A Albânia surpreendeu o mundo com o anúncio de um plano ambicioso e histórico: a criação de um microestado soberano, liderado pela Ordem Bektashi, uma confraria sufi muçulmana. Este novo estado será o menor do mundo, ultrapassando o Vaticano em termos de território. O anúncio, feito pelo Primeiro-Ministro albanês, Edi Rama, coloca o país no centro das atenções internacionais, sublinhando a sua tradição de promoção da moderação e da coexistência religiosa pacífica.
O projeto, denominado “Estado Soberano da Ordem Bektashi”, prevê a constituição de um território de apenas 10 hectares na capital albanesa, Tirana. Este pequeno enclave será quatro vezes menor que o Vaticano e representará um marco histórico, tanto para a Ordem Bektashi como para a própria Albânia. Com a criação desta entidade soberana, a Albânia consolida-se como um exemplo único de tolerância religiosa, onde várias confissões coexistem harmoniosamente.
Um Islão tolerante e inclusivo
O principal objetivo deste microestado, segundo o Primeiro-Ministro Rama, é promover uma visão inclusiva e moderada do Islão. Num contexto global onde a imagem do Islão é muitas vezes distorcida por extremismos, a Albânia pretende destacar-se como um bastião de harmonia inter-religiosa. Rama enfatizou o orgulho que o país sente pela sua longa tradição de coexistência pacífica entre diferentes grupos religiosos, algo que, segundo ele, se refletirá neste novo estado. “A Albânia sempre foi um exemplo de tolerância e respeito. Com esta iniciativa, estamos a projetar uma mensagem de um Islão aberto, pacífico e integrador para o mundo”, afirmou o Primeiro-Ministro, citado pela Executive Digest.
A Ordem Bektashi, uma confraria muçulmana de vertente sufi, é conhecida pelos seus valores de inclusão, tolerância e espiritualidade, em contraste com correntes mais conservadoras do Islão. Esta nova entidade política será governada sob esses princípios, promovendo a liberdade individual e o respeito mútuo.
Liberdade e tolerância no coração do novo estado
O Estado Soberano da Ordem Bektashi destacará a importância da liberdade individual. O consumo de álcool, a escolha de vestuário e a liberdade de estilo de vida serão amplamente respeitados, numa demonstração clara dos valores de tolerância que a Ordem Bektashi sempre defendeu. A confraria, que combina ensinamentos místicos e filosóficos, coloca grande ênfase na harmonia social e espiritual. “Queremos criar um lugar que exemplifique os valores de liberdade, respeito e tolerância que a nossa ordem sempre defendeu”, reiterou Edi Rama.
O novo microestado terá uma administração própria, passaportes e fronteiras independentes, funcionando como uma entidade autónoma dentro do território albanês. Este feito extraordinário reflete um desejo de criar um espaço onde os princípios da paz, amor e bondade estejam no centro das decisões governamentais. Segundo Baba Mondi, o líder espiritual da Ordem Bektashi, o estado será guiado por valores espirituais profundos, promovendo a paz e o respeito mútuo em todas as suas ações.
Uma história de tolerância e proteção de minorias
A criação deste microestado não surge de forma isolada, mas é o culminar de uma tradição albanesa de proteção e tolerância religiosa. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Albânia destacou-se como um dos poucos países europeus que protegeu a sua comunidade judaica, recusando-se a entregar os seus cidadãos judeus ao regime nazi. Mais recentemente, o país acolheu refugiados afegãos, oferecendo-lhes um porto seguro após a tomada de poder pelo Talibã em 2021.
Este historial de hospitalidade e defesa das minorias sublinha o compromisso da Albânia com a harmonia inter-religiosa, um valor que será ainda mais consolidado com a criação do microestado Bektashi. A Ordem Bektashi, fundada há mais de 800 anos, é conhecida pelo seu papel na promoção da coexistência pacífica e pelo seu espírito de inclusão. A ordem é um exemplo de como as tradições místicas sufis se podem adaptar e florescer em sociedades modernas, ajudando a construir pontes entre diferentes comunidades religiosas.
Um novo marco para a Albânia e para o mundo
O novo microestado será muito mais do que um território físico. Ele simbolizará a diversidade religiosa e cultural da Albânia e será uma mensagem de esperança para o mundo. Num tempo em que o radicalismo e a intolerância parecem estar em ascensão, a criação deste microestado Bektashi pode ser vista como um gesto poderoso em defesa de valores universais como a paz, a tolerância e o respeito pelos outros.
A Albânia, com uma população de cerca de 2,8 milhões de habitantes, tem-se destacado na Europa pelos seus esforços contínuos em promover a coexistência pacífica entre diferentes religiões. Este novo estado liderado pela Ordem Bektashi será, sem dúvida, uma extensão desse legado, funcionando como um farol de moderação e espiritualidade no coração dos Balcãs.
Desafios e perspetivas futuras
No entanto, a criação deste microestado também traz consigo desafios. Um dos principais será garantir que a sua soberania e autonomia sejam respeitadas pela comunidade internacional, enquanto a Albânia continua a desempenhar o seu papel no cenário global. A convivência com as autoridades albanesas e a inserção deste novo estado no contexto europeu serão fatores críticos a observar nos próximos anos.
Além disso, o sucesso deste projeto poderá servir como um modelo para outros países e confrarias religiosas que busquem criar espaços de coexistência pacífica e promoção da espiritualidade. O impacto desta iniciativa poderá ir muito além das fronteiras albanesas, inspirando outros movimentos e nações a promoverem os mesmos valores.
A criação do Estado Soberano da Ordem Bektashi marca um novo capítulo não só para a Albânia, mas também para a história da religião e da diplomacia mundial. Este microestado será um exemplo vivo de como a fé, quando combinada com princípios de inclusão e respeito, pode ser um agente de paz e entendimento entre povos.
Num mundo cada vez mais polarizado, esta iniciativa da Albânia é uma prova de que a tolerância religiosa e a coexistência pacífica continuam a ser não só possíveis, mas também essenciais para o futuro da humanidade.