O Palácio da Batalha no Porto
Casa de grandes proporções, bem dividida e luxuosa, o Palácio da Batalha serviu de hospital durante o Cerco do Porto e foi transformado em hotel.

O palacete dos CTT, que domina o lado oriental da Praça da Batalha, fazendo esquina com a Rua de Entreparedes, foi mandado construir, nos fins do século XVIII, por José Anastácio Guedes da Silva da Fonseca, fidalgo cavaleiro da Casa Real.
Por falecimento de José Anastácio, o palácio veio a pertencer a Manuel Guedes da Silva, também moço fidalgo da Casa Real e marido de D. Maria Leonor Teresa da Câmara, condessa de Pangim, passando depois para um filho de ambos, Manuel Pedro Guedes da Silva da Fonseca, no qual viveu com sua família até 1832.

Foi este seu último proprietário que mandou colocar na frontaria do palácio, sobre a janela central, o gracioso brasão (um escudo esquartelado dos Silvas, Guedes, Melos e Pereiras, assente numa tarja acompanhada de troféus e encimada por um coronel já bastante mutilado), que ainda hoje lá se encontra, apesar de o palácio ter mudado de dono há mais de um século.
O palacete da Batalha é uma casa de grandes proporções, bem dividida e luxuosa. Conta-se que o seu salão de baile, onde nos seus tempos áureos se realizavam animadas festas, era o maior da cidade, depois do da Casa da Feitoria (Inglesa), da Rua do Infante D. Henrique. Nas traseiras do palacete existiu um vasto jardim que foi ocupado, em parte, por construções posteriores, quando no prédio já estava instalada a estação central dos CTT.
Aquando do Cerco do Porto (1832), os proprietários, que eram partidários convictos dos miguelistas, abandonaram o palacete, refugiando-se na sua quinta da Aveleda. O governo liberal tomou então conta do palácio e instalou nele diversas repartições públicas, tendo servido também como hospital de sangue durante a guerra civil.

Em 1842, já no reinado de D. Maria II, o palacete da Batalha foi restituído ao seu proprietário (Manuel Pedro Guedes da Silva da Fonseca), mas bastante danificado em consequência da ocupação de que foi alvo durante os dez anos que se seguiram ao Cerco.
Em 1861, quando a Câmara Municipal mandou terraplanar o Largo da Batalha para nele erguer o monumento a D. Pedro V, o palácio ficou cerca de um metro mais alto que o pavimento da praça, tendo a Câmara dado ao seu proprietário 800$000 reis para pagar os prejuízos causados ao edifício.
Manuel Guedes aproveitou essa verba para rebaixar o pavimento inferior do palácio até ao nível da praça (rebaixamento ainda hoje bem percetível nas paredes da fachada, por baixo das primeiras janelas), o que conferiu muito mais elegância e merecimento ao palacete, cujas lojas, cocheiras e mais oficinas eram inicialmente muito baixas.

Depois destas obras, os proprietários pouco tempo mais residiram no palacete. Em 1863, o seu rico recheio foi a leilão e, no ano seguinte, foi alugado ao Estado para nele serem instaladas a estação central dos CTT, a Direção das Obras Públicas e outras repartições, acabando o Estado por o comprar, em 1881.
Entretanto, no jardim, com face para a Rua de Entreparedes, foi construído um novo edifício, destinado às encomendas postais, para substituir um outro, bastante arruinado e exíguo, que ficava na embocadura da Rua de Santo Ildefonso, junto da igreja paroquial.
O braço de Sá da Bandeira
O conturbado período da história do Cerco do Porto ocasionou um episódio rocambolesco relacionado com o palacete da Batalha: em 10 de Outubro de 1832, no aceso das lutas entre D. Pedro e D. Miguel, uma força liberal comandada pelo intrépido Bernardo de Sá Nogueira (o futuro marquês de Sá da Bandeira) atacou de surpresa os miguelistas aquartelados em Vila Nova de Gaia.

Cercados no alto da Bandeira, em Santo Ovídio, os homens de Bernardo de Sá resistiram quanto puderam, mas, como eram menos numerosos que os adversários, retiraram para o aquartelamento da serra, sendo perseguidos pelos miguelistas.
Nos renhidos combates que se travaram, Sá Nogueira foi gravemente ferido no braço direito, mas conseguiu reconduzir os seus soldados ao Porto.

Chegado aqui e tendo em conta o seu estado, foi transportado para o palacete dos Guedes da Silva, na Batalha (já então transformado em hospital de sangue), onde lhe foi amputado o braço, que ficou enterrado no jardim do palácio, sob as raízes dum cedro.
A bravura de Bernardo de Sá Nogueira foi compensada posteriormente com diversos títulos honoríficos:
- em 4 de Abril de 1833, D. Pedro IV concedeu-lhe o brasão de Sá da Bandeira (evocando o local onde se bateu com bravura em Santo Ovídio – o alto da Bandeira);
- em 1 de Dezembro de 1834, foi-lhe outorgado o de visconde de Sá da Bandeira, e, em 13 de Fevereiro de 1864, o de marquês.
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