Recordar Amália Rodrigues 20 anos depois
Recordar Amália Rodrigues que levou o nome de Portugal pelos mares do mundo. Foi a 6 de outubro de 1999 que o país soube, com choque, da sua morte.
Amália Rodrigues é e será para sempre um símbolo de Portugal. Ela foi responsável por ter propagado o nome do país num contexto difícil, em que os portugueses poucas razões tinham para celebrar a vida.
Este ano, passam 20 anos sobre o seu desaparecimento e por isso, mais do que nunca, faz sentido recordar a sua vida e obra, como forma de a celebrar.
A vida
Amália da Piedade Rebordão Rodrigues, Amália Rodrigues ou, simplesmente, Amália nasceu em Lisboa. No dia 01 de julho de 1920, a Diva do Fado nasceu, tendo sido registada no dia 23.
Aos 6 anos, foi viver com os avós para o bairro de Alcântara. Dali, saíram muitos e bons fadistas. Desde muito cedo, demonstrou particular gosto por cantar. No ano de 1935, foi escolhida para cantar o “Fado Alcântara”.
Foi a primeira de muitas das etapas superadas. Foram muitos os passos dados para alcançar o estrelato. Foi protagonista de vários filmes e intérprete de músicas que se tornaram emblemáticas para os portugueses.
Amália Rodrigues tornou-se mais do que uma figura incontornável da História do Fado, tornou-se parte da História de Portugal. Tem a honra de ter uma exposição permanente no Museu do Fado, que se torna sobretudo numa homenagem.
A Obra
Foi com 25 anos que a Diva do Fado realizou sua primeira tournée internacional, na bela cidade do Rio de Janeiro. Foi ainda nesta cidade que gravou o primeiro dos muitas álbuns que teve oportunidade de lançar (no total foram cerca de 170 álbuns).
Além de cantora, Amália Rodrigues foi também atriz. Foi no ano de 1947 que protagonizou o seu primeiro filme, Capas Negras. Teve uma vida de muitas conquistas que lhe garantiu um reconhecimento internacional sem precedentes em Portugal.
Entre os seus inúmeros êxitos estão músicas como: Maria Lisboa, Madrugada de Alfama, Vagamundo, Coimbra, Barco Negro, Lisboa Antiga, Uma Casa Portuguesa, Nem às Paredes Confesso, Tudo isto é Fado, Lisboa Não Sejas Francesa, Marcha da Mouraria, Cuidado Coração, Eu Disse Adeus à Casinha, Esquina do Pecado, Alamares, Solidão, Confesso.
As conquistas
Amália Rodrigues teve uma vida repleta de conquistas. Colecionou diferentes prémios e condecorações, entre eles estão: Melhor Atriz do Ano Prémio do SNI em 1948 (no filme “Fado, História de uma Cantadeira”) e, em 1965, com os filmes “Fado Corrido” e “As Ilhas Encantadas”;
Prémio M.I.D.E.M. pelo recorde de vendas do ano no mercado discográfico português (por 3 vezes, 1967, 1968 e 1969). Em 1966, venceu duas vezes o Prémio Pozal Domingues para o EP “Fandangueiro” e para o EP “Vou dar de beber à dor”.
Entre outras condecorações emblemáticas, há a destacar: Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, em 1980; Medalha de Ouro da Cidade do Porto, em 1986; Grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago de Espada; em 1958;
Grau de Oficial da Ordem Militar da Ordem Militar de Santiago de Espada, no ano de 1970; Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 1980; Grau de Comendador da Ordem das Artes e Letras, em 1985;
Grã Cruz da Ordem de Santiago de Espada, em 1990; e, também, a Grande Medalha de Prata da Cidade de Paris, no 1959.
A Morte
Amália faleceu na cidade de Lisboa, no dia 06 de outubro do ano de 1999. O povo demonstrou a sua dor no funeral da fadista, pois a perda era irreparável.
O país chorou o desaparecimento da Diva do Fado. Mais tarde, a 08 de julho de 2001, os restos mortais da fadista foram transladados do Cemitério dos Prazeres para o Panteão Nacional.
Sendo uma bandeira para inúmeros portugueses, ela tem a honra de estar na companhia de outros portugueses ilustres.
Curiosidade
Por vontade da fadista, colocada em testamento, foi instituída a Fundação Amália Rodrigues. Esta foi criada oficialmente no dia 10 de dezembro de 1999, apenas dois meses após a sua morte.
Esta fundação realiza uma gala anual, desde o ano 2005. Nesta gala são vários os prémios atribuídos, nomeadamente: Carreira Feminina e Masculina; Compositor de Fado; Ensaio e Divulgação; Fado Amador; Guitarra Portuguesa;
Intérprete Feminina e Masculino; Música Sinfónica; Música Étnica, Viola, Viola Baixo; Poeta de Fado; Registo Discográfico; Revelação Feminina e Masculina, Internacional.
Uma música
Vou Dar de Beber À Dor
Foi no Domingo passado que passei
à casa onde vivia a Mariquinhas,
mas ‘stá tudo tão mudado
que não vi em nenhum lado
as tais janelas que tinham tabuinhas.
Do rés-do-chão ao telhado
não vi nada, nada, nada
que pudesse recordar-me a Mariquinhas,
e há um vidro pregado e azulado
onde havia as tabuinhas
Entrei e onde era a sala agora está
à secretária um sujeito que é lingrinhas,
mas não vi colchas com barra
nem viola, nem guitarra,
nem espreitadelas furtivas das vizinhas.
O tempo cravou a garra
na alma daquela casa
onde as vezes petiscavamos sardinhas
quando em noites de guitarra e de farra
estava alegre a Mariquinhas.
As janelas tão garridas que ficavam
com cortinados de chita às pintinhas
perderam de todo a graça
porque é hoje uma vidraça
com cercadura de lata às voltinhas
E lá p’ra dentro quem passa
hoje é p’ra ir aos penhores
entregar ao usurário umas coisinhas,
pois chega a esta desgraça toda a graça
da casa da Mariquinhas.
P’ra terem feito da casa o que fizeram
melhor fora que a mandassem p’rás alminhas,
pois ser casa de penhores
o que foi viveiro d’amores
é ideia que não cabe cá nas minhas
Recordaçoes do calor
e das saudades. O gosto
que eu vou procurar esquecer
numas ginginhas,
pois dar de beber à dor é o melhor,
já dizia a Mariquinhas.
Amália Rodrigues
Vídeo de: Música Unida Fados e Outras Músicas