A cada descolagem, ouve-se o mesmo aviso: “Por favor, coloquem os vossos dispositivos em modo avião.” E, apesar de muitos passageiros seguirem o pedido sem questionar, outros continuam a perguntar-se: afinal, o que acontece se não o fizerem? O avião cai? Os motores falham? A resposta pode surpreender — e vem diretamente de quem sabe o que se passa dentro do cockpit.
Num episódio do podcast Tómatelo con vino, o piloto comercial Perico Durán esclareceu que nada de catastrófico acontece se alguém se esquecer de ativar o modo avião. Não há risco de queda, explosões ou falhas críticas. Mas há algo mais subtil, e talvez mais importante do que imagina: a preservação da concentração e da fiabilidade dos sistemas a bordo.
Não é um mito: a interferência existe, mesmo que seja discreta
De acordo com o portal 20 Minutos, o comandante Perico Durán explica que deixar o telemóvel com rede ativa pode gerar interferências eletromagnéticas nos sistemas da aeronave. Não são comuns, nem são fatais — mas acontecem. E, quando surgem, podem provocar alertas falsos, leituras imprecisas ou ruído técnico que distrai a tripulação nos momentos mais críticos do voo.
“Os aviões estão preparados para lidar com essas interferências”, reforça Durán. Ainda assim, a aviação comercial opera com uma política de tolerância zero ao erro. E, nesse contexto, qualquer distração — por mais pequena que seja — é um risco desnecessário.
Um gesto simples, uma diferença real
Ativar o modo avião é mais do que um automatismo. É um pequeno gesto com um impacto técnico relevante, sobretudo durante a descolagem e aterragem, fases que exigem a máxima atenção da tripulação. Nessas alturas, até uma vibração inoportuna ou um som inesperado pode desviar o foco de um procedimento essencial.
Além disso, os sistemas de navegação e comunicação dos aviões funcionam com sensores e frequências sensíveis. Qualquer “ruído” introduzido por ligações móveis pode interferir na sua precisão, obrigando os pilotos a verificar parâmetros que, de outra forma, estariam estáveis e confiáveis.
E os telemóveis modernos? Já não estão preparados?
Sim, é verdade: os smartphones de última geração estão cada vez mais blindados contra interferências. Mas a aviação continua a privilegiar a prudência. Como refere Durán, mesmo sem consequências graves, as interferências ainda podem ocorrer — e as companhias não estão dispostas a correr riscos evitáveis.
É por isso que a regra permanece: o modo avião não é um capricho, nem uma relíquia do passado. É uma medida preventiva, pensada para proteger a segurança e garantir a operação perfeita da aeronave.
Um voo tranquilo começa com escolhas conscientes
Ligar o modo avião é uma atitude de respeito pela segurança de todos os passageiros. É um contributo silencioso, mas poderoso, para que os pilotos possam concentrar-se no que mais importa: levar-nos ao destino com tranquilidade, precisão e confiança. Não é uma obrigação vazia. É uma forma de cooperar, mesmo em silêncio, com aqueles que guiam o voo. Uma prova de que, por vezes, os gestos mais simples são também os mais valiosos.

Uma regra que protege mais do que imaginas
A bordo de um avião comercial, cada segundo conta, cada gesto tem um propósito. A rotina da tripulação é milimetricamente pensada. Cada protocolo, cada aviso, cada insistência — como o de ativar o modo avião — não é feita por hábito ou burocracia. É uma engrenagem de segurança, onde todos os detalhes contam.
Num mundo onde confiamos cegamente na tecnologia, esquecemo-nos que até os mais avançados sistemas podem ser sensíveis a pequenas interferências. Imagina estar a pilotar um avião com centenas de vidas a bordo e ouvir, de forma intermitente, blips, estalidos ou distorções nos auriculares, provocadas por dispositivos móveis não configurados em modo avião. Não é grave? Talvez não. Mas é isso que separa o profissionalismo absoluto da distração evitável.
O impacto psicológico da confiança a bordo
Este gesto também tem uma componente emocional. Para muitos passageiros, voar ainda é uma fonte de ansiedade. Há um conforto invisível em saber que todos seguem as mesmas regras, que a tripulação tem o controlo e que não há variáveis desnecessárias. Saber que o passageiro do lado deixou o modo avião desligado pode, para alguns, quebrar essa sensação de segurança.
Além disso, manter a cabine livre de ruído eletromagnético é garantir que o foco da tripulação está exclusivamente no voo. É não acrescentar mais uma camada de complexidade a uma tarefa que já é, por si só, altamente exigente. O modo avião não salva o avião — mas poupa margem de erro. E isso, na aviação, é ouro.
Um gesto de empatia aérea
Ativar o modo avião é, também, um gesto de empatia coletiva. É saber que, durante aquelas horas no ar, fazemos parte de uma comunidade suspensa entre nuvens. Uma comunidade que partilha um objetivo comum: chegar em segurança.
Pode parecer insignificante, mas esse toque no ecrã que ativa o modo avião é uma assinatura invisível num pacto de confiança com a tripulação. É dizer: “Eu confio em vocês. E vou fazer a minha parte.”
Tecnologia a favor do bom senso
Curiosamente, muitas companhias estão a modernizar-se e a permitir que os passageiros utilizem Wi-Fi a bordo, ou até que façam chamadas via internet, mas isso é controlado, monitorizado e, sobretudo, isolado das frequências críticas. Ou seja, não se trata de proibir a tecnologia, mas de enquadrá-la com segurança e rigor.
E para quem pensa que o modo avião impede totalmente o uso do dispositivo, desengane-se: a maioria dos telemóveis permite ligar o Wi-Fi e o Bluetooth mesmo em modo avião, o que significa que ainda pode ouvir música, ver filmes offline ou ligar os auscultadores sem fios — tudo isso, sem comprometer a segurança da cabine.
Em resumo:
O modo avião não é um exagero, nem um mito urbano da aviação moderna. É uma barreira simples, eficaz e de fácil cumprimento contra distrações técnicas, interferências inoportunas e alertas desnecessários, explica o Postal do Algarve. É um sinal de respeito por quem pilota, por quem voa ao nosso lado e, acima de tudo, pela segurança coletiva.
Da próxima vez que entrar num avião e ouvir o anúncio, lembre-se disto: o céu não tolera distrações. E, às vezes, basta um gesto para garantir que tudo corre como planeado.
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