estão protegidos por medidas de segurança eficazes.
Uma gaiola de Faraday é como um escudo protetor contra as correntes elétricas, como as geradas por um raio. Ela funciona redirecionando a corrente ao redor de uma cavidade por meio de uma camada externa de metal. Essa técnica é essencial para proteger objetos sensíveis de danos causados pela eletricidade. Imagine como uma armadura que mantém o interior seguro em meio a uma tempestade elétrica.
Quando um raio atinge novamente um avião, geralmente ocorre na parte inferior, e, felizmente, raramente causa danos significativos. Na maioria das vezes, provoca apenas uma área queimada, podendo ser facilmente reparada. Contudo, é crucial evitar voar pelo meio das tempestades sempre que possível, já que raios particularmente intensos podem ocasionar danos na aeronave e nos seus sistemas eletrónicos.
Can you see the plane just below the clouds? Direct Hit on an A380 out of SeaTac. If you were in the South Puget Sound at about 4:45pm, this is what you heard #wawx #Lightning #thunderstorm pic.twitter.com/g4u3ScQERj
— Michael Snyder (@SeattleWXGuy) March 28, 2024
Como ilustrado numa postagem recente no X (antigo Twitter), podemos observar um avião a voar logo abaixo das nuvens e a ser atingido por um raio, evidenciando a importância de compreender os riscos e tomar precauções ao voar em condições meteorológicas adversas.
Isto não é assim tão invulgar para a tripulação. Estatisticamente, um avião é atingido por um raio como este uma vez por ano. E a tripulação está treinada para isto e depois entrega o avião diretamente ao departamento de tecnologia para inspeção. – Cord Schellenberg, especialista em aviação, numa entrevista ao Norddeutscher Rundfunk
Os raios têm uma tendência peculiar de atingir certas partes específicas das aeronaves com mais frequência do que outras. Geralmente, eles escolhem alvos como a antena de radar no nariz do avião, a área do cockpit, as pontas das asas e as nacelas dos motores. Mais raramente, podemos observar esses fenómenos ocorrendo noutras partes da fuselagem e na cauda da aeronave. É fascinante como essas descargas elétricas têm as suas preferências, e entender esses padrões pode ajudar na implementação de medidas de segurança adequadas durante os voos.
Este é um ponto crucial a ter em conta no design e construção de aeronaves, seja para aviões ou helicópteros. As máquinas modernas são naturalmente condutoras de eletricidade, o que as torna suscetíveis a danos causados por raios. Para combater essa vulnerabilidade, os engenheiros adotam uma abordagem engenhosa: incorporam uma malha de cobre na pele da fuselagem e das asas.
Essa malha funciona como uma espécie de escudo, direcionando a eletricidade de forma segura para longe da tripulação, dos passageiros e dos dispositivos eletrónicos a bordo, protegendo-os de potenciais danos. Assim, a segurança e o conforto dos viajantes são prioridades máximas, garantindo viagens aéreas mais seguras e tranquilas.
Há uma malha metálica incorporada no revestimento exterior do avião, uma espécie de gaze que a atravessa toda, e é assim que a eletricidade é dissipada. – Chris Hammond, antigo piloto e membro da Associação Britânica de Pilotos de Linhas Aéreas, numa entrevista à BBC.
A bordo, a eletrónica delicada e o depósito de combustível, juntamente com todas as suas conexões, recebem uma atenção especial em termos de proteção. São blindados meticulosamente para garantir que permanecem seguros contra sobretensões externas e para prevenir qualquer possibilidade de explosões. Essas medidas são vitais para assegurar não apenas a segurança dos passageiros e da tripulação, mas também a integridade e a funcionalidade da aeronave durante todo o voo.
Outras medidas de proteção
Os pilotos recebem instruções precisas para contornar frentes de tempestade, pois durante o voo não é apenas o perigo dos relâmpagos que preocupa, mas também a turbulência, as correntes de ar imprevisíveis e a possibilidade de formação de gelo nas partes da aeronave. Quando um raio atinge um avião, é comum realizar uma aterragem de emergência para inspeções técnicas detalhadas. Geralmente, as aeronaves voltam a operar dentro de 24 horas.
Antes de entrar em serviço, cada aeronave passa por rigorosos testes, incluindo simulações de impacto de raios na fuselagem e nos componentes internos. Existem diretrizes específicas que regulam desde a construção até a manutenção e operação dos aviões, garantindo assim a segurança e a fiabilidade dessas máquinas complexas que voam pelos céus.
Em novembro de 2023, a Administração Federal de Aviação (FAA) nos Estados Unidos tomou uma medida crucial: exigiu inspeções anuais nos tanques de combustível de todas as variantes do Boeing 747. A razão para essa decisão foi a descoberta de que o material de proteção contra raios estava-se a degradar mais rapidamente do que o previsto, o que levou a um aumento nos intervalos de manutenção. Essa mudança afetou principalmente a Atlas Air Worldwide e as suas subsidiárias, responsáveis pela operação de 56 aeronaves Boeing 747, mais do que qualquer outra companhia aérea dos EUA.
Além das inspeções, outras medidas de segurança estão a ser discutidas, como o uso de películas de proteção contra raios, que protegem a aeronave de danos causados por descargas elétricas. A introdução de detetores de relâmpagos também está a ser considerada, pois podem identificar relâmpagos entre nuvens e entre nuvem e solo sem depender exclusivamente das informações meteorológicas locais ou das previsões dos aeroportos. Esta tecnologia pode poupar tempo valioso, especialmente quando há ameaças de tempestades iminentes.
Os passageiros e a tripulação
A queda de relâmpagos durante um voo não só gera tensão nos passageiros e na tripulação, mas também pode causar desconforto físico e psicológico. Além do impacto direto do barulho ensurdecedor dos motores e do trovão, e do cheiro a queimado que pode surgir, os relâmpagos podem até provocar cegueira temporária. Essa situação estressante pode gerar ansiedade e preocupação entre os ocupantes da aeronave, destacando a importância de medidas eficazes de segurança para garantir a tranquilidade durante o voo.
O relâmpago cegou a mim e ao comandante de tal forma que não conseguimos ver nada durante cerca de oito minutos. Durante esse tempo, tentei várias vezes ler os instrumentos da cabine, mas foi impossível. – Experiência do Primeiro Oficial N. A. Pierson num voo de Presque Isle, Maine, para as Ilhas Santa Maria, em 9 de julho de 1945.
Antigamente, quando os aviões não dispunham de sistemas tão avançados de proteção contra raios, os sistemas eletrónicos de bordo podiam falhar ocasionalmente. Isso não só colocava a aeronave em risco de se tornar incontrolável, mas também aumentava o potencial de acidentes graves. A evolução das tecnologias de segurança aérea foi crucial para garantir voos mais seguros e confiáveis, protegendo tanto a tripulação quanto os passageiros contra os perigos das descargas elétricas atmosféricas.
É fundamental reconhecer que as medidas de segurança implementadas atualmente são o fruto de um longo processo de aprendizagem a partir de falhas e acidentes dramáticos. Embora a necessidade de aterragens de emergência por motivos de segurança possa ser desconfortável e perturbar os planos pessoais, são absolutamente justificadas. Essas precauções visam garantir a segurança de todos a bordo e são uma parte essencial da aviação moderna, proporcionando tranquilidade aos passageiros e tripulantes.