Nos últimos meses, começaram a surgir em alguns cruzamentos pequenas luzes azuis instaladas junto aos semáforos, intrigando milhares de condutores. À primeira vista, muitos pensaram tratar-se de câmaras de vigilância ou sensores sofisticados. Mas a realidade é outra: estas discretas luzes, já utilizadas nos Estados Unidos, têm uma missão clara — detetar e confirmar infrações de avanço de sinal vermelho.
O que são afinal as luzes azuis de confirmação?
Segundo o portal espanhol El Motor, estas chamadas “luzes azuis de confirmação” acendem-se apenas quando o semáforo principal está vermelho. Assim, permitem que um agente da autoridade observe a interseção a partir de um ponto mais seguro, sem necessidade de estar em plena faixa de rodagem ou dependente do ângulo direto de visão do semáforo.
A leitura é simples e eficaz:
- Luz azul acesa → o semáforo está vermelho.
- Se um veículo atravessar a linha de paragem nesse momento → configura-se a infração.
Trata-se, portanto, de uma ferramenta que aumenta a eficácia da fiscalização, mas também o efeito dissuasor: saber que pode ser apanhado em flagrante é, muitas vezes, o suficiente para travar comportamentos de risco.
Vantagens para a fiscalização e para a segurança
A introdução destas luzes pode representar uma revolução silenciosa no controlo rodoviário. Onde antes seriam necessários dois agentes para vigiar um cruzamento — um para observar o sinal e outro para confirmar a infração — agora basta apenas um. Além disso, a monitorização pode ser feita a partir de um local protegido, reduzindo a exposição do efetivo ao tráfego intenso.
Nos Estados Unidos, a experiência revelou-se um sucesso. O Departamento de Transportes do Minnesota registou uma redução de 33% em colisões provocadas por avanço de sinal vermelho após a instalação destas luzes.
Também a Administração Federal de Estradas (FHWA) validou os resultados, confirmando o impacto positivo na diminuição da sinistralidade.
Uma tendência em expansão nos EUA
Depois de projetos-piloto bem-sucedidos na Florida, a tecnologia foi adotada em cidades de Minnesota, como Blaine, Crystal e Maplewood, e estendeu-se a outros estados, incluindo Colorado, Dakota do Sul e Kansas.
A aposta explica-se facilmente: passar o sinal vermelho continua a ser uma das principais causas de acidentes mortais em cruzamentos nos EUA, de acordo com o Insurance Institute for Highway Safety (IIHS). Ao aumentar a fiscalização e a perceção de controlo, estas luzes procuram salvar vidas e evitar tragédias nas estradas.
E em Portugal, será possível adotá-las?
A chegada das luzes azuis aos semáforos portugueses é tecnicamente viável, mas exigiria homologação oficial e enquadramento legal no Regulamento de Sinalização do Trânsito. Seria ainda necessário o parecer de entidades como a ANSR, o IMT e os municípios, escreve o Postal do Algarve.
Uma das vantagens é que estas luzes não recolhem imagens nem dados pessoais, evitando assim as complexas questões de proteção de dados associadas à videovigilância. No entanto, seria fundamental garantir que não provocam confusão cromática aos condutores nem interferem com a mensagem transmitida pelo semáforo principal.
Ao nível europeu, a Convenção de Viena sobre Sinais e Sinais de Trânsito admite a instalação de dispositivos suplementares desde que não comprometam a interpretação dos sinais nem a segurança rodoviária. Assim, a sua eventual implementação em Portugal poderia começar com projetos-piloto em cruzamentos de maior risco, especialmente onde há elevado histórico de infrações por avanço de sinal vermelho.
Uma inovação que pode salvar vidas
Seja em Lisboa, Porto ou noutra cidade europeia, estas pequenas luzes têm potencial para se tornarem grandes aliadas da segurança rodoviária. Podem parecer discretas, mas escondem uma eficácia capaz de reduzir acidentes, salvar vidas e reforçar a autoridade da lei nas estradas.
Num tempo em que a tecnologia se cruza cada vez mais com a mobilidade, as luzes azuis nos semáforos são um exemplo de como pequenas inovações podem ter impacto profundo na forma como conduzimos e, acima de tudo, na forma como protegemos vidas.