O Castelo ou Palácio Dona Chica em Braga, já ouviu falar? O nosso país teve vários Palácios que foram casa de pessoas de grande riqueza. Ao longo do tempo, eles foram passados para outros elementos da família. Uns foram herdados e estimados e tornaram-se em espaços culturais relevantes em cidades, vilas e aldeias portuguesas. Uns foram reaproveitados e transformados em hospitais ou hotéis. No entanto, há outros casos menos positivos, que foram abandonados, caindo no esquecimento.
Palácio Dona Chica, lindíssimo e abandonado, em Braga
Este palácio encontra-se presente em Palmeira, Braga. O Palácio Dona Chica é uma construção que revela o poderio financeiro dos seus proprietários. Ele representou o realizar de um sonho de Francisca Peixoto de Sousa. No entanto, ela nunca chegaria a viver nele. Ela pretendia usar este espaço encantador para diversos fins, nomeadamente organizar festas, receber amigos. Este seria um local mágico para ver os seus filhos crescer, embora ela não tenha tido filhos, de imediato.
Francisca Peixoto de Sousa era natural de São Paulo, no Brasil. Ela herdou uma fortuna considerável do pai, que tinha nascido em Palmeira. A rapariga não sentia problemas em gastar parte da fortuna. Francisca gostava de luxos, de festas, para evidenciar o seu poderio financeiro. Tinha dinheiro e mostrava-o. Ela apreciava as coisas boas que o dinheiro lhe permitia comprar. Apesar dessa maneira de ser, não era má pessoa e também gostava de ajudar. Por isso o povo gostava dela. Francisca gostava de ajudar os mais desfavorecidos. Tal como o pai, ela chegou a alojar em casa crianças que passavam fome.
Francisca mudou-se para Portugal com o marido, após a morte do pai, em 1913. O seu marido era João Rego. Ela tinha apenas 17 anos quando realizou este casamento de conveniência, que tinha sido promovido pelos pais. João Rego também era rico. O marido de Francisca era filho de um conceituado médico que também se tinha tornado num político monárquico influente.
O casal mudou-se para Palmeira, em Braga. Após chegarem a Portugal, eles mudaram-se para a residência dos Peixoto do Rego, mais precisamente para a atual Rua do Carregal. No entanto, já tinham em mente construir um palácio de sonho. Francisca queria ter uma casa luxuosa onde pudesse dar festas dignas de uma aristocrata, fabulosas e deslumbrantes. O marido comprou um terreno com cerca de três hectares para lhe fazer a vontade.
As obras para a construção deste palácio começaram em 1915. Foram quatro anos de obras. Ele foi erguido perto da Igreja Paroquial de Palmeira. O arquiteto suíço Ernesto Korrodi foi o responsável pelo projeto desta construção imponente. Francisca mandou vir muitas árvores tropicais do Brasil. Elas foram plantadas nos campos em redor da casa.
No entanto, nesse processo de construção, a relação conheceu dias negros. Apesar de todos os preparativos, planeamentos e sonhos, Francisca divorciou-se do marido e mudou-se para a cidade Invicta. Foi no Porto que encontrou a sua casa.
Em 1919, as obras pararam. Por isso, ela nunca voltaria a entrar no palácio que sonhou erguer. Nessa época, Francisca sonhava com o dia em que entraria naquele palácio.
Francisca voltou a casar, num relacionamento onde teve um filho, mas divorciou-se outra vez. Mudou-se para Paris. Francisca voltaria a casar. Teve um terceiro casamento. Na época, houve rumores de ter sido lançada uma maldição sobre o palácio.
Nunca ninguém poderia a viver ali. Por isso, quem se atrevesse a entrar no Palácio sairia a correr após ver um fantasma de Francisca aparecer de branco no cimo da escadaria.
Francisca teve na mesma uma vida luxuosa, como sempre quis. Ela tinha quatro carros sumptuosos, contando com três motoristas que a levavam para onde desejasse. Ela fazia regularmente passeios pela Europa.
Portanto, viveu uma vida de sonho numa altura em que a sociedade portuguesa era extremamente conservadora. Francisca apresentava-se vestida com roupas ousadas, exibia joias caras. Por isso, por onde passava, atraía olhares de desejo dos homens e era invejada por muitas mulheres.
O Palácio Rego ficou mais conhecido como Palácio de D. Chica, devido à ligação a Francisca. Durante décadas, ele foi passando por várias mãos. No entanto, ninguém conseguiu fazer nada de relevo com ele. Apesar de ter chegado a ser adaptado a espaço de lazer, o processo acabou por terminar em tribunal.
Atualmente, o sonho da D. Chica virou um pesadelo, um cenário digno de filme de terror. No espaço, podemos encontrar lixo no chão, diversos vidros partidos e as paredes apresentam rachaduras.
Apesar de tudo, o local ainda não foi vandalizado. Provavelmente, será uma questão de tempo ou será porque as pessoas temem o confronto com o espírito de Francisca Peixoto de Sousa, apresentando-se a defender o seu palácio, vestida de branco no cimo das escadas.
No ano de 1985, o Palácio D. Chica foi classificado Imóvel de Interesse Público. Mais tarde, em 1990, ele foi adquirido por 95 mil euros, pela Junta de Freguesia de Palmeira.