Portugal volta a enfrentar o poder imprevisível da natureza. A depressão Cláudia está a varrer o território continental e o arquipélago da Madeira, deixando catorze distritos sob aviso laranja — o segundo nível mais grave de alerta meteorológico. A chuva persistente, o vento intenso e a agitação marítima estão a provocar centenas de ocorrências em todo o país, e o cenário de instabilidade promete manter-se até ao final do fim de semana.
Depressão Cláudia mantém o país em tensão: chuva forte, trovoadas e granizo
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a depressão Cláudia está a originar chuvas torrenciais e rajadas de vento de grande intensidade, muitas vezes acompanhadas de trovoada e granizo. Entre a meia-noite e as 16h00 de quarta-feira, foram registadas mais de 220 ocorrências meteorológicas, a maioria relacionadas com quedas de árvores, inundações e acidentes rodoviários.
As regiões mais afetadas situam-se no Centro e Sul do país, incluindo os distritos de Lisboa, Setúbal, Leiria, Coimbra, Santarém e Beja, todos sob aviso laranja. No Norte, as zonas de Viana do Castelo, Braga, Porto e Vila Real mantêm-se sob aviso amarelo, embora com possibilidade de agravamento nas próximas horas.
Uma tempestade estacionária que não dá tréguas
Em declarações à SIC Notícias, Alexandra Fonseca, meteorologista do IPMA, alertou que esta depressão se distingue das anteriores por ser “estacionária”, ou seja, não segue o seu percurso natural de deslocação. “A Cláudia está praticamente parada, mantendo as mesmas linhas de instabilidade sobre Portugal. Isso significa que as frentes de chuva e vento permanecem sobre o território durante mais tempo”, explicou.
O período mais crítico começou às 21h00 de quarta-feira e deverá prolongar-se até às 9h00 de quinta-feira, especialmente nas regiões centro e sul. A especialista avisa que “vai ser um início de dia complicado”, e que mesmo após o fim do aviso laranja, a instabilidade atmosférica continuará durante todo o dia.
Segundo o IPMA, só a partir de sexta-feira a depressão começará a deslocar-se lentamente em direção ao Atlântico, mas a instabilidade manter-se-á até ao final do fim de semana, com aguaceiros dispersos e possibilidade de trovoadas.
Lisboa e o país em sobressalto: quedas de árvores, estruturas e inundações
Entre as 00h00 e as 16h00, o país registou mais de 220 ocorrências relacionadas com o mau tempo, de acordo com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). Lisboa foi uma das cidades mais afetadas, com 25 incidentes registados apenas entre as 9h00 e as 15h00.
De acordo com Margarida Castro Martins, diretora municipal da Proteção Civil de Lisboa, a maior parte das situações diz respeito a quedas de árvores e estruturas, seguidas de acidentes rodoviários e pequenas inundações. As freguesias do Beato, São Vicente, Benfica, Alcântara e Alvalade foram as mais afetadas.
Apesar da gravidade dos danos materiais, não há registo de vítimas, o que as autoridades consideram “um sinal positivo da eficácia dos alertas preventivos”.
Centro e Norte também em alerta: 77 ocorrências na região Centro
Segundo o comando nacional da ANEPC, a região Centro registou 77 ocorrências, Lisboa e Vale do Tejo 60 e a região Norte 54. O número total continua a aumentar, e as autoridades reforçam o apelo à prudência na estrada e à atenção a zonas de risco, como encostas e margens de rios.
Os distritos de Aveiro, Viseu, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Leiria, Santarém, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro permanecem sob aviso laranja até quinta-feira de manhã. Já Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Bragança, Portalegre e Évora, bem como a Madeira, estão em aviso amarelo. Apenas os Açores continuam fora de qualquer alerta meteorológico.
Governo e Proteção Civil deixam alerta à população
Face à intensidade da depressão Cláudia, o Governo e a Proteção Civil emitiram um alerta conjunto nas redes sociais, reforçando a importância de adotar medidas preventivas. O comunicado avisa para:
- Inundações urbanas e cheias súbitas em zonas de declive;
- Movimentos de massa, como deslizamentos e derrocadas;
- Piso rodoviário escorregadio, com risco de despistes;
- Objetos soltos que podem ser arrastados para as estradas, colocando em perigo condutores e transeuntes.
As autoridades recomendam ainda evitar deslocações desnecessárias, não estacionar sob árvores ou estruturas frágeis e manter especial atenção às previsões meteorológicas atualizadas.
Um país em alerta e a natureza em fúria
A depressão Cláudia veio lembrar que, mesmo num tempo de avanços tecnológicos, a natureza continua a ditar as suas próprias regras. O cenário de instabilidade meteorológica que assola Portugal é mais do que um fenómeno passageiro: é um aviso sobre a vulnerabilidade das cidades e das infraestruturas perante fenómenos extremos.
Com o país sob aviso e a chuva a cair incessantemente, a palavra de ordem é uma só: precaução.
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