A história de Portugal é fascinante e hoje falaremos do falso rei. Conheça o “novo” D. Sebastião, o Ermita que surgiu na Ericeira e quis ser Rei de Portugal!
Na história de Portugal não faltam acontecimentos curiosos, nomeadamente no tempo dos Reis e das Rainhas que centravam todas as atenções. São vários os episódios que demonstram que há sempre muito para se conhecer sobre a história, por muito que já se conheça. Muitos manuais de história são feitos no sentido de engrandecer o passado histórico do país, dando natural primazia a eventos de grande relevância para o crescimento do país.
No entanto, muitos pequenos e singulares acontecimentos representam curiosidades irresistíveis, que comprovam como os reis e as rainhas são pessoas de carne e osso, com virtudes e defeitos, com sonhos e ambições. Há ainda sonhos desfeitos, desamores, traições e muitos momentos insólitos.
O NCultura dará destaque a momentos menores que não engrandecem a história de Portugal, mas que não deixam de ter interesse. Neste artigo, centraremos a nossa atenção do Rei D. Sebastião ou talvez não…
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Reis de Portugal: O falso rei. O Ermita disfarçou-se de D. Sebastião!
O contexto
Portugal vivia um contexto delicado na época. O “desaparecimento” de D. Sebastião em Alcácer Quibir fragilizou a nação. O seu sucessor acabou por ser o seu parente mais próximo, o tio-avô D. Henrique que era Cardeal e já idoso.
Naturalmente, o Rei-Cardeal, religioso e idoso, não tinha mulher e também não tinha filhos. D. Henrique foi o quinto filho do rei Manuel I, filho da segunda esposa do rei, Maria de Aragão e Castela. Ele foi filho, irmão e tio-avô de reis, mas a sua ambição era religiosa. Pretendia ser papa. D. Henrique I, “o Casto”, tornou-se o “o Cardeal-Rei”, Rei de Portugal e Algarves. Foi décimo sétimo Rei de Portugal. Morreu em 1580, sem herdeiros diretos, criando uma crise de sucessão.
D. Catarina de Bragança, D. Filipe II de Espanha e D. António, Prior do Crato, eram os nomes que poderiam assumir a Coroa Portuguesa, que acabou por ficar no Rei Espanhol, que se tornou Filipe I, Rei de Portugal. Neste contexto de domínio espanhol, os portugueses criaram o mito de que “num dia de nevoeiro apareceria D. Sebastião, o Salvador”. Assim, tornou-se natural o aparecimento de alguns falsos D. Sebastiões.
O Ermitão
O que é um ermitão? Este termo vem do latim eremitānu-, com o mesmo significado. É um nome masculino que significa encarregado de uma ermida. Este termo, que também pode ser escrito como eremitão, na religião é referente ao religioso que não vive em comunidade, preferindo viver num lugar isolado (ermo); é um eremita.
No feminino, diz-se de uma pessoa que eremitã, eremitoa, de uma pessoa que seja identificada da mesma forma. Na Ericeira (muito antes desta ser considerada um destino de sonho para surfistas), um homem representou a esperança.
O falso D. Sebastião
Mateus Álvares nasceu na Praia da Vitória, nos Açores. Ele era filho de um pedreiro e não tinha sangue azul. A vida religiosa possibilitou que ele fosse para Portugal Continental. Depois de passar por Óbidos, passou pelo Convento de Santa Cruz, em Sintra.
Era reconhecido como o Ermitão, pois abandonou o Convento de Santa Cruz e refugiou-se numa gruta em São Julião, a sul da Ericeira, a apenas 3 kms, e que por lá viveu ao longo de vários anos.
Era um homem magro e ruivo com parecenças com D. Sebastião, por isso decidiu tentar tirar proveito dessas parecenças. Um proveito que não o tornou no Rei de Portugal, mas que pode ter contribuído para que Mateus Álvares se tornasse rei da Ericeira…
Oportunidade
Num tempo muito diferente do atual, sem fotos, sem vídeos, sem imagens espalhadas por todo o lado, as confusões surgiam com facilidade e rapidamente adquiriam outras proporções. Os Reis na época eram as pessoas mais importantes do país. Nos dias de hoje, as pessoas com essa relevância são vistas ao pormenor, várias vezes por dia.
As parecenças com D. Sebastião representavam uma oportunidade. Mateus Álvares percebeu que a própria população segredava que talvez ele fosse mesmo D. Sebastião. A boa nova espalhou-se e ganhou dimensão. Num momento em que a população local avaliava a possibilidade de ele ser o rei, ele aproveitou a oportunidade. Será que aquele é “O Desejado”, regressado numa noite de nevoeiro?
Como se sabe, D. Sebastião “desapareceu” na Batalha de Alcácer-Quibir. O mito de que ele regressaria numa noite de nevoeiro estava instalado.
O desenlace
Mateus Álvares alinhou na história e aproveitou o momento para reclamar o trono. O “novo D. Sebastião” casou com Ana Susana, que era filha de um lavrador. Ele colocou na mulher uma tiara roubada de uma igreja, de uma imagem religiosa.
O “novo D. Sebastião” assumiu o papel e exigia que lhe beijassem a mão e sentia grande prazer em ser tratado como rei, naturalmente. Ele ainda conseguiu reunir um pequeno exército, que naturalmente estava desorganizado e muito mal armado. Não é algo que seja surpreendente, mas tamanha ambição levou-o à morte.
Ele ainda conseguiu fazer com que os seus militares amadores vencessem pequenas batalhas contra o ocupante espanhol. Contudo, o inimigo era mais forte, estava em maior número e tinha outro poder bélico.
O “novo D. Sebastião”, Mateus Álvares, acabou por ser capturado e entregue ao rei Filipe II. O falso D. Sebastião foi decapitado e esquartejado. A mão direita, com a qual assinou alvarás reais, foi cortada e pendurada numa porta para que os portugueses a vissem e reconhecessem que o Rei Filipe II de Espanha (que se tornou Rei de Portugal, Rei Filipe I, o primeiro da dinastia filipina, que durou 60 anos) não iria tolerar ousadias. O “novo D. Sebastião” morreu a mando das tropas de D. Filipe II, a 13 de junho de 1585.
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