A história de Portugal está profundamente enraizada nos povos que habitaram a Península Ibérica em tempos ancestrais. Entre eles, os Ofis (também chamados de Sefes), um povo celta oriundo da região germano-checa e pertencente à cultura de Hallstatt, desempenharam um papel crucial na formação cultural e territorial do país. A sua chegada, por volta de 900 a.C., marcou uma transformação significativa no território, moldando o modo de vida e as dinâmicas populacionais da época.
A migração para a Península Ibérica
Os Ofis, acompanhados pelos Cempsos, atravessaram os Pirenéus para se estabelecerem em várias regiões da Península Ibérica, incluindo Portugal e Espanha.
Este movimento fazia parte de uma onda migratória mais ampla de tribos celtas, que procuravam novas terras e recursos. O território que os Ofis ocuparam era conhecido pelos gregos como Ofiússa, ou “terra das serpentes”, uma alusão simbólica à presença destes povos.
A sua chegada enquanto força invasora é visível em registos arqueológicos, particularmente no Alentejo. A mudança no padrão de povoamento, com as populações a refugiarem-se em locais mais elevados, indica o impacto dos Ofis nas comunidades locais. Povoados na Serra de Huelva e margens do Guadiana desapareceram subitamente, marcando a força das alterações introduzidas por este povo celta.
Território e cidades fundadas
As fontes clássicas, como a Ora Maritima de Avieno, situam os Ofis ao longo da costa sul do Tejo e em áreas próximas às fozes dos rios Tejo e Sado. Contudo, vestígios indicam que se espalharam também pelo Norte de Portugal e pela Galiza, onde construíram diversos castros.
Os Ofis fundaram cidades como Dipo (Evoramonte), Beuipo (Alcácer do Sal), Olisipo (Lisboa) e Colipo (Leiria), todas identificáveis pelo sufixo “-ipo”, típico dos seus povoados. Estas cidades sobreviveram até à época romana, evidenciando a durabilidade da sua presença.
A relação com os Estrímnios
Antes da chegada dos Ofis, o território era habitado pelos Estrímnios, um povo com uma cultura oral e sem unidade política. A chegada dos Ofis resultou num confronto direto, culminando na expulsão e quase completa extinção dos Estrímnios.
Apenas alguns povoados dispersos conseguiram resistir, mas a influência dos Ofis tornou-se dominante, modificando profundamente a organização e cultura locais.
Influência da cultura de Hallstatt
A cultura de Hallstatt, associada aos celtas da Idade do Ferro na Europa Central, caracterizava-se por uma forte hierarquia social, com uma elite guerreira no topo. Estes guerreiros eram enterrados com armas e objetos pessoais, um ritual que reforçava o seu estatuto.
As aldeias fortificadas situavam-se em colinas ou planaltos, com habitações de madeira cobertas de colmo. A economia baseava-se na agricultura e na criação de gado, enquanto a metalurgia e a produção artística em ferro destacavam-se como grandes avanços tecnológicos. A religião desempenhava um papel essencial, com rituais realizados em locais sagrados como bosques ou fontes, honrando divindades ligadas à natureza, fertilidade e guerra.
Mistura cultural e o legado dos Ofis
Embora muito sobre os Ofis permaneça desconhecido, acredita-se que se misturaram com outras tribos celtas e povos locais, como os Estrímnios, dando origem aos Lusitanos, explica a VortexMag. Esta fusão cultural e genética criou um dos povos mais emblemáticos da história peninsular, conhecidos pela sua resistência e independência face a invasores como os romanos.
Um povo entre o mistério e a história
A ausência de uma escrita própria dificulta a reconstrução detalhada da cultura dos Ofis. Contudo, o seu impacto é evidente nas mudanças sociais, económicas e territoriais que introduziram. Desde as cidades que fundaram até às tradições celtas que influenciaram, os Ofis foram um pilar na construção das bases culturais do que viria a ser Portugal.
O estudo deste povo celta não só ilumina a complexidade das migrações na Idade do Ferro como também reforça a importância de compreender os alicerces da identidade cultural portuguesa. Mesmo envoltos em mistério, os Ofis continuam a ser uma peça fundamental do puzzle histórico da Península Ibérica.
Parabéns pelo trabalho e compartilhamento de conhecimento.