Descubra histórias em que a vírgula assumiu um papel fundamental. Também explicaremos como usar a vírgula corretamente.
Os sinais de pontuação têm regras de uso que importa conhecer e saber cumprir. A própria História está repleta de episódios em que um mau uso da vírgula pode ter custado muito dinheiro ou mesmo ser um caso de vida ou de morte? Não acredita? Conheça as histórias que reunimos para si e, já agora, não se esqueça que nunca se põe uma vírgula entre o sujeito e o verbo.
Português: como usar a vírgula corretamente
Uma vírgula que custou dinheiro
Voltamos ao momento em que os Estados Unidos da América se tornaram independentes do Reino Unido. Para aumentar a riqueza nacional, a 04 de julho de 1789, o presidente George Washington aprovou a Lei Tarifária de 1789, a qual taxava bens e mercadorias, como principal fonte de rendimento dos Estados Unidos da América.
Esta lei esteve em vigor até 06 de junho de 1872, altura em que Ulysses S. Grant emitiu a primeira Lei das Tarifas, de modo a diminuir as taxas de certos bens manufaturados, ou seja, havia produtos livres de taxas de importação, a saber: “fruit, plants tropical and semi-tropical for the purpose of propagation or cultivation.”
Ora, a vírgula que existe a mais entre “fruit” (fruta) e “plants” (plantas) permitiu que a fruta ficasse isenta de taxas, sendo que a fruta era um dos bens mais importados para os Estados Unidos da América.
Assim, um produto que era taxado a 20% passou a estar livre de impostos, com todas as consequências que daí advieram. Devido a esta vírgula, houve uma perda de dois milhões de dólares.
Naturalmente que, depois, a lei foi corrigida para: “fruit-plants, tropical and semi-tropical for the purpose of propagation or cultivation.”
Uma vírgula na política portuguesa
Em janeiro de 1993, Aníbal Cavaco Silva era primeiro-ministro e foram várias as comissões de inquérito que foram conduzidas nessa altura. Uma dessas comissões foi, precisamente, a comissão de inquérito à vírgula.
Na base desta comissão, estiveram as declarações da jornalista Helena Sanches Osório que garantia que havia alguém com poder legislativo que tinha recebido 120 mil contos para colocar uma vírgula em prol de um membro do governo, num artigo de uma lei.
A 19 de março, Carlos Candal, deputado do PS e presidente desta comissão encerrou a mesma, por não haver provas das acusações que foram feitas. Facto ou boato? Persiste até hoje a dúvida acerca desta vírgula da polémica…
Uma vírgula salvadora
Maria Fyodorovna foi casada com Alexandre III da Rússia, mas era uma mulher muito diferente do seu marido. Enquanto ele se concentrava em matar ou mandar exilar os anarquistas, Maria Fyodorovna tinha outra postura e embora não se envolvesse em questões políticas, um dia acabou por fazê-lo.
Conta-se que um dia, quando se encontrava no Palácio de Anichkov, viu um documento onde Alexandre III ordenava o exílio de mais um homem que se opunha contra os seus ideais. A carta dizia: “Perdão impossível, ser mandado para a Sibéria”.
Nesse momento, Maria Fyodorovna decidiu trocar o lugar da vírgula, mudando assim, totalmente, o sentido da ordem para: “Perdão, impossível ser mandado para a Sibéria.” Assim, o homem não foi exilado.
A vírgula e a Bíblia
Falamos da Bíblia do Rei Jaime, “A Bíblia Sagrada, contendo o Velho Testamento e o Novo”, uma tradução inglesa da obra, ofertada à Igreja Anglicana, no século XVII.
Nesta obra, trabalharam 50 estudiosos que tiveram por base a tradução de William Tyndale, de 1525. A Bíblia ficou concluída em 1611 e foi autorizada pelo Parlamento. Porém, havia um erro no livro de Lucas, entre os versículos 32 e 43 do capítulo onze.
