A história de Portugal no final do século XV foi marcada por eventos dramáticos e decisivos, com figuras centrais como o Príncipe D. Afonso, herdeiro do trono, e seu pai, D. João II, conhecido como o “Príncipe Perfeito”. Os acontecimentos que envolveram a morte prematura de D. Afonso e o falecimento de D. João II moldaram profundamente o destino da monarquia portuguesa e da Península Ibérica.
A breve vida de D. Afonso de Portugal
Dom Afonso nasceu a 18 de maio de 1475, em Lisboa, sendo o único filho de D. João II e de D. Leonor. Desde cedo, foi preparado para herdar o trono de Portugal, recebendo uma educação esmerada e carregando as expectativas de continuidade e expansão do poder real.
A devoção de seu pai era tamanha que D. João II decidiu dar o nome “Príncipe” à ilha mais pequena do arquipélago de São Tomé e Príncipe em sua homenagem.
Com apenas 14 anos, D. Afonso foi casado por procuração com a princesa Isabel de Aragão, filha mais velha dos Reis Católicos. Este casamento, celebrado com grande pompa, representava não apenas a união de duas grandes casas reais, mas também o prenúncio de um possível sonho ibérico: a fusão das coroas de Portugal, Castela e Aragão.
Caso o casal gerasse descendência, seria criada uma superpotência peninsular liderada por Portugal, dado que a princesa Isabel era a herdeira mais provável das coroas espanholas.
A tragédia que mudou o curso da história
O sonho de união ibérica, no entanto, desmoronou em circunstâncias misteriosas. A 13 de julho de 1491, D. Afonso faleceu após uma queda de cavalo durante um passeio em Alfange, Santarém, à beira do rio Tejo. A única testemunha do incidente foi o seu aio castelhano, que fugiu para Castela no próprio dia, levantando suspeitas sobre a possibilidade de um assassinato político.
Embora nunca comprovada, a teoria de conspiração ganhou força, dado o interesse estratégico dos Reis Católicos em impedir a anexação de Castela e Aragão por Portugal.
A morte do jovem príncipe foi um golpe devastador para D. João II e para a rainha D. Leonor. As exéquias realizadas no Mosteiro da Batalha foram marcadas por manifestações de luto extremas, típicas da época, simbolizando o desespero pela perda do herdeiro.
Sem filhos legítimos sobreviventes, o trono ficou sem sucessor direto, abrindo caminho para profundas mudanças dinásticas.
O ocaso do Príncipe Perfeito
Após a morte de D. Afonso, esclarece a VortexMag, D. João II enfrentou uma série de desafios pessoais e políticos. A saúde do monarca deteriorou-se rapidamente, possivelmente devido ao impacto emocional da perda do filho.
Nos anos seguintes, procurou incessantemente soluções para os seus padecimentos, viajando por diversas partes do reino. Em 1495, os sintomas da sua doença agravaram-se, com inchaços que o impediam até de segurar uma pena para assinar documentos, levando-o a usar uma chancela em ouro.
Apesar das dificuldades, D. João II manteve-se ativo até ao fim, tomando decisões cruciais para o futuro do reino. Designou o seu primo D. Manuel, Duque de Beja, como sucessor ao trono, após infrutíferas tentativas de legitimar o seu filho bastardo, D. Jorge.
Também nomeou Vasco da Gama como comandante da expedição que abriria o caminho marítimo para a Índia, um ato visionário que solidificaria Portugal como uma potência marítima global.
A 25 de outubro de 1495, aos 40 anos, D. João II faleceu em Alvor, no Algarve, após ter organizado meticulosamente os preparativos para a sua morte. Segundo relatos, enfrentou o fim com coragem e serenidade, recusando prantos e lamentações. Quando a notícia de sua morte chegou a Isabel de Castela, esta teria dito: “Morreu o Homem.”
Reflexos históricos
A morte de D. Afonso e, poucos anos depois, de D. João II, marcou o fim de uma era. O reinado do “Príncipe Perfeito” foi sucedido por D. Manuel I, o “Venturoso”, que herdou um reino em expansão, mas também um trono fragilizado pelas perdas recentes.
O sonho de uma união ibérica sob liderança portuguesa desfez-se, mas as ações de D. João II, especialmente no campo das navegações, lançaram as bases para o apogeu do Império Português nos séculos seguintes.
Estas tragédias, embora devastadoras, destacam a resiliência de uma nação que soube transformar os seus infortúnios em novas oportunidades, traçando um dos capítulos mais fascinantes da história de Portugal.