Portugal continental prepara-se para enfrentar dois dias de mar revolto. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou dez distritos sob aviso amarelo devido à previsão de agitação marítima intensa provocada pelo ciclone pós-tropical ERIN.
Entre as 6h00 de terça-feira e as 0h00 de quarta-feira, os distritos do Porto, Faro, Setúbal, Viana do Castelo, Lisboa, Leiria, Beja, Aveiro, Coimbra e Braga estarão em alerta devido à formação de ondas de noroeste que poderão atingir quatro metros de altura.
Ondas até sete metros e correntes de retorno perigosas
O aviso amarelo, apesar de ser o menos grave da escala, não deve ser desvalorizado. O IPMA alertou que algumas ondas poderão atingir até sete metros de altura máxima, transportando uma força capaz de surpreender até os mais experientes pescadores e surfistas.
Um dos aspetos mais preocupantes é o período de pico das ondas, entre 15 a 20 segundos. Na prática, isto significa que cada onda se formará com um volume de água gigantesco, que ao rebentar na costa criará correntes de retorno intensas e perigosas. Essas correntes, quase invisíveis a olho nu, são capazes de arrastar banhistas e mergulhadores para o largo em poucos segundos.
Durante a maré cheia, a situação torna-se ainda mais grave. Muitas praias poderão ficar temporariamente sem areal, uma vez que o mar avança sobre a faixa costeira. Para famílias e turistas que frequentam estas zonas balneares, este fenómeno representa um risco acrescido, sobretudo em praias não vigiadas.
Algarve menos exposto, mas não imune
A direção da ondulação — predominantemente de noroeste — fará com que o Algarve sofra menos impacto desta agitação marítima. No entanto, prevê-se que a região registe ondas de sudoeste até um metro de altura, suficientes para dificultar atividades náuticas e surpreender quem encara o mar com excesso de confiança.
As autoridades recordam que o perigo não se mede apenas pela altura da onda, mas também pela sua energia e frequência, que nesta situação serão excecionalmente elevadas.
Mar agitado fora de época: fenómeno raro em agosto
Apesar de fenómenos semelhantes já terem ocorrido no inverno, o IPMA sublinha que este episódio é pouco frequente nos meses de verão. Em julho e agosto, os portugueses estão habituados a praias calmas e convidativas. A chegada de uma ondulação desta magnitude nesta altura do ano surpreende especialistas e população, reforçando a ideia de que o clima está cada vez mais imprevisível.
O responsável é o ciclone pós-tropical ERIN, cujo posicionamento no Atlântico tem alterado a circulação atmosférica e intensificado a agitação marítima. Ainda que distante, a sua influência é clara e demonstra como fenómenos oceânicos globais podem ter impacto direto no quotidiano em Portugal.
Impacto económico e social da agitação marítima
A forte ondulação não afeta apenas o lazer. Pescadores artesanais e comunidades costeiras serão particularmente atingidos, uma vez que a saída para o mar se torna perigosa ou mesmo impossível. Para muitas famílias que dependem da pesca diária, dois ou três dias sem atividade podem significar perdas económicas significativas.
Também o setor do turismo, em pleno auge do verão, poderá ressentir-se. Estabelecimentos à beira-mar e escolas de surf terão de suspender atividades, enquanto concessionários de praia enfrentam a incerteza de ver infraestruturas temporárias, como passadiços e esplanadas, danificadas pela força das ondas.
Autoridades pedem vigilância e prudência
Perante este cenário, o apelo das autoridades é claro: respeitar o mar e não correr riscos desnecessários. O IPMA e a Autoridade Marítima Nacional reforçam as recomendações.
Checklist de segurança para enfrentar a forte agitação marítima
Para banhistas e famílias
- Evitar entrar no mar, mesmo em zonas aparentemente calmas.
- Vigiar permanentemente as crianças, mesmo junto à linha de água.
- Manter distância de rochedos, molhes e falésias.
- Escolher apenas praias vigiadas.
Para pescadores
- Suspender a pesca em zonas costeiras expostas.
- Reforçar a segurança de embarcações atracadas.
- Evitar saídas para o mar até ao levantamento do aviso amarelo.
Para surfistas e praticantes de desportos náuticos
- Adiar treinos e atividades até o mar estabilizar.
- Respeitar as instruções dos nadadores-salvadores e autoridades.
- Evitar sobrestimar a própria experiência: a força das ondas será superior ao normal.
Para turistas estrangeiros
- Consultar os avisos do IPMA antes de ir à praia.
- Seguir sempre as instruções da Autoridade Marítima e Polícia Marítima.
- Não arriscar “selfies” em zonas costeiras perigosas.
O mar, força de identidade e ameaça silenciosa
Para Portugal, país de navegadores e marinheiros, o mar é muito mais do que uma fronteira natural: é património, sustento e identidade nacional. No entanto, episódios como este recordam a vulnerabilidade humana perante a sua força.
O oceano que tantas vezes é visto como lugar de lazer e beleza pode, num instante, transformar-se numa ameaça silenciosa e devastadora. Nos próximos dias, milhares de portugueses continuarão a dirigir-se às praias. Mas a mensagem é inequívoca: o respeito pelo mar pode ser a diferença entre um dia seguro e uma tragédia.