Tirar uma selfie tornou-se um gesto tão natural como respirar. Seja para eternizar um momento especial, partilhar com amigos nas redes sociais ou simplesmente guardar como recordação, fotografar faz parte da experiência de viajar. Mas e se lhe dissermos que esse simples clique pode custar centenas, milhares de euros — ou mesmo levar à prisão?
Sim, há destinos onde o ato aparentemente inofensivo de tirar uma selfie pode quebrar leis locais, ferir tradições culturais ou comprometer a segurança pública. E os turistas desatentos, por desconhecimento ou impulso, arriscam-se a coimas pesadas, processos judiciais e férias arruinadas.
Neste artigo revelamos os países e cidades onde fotografar pode sair muito mais caro do que imagina — e o que deve evitar para não transformar a sua viagem de sonho num pesadelo legal.
Dubai: selfies sem consentimento podem custar até 130 mil euros
No emirado do luxo e dos arranha-céus, a privacidade é levada muito a sério. No Dubai, fotografar pessoas sem o seu consentimento não é apenas má educação — é crime.
E um crime com penas pesadas: multas que podem atingir quase os 120 mil euros, além de penas de prisão.
Seja num centro comercial, num hotel cinco estrelas, num mercado tradicional ou até na rua, captar a imagem de alguém sem autorização expressa é ilegal. A lei local impõe coimas entre 150.000 e 500.000 dirhams (aproximadamente 34.817 e 116.059 euros).
E o risco não se limita a selfies com estranhos ao fundo. Mesmo um vídeo ou fotografia inocente pode ser usada contra si se alguém se sentir invadido ou exposto. Além disso, instalações militares, edifícios governamentais e alguns palácios estão completamente interditos à fotografia — violar estas regras pode significar detenção imediata e processo judicial.
Viajar com o telemóvel na mão no Dubai requer atenção redobrada. Uma selfie de férias pode sair-lhe mais cara do que o próprio bilhete de avião.
Espanha: cuidado ao fotografar polícias — pode pagar até 30 mil euros
Em Espanha, a conhecida “Ley Mordaza” ainda está em vigor. Esta legislação, criada para proteger a autoridade das forças de segurança, proíbe a captação e partilha de imagens de polícias em serviço, sobretudo durante manifestações, operações policiais ou em aeroportos.
Publicar uma foto ou vídeo de um agente — mesmo num story temporário nas redes sociais — pode ser considerado uma ameaça à integridade do profissional e resultar numa multa de até 30.000 euros. O que para si pode parecer apenas uma imagem curiosa, para a lei espanhola pode representar um risco à segurança pública.
Japão: Quioto protege as gueixas do assédio fotográfico
No tradicional bairro de Gion, em Quioto, o excesso de turistas a perseguir gueixas para as fotografar tornou-se um problema sério. Após inúmeros casos de assédio e invasão de privacidade, o governo local proibiu a captação de imagens em ruas privadas, mesmo que o conteúdo não seja ofensivo. A coima é de aproximadamente 70 euros, mas o impacto na imagem do turista pode ser bem maior. No Japão, o respeito pela cultura e pelos costumes é sagrado — fotografar sem pedir autorização é visto como desrespeito.
Itália: em Portofino, parar para uma selfie pode custar 275 euros
Parece absurdo, mas é real. Na pitoresca vila costeira de Portofino, em Itália, foram criadas zonas de “no waiting” para travar o turismo de massas. Nessas áreas, parar para tirar uma fotografia — mesmo que por breves segundos — é proibido.
A medida pretende evitar congestionamentos nas ruas estreitas da vila, especialmente durante a época alta. A coima pode chegar aos 275 euros, mesmo que esteja apenas a ajustar a câmara para capturar o momento perfeito com o mar ao fundo.
Em Portofino, a pressa pode ser a sua aliada — ou a multa pode ser o seu souvenir.
Coreia do Sul: o “direito ao rosto” está acima da selfie
Na Coreia do Sul, o conceito de “direito ao rosto” garante que ninguém pode ser fotografado sem o seu consentimento, mesmo em espaços públicos. Esta norma visa proteger a privacidade individual numa sociedade altamente conectada e digitalizada.
A violação desta regra pode resultar em processos judiciais e, em casos mais graves, pena de prisão. Adicionalmente, os famosos paus de selfie só podem ser utilizados se forem homologados pelas autoridades. O uso de modelos não certificados é ilegal.
A tecnologia aproxima, mas também pode colocar o turista em conflito com a lei.
Porque é que tantos países estão a restringir selfies?
A crescente onda de restrições deve-se a vários fatores, como refere o Postal do Algarve:
- Privacidade individual em sociedades onde a exposição pública é sensível.
- Segurança nacional, como no caso de zonas militares ou edifícios governamentais.
- Preservação cultural, evitando o assédio a tradições locais.
- Gestão do turismo de massas, para evitar o caos urbano em destinos populares.
As redes sociais amplificaram este fenómeno. Uma simples fotografia que se torna viral pode acabar por ser considerada invasiva, desrespeitosa ou ilegal.
Uma selfie pode render likes… ou estragar as férias
A mensagem é clara: fotografar nem sempre é um direito garantido.
Em alguns lugares do mundo, é um privilégio que exige respeito, bom senso e conhecimento das regras locais.
Antes de tirar o telemóvel do bolso, pergunte-se:
- Estou a invadir o espaço de alguém?
- Estou num local com regras específicas de fotografia?
- Este momento justifica o risco?
Uma selfie pode render mil gostos, mas também pode custar mil euros — ou mais.
Dicas para evitar multas por selfies no estrangeiro
- Informe-se sobre as leis locais de fotografia antes de viajar.
- Evite fotografar pessoas sem pedir permissão, mesmo em espaços públicos.
- Respeite sinais de proibição de fotografia, especialmente em zonas históricas ou governamentais.
- Não publique imagens de polícias ou militares, especialmente em protestos.
Use paus de selfie apenas onde forem permitidos — e, se necessário, certificados.
Stock images by Depositphotos