Na passagem, podia ler-se:
“E havia também outros dois, malfeitores, conduzidos com ele para ser morto. E, chegando eles ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, e os malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Então disse Jesus, Pai, perdoa-lhes; Porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes lançaram sortes. O povo olhava. E também os príncipes faziam pouco dele, dizendo: Aos outros salvou, salve-se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus. E também os soldados o escarneciam, chegando-se a ele, e apresentando-lhe vinagre. E dizendo: Se tu és o Rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo. E também por cima dele, estava um título, escrito em letras gregas, romanas, e hebraicas: Este É o Rei dos Judeus. E um dos malfeitores que estava pendurado blasfemava, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu ainda não temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso.”
Nas primeiras edições desta Bíblia, a palavra destacada (“malfeitores”) não se encontrava entre vírgulas, pelo que se lia: “E havia também outros dois malfeitores conduzidos com ele para ser morto”, o que levava a interpretar que Jesus também pertenceria ao grupo dos malfeitores e criminosos.
Além disso, há outro aspeto que merece análise: “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso.” Se a vírgula avançar um pouco mais para a frente, o sentido da frase também é alterado: “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso.“ Neste caso, o que é dito é que os dois se vão encontrar no Paraíso, mas não necessariamente naquele mesmo dia, o que não corresponde às versões originais.
A vírgula e a herança do homem rico
Esta é a história de um homem rico que, antes de morrer escreve o seu testamento, redigindo: “Deixo os meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres.”
Contudo, o homem morreu antes de pontuar a frase. Logo, restou a dúvida quanto a quem era o herdeiro: se a irmã, o sobrinho, o padeiro ou os pobres. É que a posição das vírgulas é determinante para identificar o herdeiro. Ora, confira as quatro possibilidades:
– “Deixo os meus bens, à minha irmã não, a meu sobrinho, jamais será paga a conta do padeiro, nada dou aos pobres”. (Neste caso, o sobrinho é o herdeiro.)
– “Deixo os meus bens à minha irmã, não a meu sobrinho, jamais será paga a conta do padeiro, nada dou aos pobres”. (Neste caso, a irmã é a herdeira.)
– “Deixo os meus bens, à minha irmã não, a meu sobrinho jamais, será paga a conta do padeiro, nada dou aos pobres”. (Neste caso, o padeiro é o herdeiro.)
– “Deixo os meus bens, à minha irmã não, a meu sobrinho jamais, será paga a conta do padeiro nada, dou aos pobres”. (Neste caso, os pobres são os herdeiros.)
Então, quando e como devemos usar as vírgulas?
Há algumas regras que nos podem ajudar a ficar a saber quando e onde usar a vírgula. Tome nota de algumas delas.
Use sempre a vírgula:
– para separar partes da frase com a mesma função sintática, a não ser que existam conjunções como “e” ou “ou”. Exemplo: “Fui comprar manteiga, iogurtes e sumos.”
– para delimitar o vocativo. Exemplo: “Mário, podes emprestar-me o teu casaco?”
– para delimitar uma parte explicativa da frase. Exemplo: “O Pedro, que joga futebol, foi comprar umas chuteiras.”
– após “sim” ou “não”, se estiverem no princípio de uma frase, remetendo para a anterior. Exemplo: “Não, a loja não está aberta.”
– após os conectores adverbiais. Exemplo: “O Marco gosta de pizza, contudo, evita comê-la.” ou “O Marco gosta de pizza. Contudo, evita comê-la.”
– antes das conjunções, com exceção da conjunção “e”. Exemplo: “Preferi não entrar na cozinha, embora tivesse fome.”
– após as orações adverbiais, no princípio da frase. Exemplo: “Quando soube da mentira, fui até casa dele pedir explicações.”
– para delimitar as orações adverbiais, quando no meio da frase. Exemplo: “Hoje à noite, quando soube da notícia, telefonei-lhe imediatamente.”
– após as orações com gerúndio. Exemplo: Olhando pela janela, a Maria observava o horizonte.”
– após uma palavra ou expressão modificadora do verbo ou da frase. Exemplo: “Felizmente, a primavera está a chegar!”
– para delimitar uma palavra ou expressão modificadora do verbo ou da frase, quando surge no meio da frase. Exemplo: A primavera está, felizmente, a chegar!”
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