Entenda porque o regresso do Brasil de D. Pedro IV salvou Portugal. Desde 1828 que o reino português estava sujeito ao regime absolutista de D. Miguel. Havia presos políticos no Forte de S. Julião da Barra e forcas no Cais do Sodré. O padre José Agostinho de Macedo e o frei Fortunato de São Boaventura faziam sermões que tinham como propósito revoltar as pessoas contra os liberais. Mas tudo muda com o regresso de D. Pedro IV que, estando à frente do império no Brasil, acaba por retornar a Portugal, de forma a “salvar” o reino da opressão absolutista. Perceba como.
Voltemos um pouco mais atrás no tempo, até 1826, ano em que D. Pedro IV abdicou do trono a favor da sua filha, D. Maria II. Por essa ocasião, o pai de D. Pedro IV, D. João VI havia morrido e D. Pedro decide outorgar a Carta Constitucional, de modo a tentar unir os portugueses, desavindos desde a Revolução de 1820, que opôs liberais e absolutistas. Para conseguir atingir este fim de união e de harmonia, D. Pedro IV propôs que D. Miguel casasse com D. Maria II.
D. Miguel encontrava-se exilado na Áustria e, assim que recebeu tal proposta, aceitou de imediato e voltou para Portugal. Porém, a verdade é que não cumprir com a sua parte do acordo, não casando com a sobrinha e assumindo a regência como rei absoluto.
Foi assim que Portugal ficou entre as forças absolutistas de D. Miguel até que, em 1831, D. Pedro acaba por abandonar o Brasil, onde se encontrava, deixando o filho D. Pedro II ao comando daquele império, e regressou para Portugal, com o objetivo de restituir os direitos de D. Maria.
Chegado a Portugal, D. Pedro assume-se como rei e recebe o cognome de Rei-Soldado. Para reafirmar a sua legitimidade enquanto monarca, é financiado pelo espanhol Mendizábal e recruta mercenários em Inglaterra e em França, de modo a organizarem uma expedição até aos Açores, em 1832.
Já nos Açores, D. Pedro estabeleceu o governo constitucional na ilha Terceira. Paralelamente, Mouzinho da Silveira reformou a administração pública e nacionalizou os bens da coroa e da Igreja, medidas liberais que definiam o tipo de regime pretendido por D. Pedro e os seus apoiantes.
Posteriormente, D. Pedro reúne 7500 homens que desembarcaram na praia de Pampelido, perto do Mindelo (os chamados “bravos do Mindelo”) para, depois, se deslocarem até ao Porto e ocuparem esta cidade que, durante um ano, tolerou firme o cerco das forças miguelistas.
Em junho de 1833, sai da foz do Douro uma esquadra liberal, comandada pelo inglês Charles Napier, a qual rumou até ao Algarve. Aí, desembarcaram os generais Terceira e Palmela e o comandante Napier derrotou a armada miguelista, ao largo do cabo de S. Vicente.
Por sua vez, o duque da Terceira subiu pelo Alentejo, entrando vencedor em Lisboa, a 24 de julho de 1833. No dia seguinte, no Porto, Saldanha dá por terminado o último assalto absolutista.
Vencido, D. Miguel retira-se, começando por se deslocar para Coimbra, depois Leiria e, finalmente, Santarém. A guerra civil ainda demoraria mais oito meses a terminar, tendo como ponto final as vitórias de Saldanha e Terceira, em Almoster e Asseiceira e a assinatura de D. Miguel na Convenção de Évora Monte que, posteriormente, foi exilado.
Biografia de D. Miguel
Como é sabido, D. Miguel é irmão de D. Pedro IV, já que ambos partilham os mesmos pais, a saber: D. Carlota Joaquina e D. João VI, conhecido como “O Clemente” e que reinou o nosso país de 1816-1826.
D. Miguel I nasceu a 26 de outubro de 1802, em Lisboa, e morreu a 14 de novembro de 1866, na Alemanha. Foi casado com D. Adelaide Sofia Amélia Luísa Joana Leopoldina de Loewenstein Wertheim Rochefort Rosenberg e esteve à frente do reino entre 1828 e 1834.
Para a história, ficou com o cognome de “O Tradicionalista” pela defesa que fez dos valores conservadores que caraterizavam o regime absolutista.
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Apesar da vitória sobre os absolutistas, os liberais também pareciam não se entender entre si. Os danos causados pela guerra, as críticas de que era alvo e a fraca saúde, fragilizada pela tuberculose, contribuíram para que D. Pedro morresse a 24 de setembro de 1834, no Palácio de Queluz, no quarto onde nascera.
Biografia de D. Pedro IV
D. Pedro IV nasceu no Palácio de Queluz, a 12 de outubro de 1798, sendo o seu nome completo Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Serafim de Bragança e Bourbon.
Inicialmente, foi sepultado no Panteão de S. Vicente de Fora, sendo em 1972 transladado para o Brasil, a sua segunda terra. Afinal, entre 1822 e 1831, assumiu as funções de 1º imperador do Brasil.
Em 1817, casou com D. Maria Leopoldina Josefa Carolina, nascida a 22 de janeiro de 1797 e falecida no Rio de Janeiro, a 11 de dezembro de 1826. Era filha de Francisco I e de D. Maria Teresa, últimos imperadores do Sacro Império Romano Germânico e primeiros da Áustria.