São João do Porto: história e curiosidades
A festa popular de São João representa parte da identidade da cidade do Porto. Fique a saber mais sobre o São João portuense.
A festa popular de São João representa parte da identidade da cidade do Porto e tornou-se a noite mais longa na Invicta, sendo mesmo um dos maiores eventos do calendário de festas nacional.
Ela ocorre na passagem do dia 23 para o dia 24 de junho e encanta portuenses, portugueses e cada vez mais turistas. Esta festividade é hoje um símbolo da cidade e reúne uma série de tradições e curiosidades interessantes.
Este artigo pretende revelar muita informação, que se pretende esclarecedora, sobre esta magnífica noite portuense. Uma festa que, sendo celebrada em diversas localidades portuguesas (nomeadamente, Alcácer do Sal, Almada, Angra do Heroísmo, Braga, Tavira, …), a Invicta é um dos sítios onde os festejos têm mais impacto nacional. Esta cidade continua ter no dia 24 de junho o seu feriado municipal, proporcionando aos portuenses a oportunidade de celebrar com toda a folia.
Origem
Apesar de oficialmente se se tratar de uma festividade católica, destinada a celebrar o nascimento de São João Batista, a verdade é que o início desta comemoração tem origem numa festa pagã.
O solstício de verão e a fertilidade eram o motivo de festejo, assim como as colheitas e a abundância que levavam os pagãos a celebrar. A Igreja, tal como fez com outras festas pagãs (Carnaval), cristianizou esta festa (provavelmente ainda antes do século XIV), destinando-lhe como Padroeiro São João.
Antiguidade
Apesar de se desconhecer com o indispensável rigor a data de início da festa do São João do Porto, crê-se que ela tenha surgido ainda antes do século XIV. Há, aliás, registos que permitem garantir que em pleno século XIV já se fazia essa festa no Porto.
Fernão Lopes estava na cidade portuense com intenção de preparar uma visita do Rei. A sua estadia coincidiu com a véspera de São João e, por isso, ele deixou escrito nas suas crónicas uma descrição desse dia, referindo que na cidade, as gentes do Porto faziam uma grande festa.
Existe também uma cantiga da época que fazia alusão a que até os moiros da moirama celebravam o São João, o que permite concluir que a festa é ainda mais antiga, mesmo anterior ao século XIV.
Já mais tarde, no ano de 1851, os jornais contavam que cerca de 25 mil pessoas tinham marcado presença entre os Clérigos e a Rua de Santo António, integrando os festejos sanjoaninos.
São João
Apesar de existirem santos conhecidos como São João – nomeadamente um eremita da região de Tuy (frente a Valença) que viveu no século IX –, é mais comum associar a data de São João à figura de São João Baptista.
Nascido perto de Jerusalém, São João Baptista foi um pregador judeu contemporâneo de Jesus Cristo, tendo vivido no início do século I. Foi citado por Flávio Josefo, historiador, e pelos autores dos quatro Evangelhos da Bíblia.
João Baptista ficou eternizado por, entre outros motivos de relevo, ter batizado Jesus. Ele faleceu com cerca de 30 anos. Herodes Antipas ordenou que fosse decapitado.
São João Baptista e Jesus
A 24 de junho celebra-se o nascimento de João Baptista, que possui um percurso próximo de Jesus, sendo ambos fruto de um milagre. Tanto o sacerdote Zacarias como a sua mulher Isabel (pais de João Baptista) não podiam ter filhos.
Porém, uma visita do Anjo Gabriel fez com que o destino de ambos mudasse, tendo o anjo informado Isabel que ela iria conceber um bebé chamado João. Isabel recebeu, posteriormente, a visita de uma prima que lhe contou que ia ter uma criança, também por intercedência divina.
A prima tinha o nome Maria e ficou conhecida como a Virgem Maria. Também ela tinha recebido o mesmo anjo, o qual anunciou o nascimento de um bebé que se iria chamar Jesus. João Baptista e Jesus eram primos.
Tradições
Ao longo dos anos, o dia de São João integrou diferentes tradições. Dada a longevidade do evento, a integração dessas tradições foi gradual. Contudo, a verdade, é que hoje em dia é difícil imaginar a festa de São João sem algumas delas.
– Os alhos-porros e os ramos de cidreira (e de limonete) eram/são usados, tendo em conta a origem pagã desta festa. Os alhos-porros eram um símbolo fálico da fertilidade masculina, usados pelos homens para acertar nas cabeças dos indivíduos que passassem. Já as mulheres recorriam aos ramos de cidreira e de limonete, símbolo dos pelos púbicos femininos.
– Os martelos de plástico surgiram como uma “substituição” do alho-porro e servem para bater nas cabeças das pessoas. Curiosamente, ou talvez não, é um objeto de forma fálica. Os martelos são bastante coloridos e fazem um barulho estridente quando se bate com eles, para além de muitos deles possuírem um assobio na extremidade. Ou seja, celebrar é também sinónimo de fazer barulho.
– Para além destas tradições, podemos ainda destacar o lançamento dos balões de ar quente que enchiam os céus de luzes em noite de São João. Esta tradição está inserida numa prática de culto pagão ao sol e à luz. Este culto incluía, também, a realização de grandes fogueiras em espaços abertos (como forma de celebrar o solstício de verão de acordo com a antiga tradição pagã, recorrendo ao fogo, um dos elementos mais importantes da natureza). Ao longo da história, foram incluídas outras formas de prestar este culto, caso do fogo-de-artifício. Recentemente, as autoridades introduziram limitações à venda de balões, de modo a evitar incêndios. A tradição de lançar balões foi proibida, já que a queda de balões chegou mesmo a causar alguns pequenos incêndios.
– Outra tradição desta época é a dos vasos de manjericos com uma pequena bandeira espetada que contém versos populares.
– As cascatas sanjoaninas também representam uma tradição desta época. São uma espécie de presépio animado onde estão presentes diversas pequenas esculturas que ilustram as diferentes artes, ofícios e arquitetura da cidade. Esta é outra forma de prestar homenagem a São João.
– Por último, resta mencionar o ex-libris da noite de São João, o fogo-de-artifício que se pretende que comece por volta da meia-noite e tem uma duração de cerca de 15 minutos. Ocorre por cima do belo rio Douro e integra uma paisagem onde a ponte Luís I detém grande protagonismo. As margens da cidade de Gaia e do Porto, divididas pelo rio repleto de barcos, criam um cenário absolutamente memorável.
– Ao longo do dia e da noite, são vários os concertos e a música que se espalham pela cidade.
Gastronomia
No que diz respeito à gastronomia destinada a este dia tão especial para os portuenses, o protagonismo vai para o cabrito assado. Pelas ruas e ruelas da cidade portuense, serão visíveis diversas grelhas e braseiros com pinhas ou carvão. As carnes grelhadas, acompanhadas por pimento assado, broa e, também, pelas famosas sardinhas (comidas no prato ou no pão), concedem um especial aroma a esta quadra festiva.
O caldo verde é a sopa que garante lugar na mesa, neste dia especial. O bom vinho do Douro tem também presença assegurada. Bancas e mesas improvisadas estarão espalhadas pelas ruas, dando espaço para o convívio numa festa que, anualmente, recebe muitos milhares de pessoas rendidas ao São João do Porto.
Curiosidade
Sabia que o São João não é o santo padroeiro da cidade do Porto? Apesar de ter grande destaque na cidade, ser o santo mais celebrado da Invicta e até “ter” um feriado municipal, o santo padroeiro do Porto é, na verdade, uma santa, neste caso, Nossa Senhora da Vandoma.
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