A circulação nas autoestradas portuguesas vai ficar mais cara em 2025, com um aumento das portagens previsto em cerca de 2%. Este acréscimo está diretamente ligado às mais recentes estimativas de inflação, divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Tal como tem sido prática nos últimos anos, o ajustamento anual das tarifas de portagem baseia-se na inflação homóloga sem habitação do mês de outubro, refletindo assim as pressões inflacionárias que continuam a impactar a economia do país.
A Inflação como principal motor do aumento das portagens
Segundo os dados provisórios do INE relativos ao mês de setembro, a inflação sem habitação registou uma taxa de 1,88%, representando um aumento face aos 1,65% observados em agosto. Esta tendência, caso se mantenha até ao final de outubro, deverá resultar num aumento das portagens a rondar os 2%. Além disso, um adicional de 0,1% será também aplicado, fruto de um acordo entre o Governo e as concessionárias, firmado no ano anterior, como compensação por limitações impostas no aumento das portagens de 2023.
Este cenário surge num contexto económico onde a inflação continua a ser um fator determinante na definição de preços em diversos sectores, incluindo nas infraestruturas rodoviárias.
O contexto do acordo de compensação
O acréscimo de 0,1% nas portagens faz parte de um acordo de compensação entre o Governo e as concessionárias das autoestradas, estabelecido em 2023, quando o Executivo decidiu limitar a subida das portagens. Sem esta intervenção, o aumento poderia ter rondado os 10%, dado o cenário inflacionário. Para evitar esse impacto excessivo nos utilizadores, o Governo limitou o aumento, mas negociou com as concessionárias a aplicação de um acréscimo gradual de 0,1% nos quatro anos subsequentes, como forma de compensar as perdas resultantes dessa decisão.
Este mecanismo de compensação visa assegurar o equilíbrio financeiro das concessionárias, protegendo-as das consequências da inflação e dos custos crescentes de manutenção das infraestruturas rodoviárias.
Expectativas para a inflação de outubro
Os especialistas apontam para uma inflação homóloga global de cerca de 2,3% em outubro, o que reforça a expectativa de que o aumento das portagens se fixe perto dos 2%. De acordo com Paulo Monteiro Rosa, economista do Banco Carregosa, é provável que a inflação homóloga sem habitação seja ligeiramente mais baixa em outubro, situando-se entre 1,56% e 1,76%. Contudo, este valor ainda é suficientemente elevado para justificar o aumento previsto nas tarifas de portagem.
Benefícios para as regiões do interior
Embora este aumento tenha um impacto significativo para os utilizadores das autoestradas, especialmente nas regiões metropolitanas e nos principais eixos rodoviários do país, nem todas as notícias são negativas. A partir de janeiro de 2025, algumas das antigas SCUT (autoestradas sem custos para o utilizador) — como a A4, A13, A23, A24, A25 e A28 — deixarão de cobrar portagens, numa medida que visa promover a coesão territorial e melhorar a mobilidade nas zonas menos populosas do país.
Esta decisão tem um impacto positivo para as regiões do interior, onde a mobilidade rodoviária é essencial para o desenvolvimento económico e social. A abolição das portagens nestas vias surge como uma resposta a reivindicações de longa data das comunidades locais, aliviando os encargos financeiros das populações e incentivando o uso de infraestruturas que são cruciais para a dinamização destas áreas. Com menos custos associados às viagens, é esperado um aumento na circulação, o que poderá fomentar o comércio e o turismo nas regiões do interior.
Um equilíbrio entre aumentos e alívios
O cenário de 2025 desenha-se com um misto de desafios e oportunidades. De um lado, o aumento generalizado das portagens nas principais autoestradas reflete o impacto contínuo da inflação e o aumento dos custos de manutenção das infraestruturas rodoviárias. De outro, a eliminação das portagens em algumas autoestradas do interior traz um alívio significativo para muitos condutores, que poderão usufruir de vias rápidas sem custos adicionais.
Este equilíbrio entre ajustes nas portagens e incentivos para a coesão territorial demonstra a tentativa do Governo em manter uma gestão ponderada das infraestruturas rodoviárias, num contexto económico ainda marcado pela recuperação pós-pandemia e pela pressão inflacionária global.
O impacto para os utilizadores
Para os utilizadores das principais autoestradas, especialmente aqueles que realizam viagens frequentes, este aumento das portagens pode significar custos acrescidos nas deslocações diárias. Para mitigar este impacto, é possível que os condutores comecem a adotar estratégias como o uso de rotas alternativas ou a partilha de veículos em deslocações mais longas.
Por outro lado, as populações das regiões do interior irão beneficiar de uma mobilidade mais acessível, sem os encargos das portagens, o que poderá melhorar significativamente a qualidade de vida e o acesso a serviços essenciais.
Conclusão
O aumento das portagens em 2025 reflete uma pressão inflacionária inevitável, com ajustes que têm impacto direto no dia-a-dia dos cidadãos. No entanto, o cenário também oferece perspetivas positivas para as regiões do interior, onde a abolição das portagens em seis autoestradas trará benefícios consideráveis. Para muitos, este equilíbrio entre aumentos e alívios representa um novo capítulo na gestão das infraestruturas rodoviárias em Portugal, onde a coesão territorial e a sustentabilidade económica continuam a ser prioridades.
Assim, o próximo ano apresenta-se como um desafio para o orçamento dos condutores, mas também como uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento para as regiões mais desfavorecidas do país. O ajustamento das portagens espelha, de forma clara, a complexidade da gestão de preços num contexto de inflação moderada, mas ainda presente, com impactos diretos na mobilidade e economia nacional.